XLV.

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Daniel Seavey.

Era realmente necessário chamar o Scott? – fechei a porta da casa assim que Nora entrou.

— Sim? – ela fez uma careta como se fosse óbvio. — Kaia praticamente se auto-convidou. Você queria que eu fizesse exata o quê? – Nora revirou os olhos e eu fiz o mesmo.

— Esse Scott está doido pra te pegar e nem esconde. E o pior, você está dando trela.

— Sim Daniel Seavey eu estou dando trela, é isso que você quer ouvir? Porra, ele é meu amigo. A gente conversa unicamente sobre livros! Para de ser chato! – Nora foi até a cozinha e eu a segui.

— Tá vendo? Por que você não fala sobre livros comigo? – apontei para meu peito.

— Você lê algum livro, Daniel? – ela apoiou a mão na bancada e arqueou as sobrancelhas.

— Não... – resmunguei.

— ENTÃO COMO VOU FALAR SOBRE LIVROS COM VOCÊ? – Nora ergueu os braços, dando a entender que estava brava.

— Ai Nora... Ele é melhor que eu em todos os sentidos... Até o cachorro dele é mais bonito que o meu! – falei e Kobe apareceu, sentando-se ao meu lado. — Sem ofensas, meu vira-latinha! – disse e ele grunhiu.

— Acorda Daniel, para com esse ciúme bobo! Primeiro que a gente prometeu que não teria mais isso... Segundo, não temos nada e você sabe.

— A gente não tem nada porquê você não quer ter nada.

— Quantas vezes já disse que precisamos ir com CALMA, Daniel? – Nora falou e respirou fundo.

— Tá ok... – abaixei a cabeça e olhei para meus pés. A porta principal se abriu e nós voltamos para a entrada. Anna, Kath e Corbyn estavam com algumas bebidas e salgadinhos nas mãos. Kaia e Scott estavam logo atrás deles.

— Os encontramos aqui em frente. – Corbyn disse, já indo para a cozinha.

— Caramba... – Kaia falou enquanto passava os olhos pela entrada da casa. — Vocês moram em quantos aqui?

— Cinco. Eu, minha mãe, Anna, Nicholas e Katherine. – falei e dei de ombros.

— Isso aqui parece um castelo... – Scott disse e Nora riu fraco.

— Quer conhecer o calabouço? – falei, irônico.

— Parece que já conheci o bobo da corte. – ele falou e soltou um sorriso. Kaia colocou a mão na boca para esconder a risada e Nora arregalou os olhos.

— O que é que voc... – dei um passo para perto de Scott mas fui interrompido.

— CERVEJAAAAAA! – Corbyn berrou e enfiou o balde no meio de mim e Scott.

— Vamos pra sala. – Nora saiu me puxando e todos os outros nos seguiram.

— Pelo amor de Deus Daniel... Nora cochichou e revirou os olhos.

Eu nem tinha feito nada. Scott havia me provocado e eu ainda era o errado. Sério, eu odiava ele.

Todos sentaram-se nos sofás espalhados por todos os cantos da sala. Scott fez questão de sentar ao lado de Nora e Kaia sentou-se ao meu lado, já que Corbyn e Katherine ocuparam um sofá inteiro e Anna a poltrona.

— Ei. – Kaia disse e me entregou uma garrafa de cerveja. Meus olhos não desgrudavam de Nora e de Scott, que conversavam como se mais ninguém tivesse na sala. — Eu sinto muito por tudo o que aconteceu entre nós. Você é um cara legal e eu acabei passando do ponto. – voltei os olhos para a loira em minha frente. — Eu sei que você e Nora estão juntos e...

— Não estamos juntos. Somos apenas amigos. – bufei e dei um gole na cerveja.

— Oh. Melhor pra mim. – Kaia sussurrou e eu fingi que não escutei.

— O que disse? – arqueei a sobrancelha.

— Nada. Pensei alto. – ela falou e sorriu fraco. — Parece que ela e meu primo se dão bem, não? – a loira olhou para eles e Nora estava rindo incontrolavelmente.

— Qual é a dele? Ele é tipo... um prodígio? – perguntei e Kaia riu.

— Mais ou menos isso. Scott é o filho perfeito, aluno perfeito, namorado perfeito. Ele é incrível, e eu não estou falando isso porquê sou prima dele. – Kaia fez uma pausa e deu um gole na própria cerveja. — No ensino médio ele era capitão do time de futebol americano. Ele era super amável e querido. Os amigos dele todos estudam direito, administração e até mesmo engenharia civil. Ele quis artes porquê achava que tocava mais o lado sensível dele. Ele é tipo...

— Ele é o cara perfeito, né? – falei e olhei para eles. Scott tinha sua mão segurando a de Nora e eu senti meus olhos marejarem.

Eu realmente estava me sentindo um merda. O cara era perfeito em tudo, ele realmente não tinha defeitos. Empático, bonito, inteligente. Ele era tudo o que eu não era.

Deixei uma lágrima escapar e Kaia correu para enxuga-la.

— Não chore. Você é incrível, Daniel. Se alguém não percebe isso e te faz de indecisão, então esse alguém não te merece.

Respirei fundo e sorri, como forma de agradecimento a Kaia. Talvez no fundo ela fosse uma pessoa legal, talvez um pouco incompreendida apenas. Puxei Kaia para um abraço e vi o olhar de Nora me dando um murro. Quando me afastei, Nora levantou-se e veio até mim.

— Daniel, posso falar com você um pouco? A sós. – ela disse e eu concordei.

Fomos até a biblioteca, aonde eu fechei a porta e ela me encarou. Seus olhos estavam meio vermelhos e seu rosto corado, provavelmente por causa da cerveja. Nora não era acostumada a beber.

— Por que você estava abraçado com ela?

— Porque ela é minha amiga.

— Sua amiga? Olha tudo o que ela causou entre nós.

— Nós, Nora? O nós existe agora? – falei e ouvi ela engolir seco. — Você vem até minha casa, convida um cara que é, porra, um gostoso, inteligente, bonito, empático e tudo mais que você imaginar e você quer vir falar de nós porque eu estava abraçando a única pessoa que se solidarizou para me apoiar enquanto VOCÊ – apontei para ela — me largou? Ah, vamos Nora. Você não é nenhuma criança. Você sabe que eu moveria mundos por você e simplesmente não aceita isso. – esfreguei as mãos na cara. — Porra, Nora, eu falei com meu pai, que é a pessoa que eu mais odeio no mundo, só pra conseguir um emprego pra sua mãe porque te amo e me preocupo com você. Sim, Nora, eu te amo, amo muito e você não percebe isso. Eu não aguento mais isso. – Nora estava de boca aberta. Nada saía. Ela estava com os olhos marejados e respiração acelerada. — Eu preciso saber, Nora. Você me ama? – me aproximei e olhei no fundo dos olhos dela.

— Daniel... Eu... – ela gaguejou.

— Nora, você me ama? – segurei os braços dela. Ela fechou os olhos e algumas lágrimas rolaram. O silêncio daquela biblioteca era ensurdecedor. — Entendi. Acabou, Nora. Não seremos amigos, não seremos nada. Por favor, vai embora.

— Daniel, eu... – ela falou e eu abri a porta da biblioteca.

— Vai embora, agora, Nora. – eu disse e ela saiu.

Bati a porta da biblioteca e pude ouvir algo como "Scott, você pode me levar embora?" vindo da sala.

Respirei fundo e deixei algumas lágrimas que estavam em meus olhos rolarem. Eu estava cansado de me entregar e não receber nada em troca. Eu só estava cansado.

— Mais uma cerveja? – ouvi por detrás da porta. Abri a mesma e Kaia segurava uma garrafa. — Acho que você está precisando. – ela disse, com um sorriso fraco.

Peguei a cerveja de sua mão e a agradeci com meu melhor sorriso.

cold as ice ⌗ daniel seavey.Onde histórias criam vida. Descubra agora