V.

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Daniel Seavey.

Minha cabeça doía de uma forma que não conseguia explicar. O professor de química falava tantas coisas ao mesmo tempo que eu sequer conseguia processar tudo. Hoje o dia tinha amanhecido mais frio que o normal, o que fazia com que as janelas ficassem um pouco embaçadas e molhadas. A sala em si tinha uma temperatura tranquila, já que o ar condicionado estava ligado. Quando o sinal finalmente tocou, me levantei para buscar alguns livros no meu armário. Como de costume, dei uma olhada no meu celular enquanto andava pelo corredor.

— Porra, de novo? – ouvi um resmungo assim que trombei com uma garota de cabelos pretos. — Vem cá, loirinho, você não olha por onde anda não?

— Calma bonitinha... – respondi rindo. — Tem gente que daria tudo para trombar comigo no corredor, viu? – me agachei e juntei os livros que ela havia derrubado. Do meio de um deles, havia caído um papel falando sobre uma competição de patinação. — Você patina? Tipo, no gelo?

— Não te interessa. – ela arrancou o papel da minha mão e os livros também. — Começa a olhar por onde anda porquê já estou perdendo a paciência de trombar com você. – a morena falou e saiu andando.

— Pelo menos me diz seu nome! – ergui a voz, já que ela estava se afastando. Recebi um dedo do meio como resposta e acabei soltando uma risada fraca.

Durante à tarde, teríamos treino de hóquei. Eu estava pronto para começar mais uma temporada massacrando os outros times. O problema era que aquilo não dependia só de mim, mas dependia de todos os garotos do time. Era completamente difícil dar o melhor de si sozinho e ninguém mais te ajudar. Por muito pouco, não perdemos o último jogo e ficamos fora da competição Estadual. Graças ao gol de Corbyn, conseguimos nos classificar. De qualquer forma, eu esperava muito que todo mundo colaborasse comigo esse ano.

Não almocei naquele dia. Saí direto da última aula e fui para o ginásio que ficava a algumas quadras do colégio. Entrei nos vestiários, coloquei meu uniforme e peguei meu taco. O disco de borracha estava no centro do ringue de patinação. Meus patins fizeram um barulho agudo quando tocaram o gelo. Respirei fundo e comecei a aumentar a velocidade com que corria quando vi que já estava acostumado com o gelo.

— Treinando sozinho? – uma voz grossa veio do lado de fora do ringue. Virei-me e vi meu pai, vestido com um terno preto. Suas mãos levavam alguns anéis e seus cabelos meio grisalhos penteados de uma forma perfeita.

— Jeffrey. – resmunguei e fui patinando até a porta de saída do ringue. — Não sabia que estava na cidade. – falei quando estava perto dele.

— Sim... Vim ver algumas propriedades. – ele respondeu, dando de ombros. — E seus irmãos?

— São seus filhos também, você pode muito bem ir visita-los. – respondi seco e recebi um olhar fechado sob mim. — Estão bem. Muito bem. – falei e abaixei a cabeça.

— E sua mãe? – meu pai indagou, tirando a carteira do bolso.

— Ótima. Mais feliz do que nunca. – respondi e mexi no cabelo.

— Fico feliz. Tome. – ele estendeu um cartão para mim. — Sua cópia do meu cartão. Use para o que precisar.

— Eu não quero seu dinheiro, pai.

— Pois devia querer. Estou te liberando o meu cartão com maior limite. Vamos, Daniel, não seja bobo. – ele continuou esticando o cartão em minha frente e eu peguei. — Muito bem. Agora preciso terminar de fazer meus trabalhos por aqui e voltar para minha cidade. Foi bom te ver, filho.

— É... bom te ver também, pai. – falei, mas provavelmente ele não escutou pois já estava longe.

Meu pai vinha até Minnesota apenas para ver como estavam suas propriedades e para datas comemorativas, isso quando nós não íamos para Toronto e ele evitava de ver minha mãe. Eles se separaram quando eu tinha 6 anos. Foi uma infância infernal, mas agora eu estava superado. Bem, superado não, mas agora eu conseguia conversar com meu pai pelo menos. Até os 12 anos eu sequer queria saber dele. Foi com essa idade que conheci o hóquei e depois disso nunca mais parei de jogar. Na verdade precisava agradecer meu pai por isso, por que, se não fosse pela minha raiva dele, eu nunca teria começado a jogar.

Alguns minutos depois, os garotos do time chegaram e o técnico também. Passamos literalmente a tarde toda treinando e fazendo exercícios. Ao fim do dia, eu não sentia mais minhas pernas.

Como sempre, eu era o último a ir embora do ginásio. Estava no vestiário, tomando meu banho, quando ouvi o técnico.

— Eu acho que você vai gostar de treinar aqui. Foi a Rose que mandou eu te apresentar tudo por aqui, certo? – ouvi e desliguei o chuveiro, para poder ouvir melhor a conversa.

— É, eu trabalho com um velho amigo dela que disse que conversaria com ela... Eu prometo que não vou incomodar seus treinos, técnico Monroe, eu vou vir treinar apenas depois do meu expediente. – uma voz feminina disse e ela parecia animada.

— Fique tranquila, Nora, você pode treinar quando quiser aqui. Só deixe sempre avisado ao porteiro, porquê se não ele esquece de fechar tudo. Bem, eu vou indo e vou te deixar conhecer um pouco do ringue. Divirta-se. – ele terminou de falar e eu ouvi seus passos se afastando.

Enrolei uma toalha na cintura e saí andando quietinho, pois havia alguém no vestiário.

cold as ice ⌗ daniel seavey.Onde histórias criam vida. Descubra agora