"Risya, Risya"
Vozes sussurravam o meu nome de forma persistente. Eram as vozes que vinham da árvore da vida, trazidas até mim pelo vento que soprava na minha direção. O meu cabelo encaracolado se esvoaçava com o vento, e os fios escuros emaranharam a frente do meu rosto.
Eu dei alguns passos em frente ignorando os avisos persistentes de Cyrus, que por algum motivo não queria que eu me aproximasse da árvore da vida. E pela primeira vez olhei ao meu redor e fixei na minha mente os contornos do quintal que se estendia à minha frente. As raízes da árvore se sobressaiam da terra e se estendiam ao seu redor. Raízes grossas contornavam o quintal transformando-o numa fortaleza impenetrável onde ninguém conseguia entrar nem sair.
Continuei a caminhar até que me encontrei demasiado próxima da árvore da vida, toquei no tronco e as vozes ecoaram ainda mais alto, como se me estivessem a dar as boas vindas. O vento soprou ainda mais forte ao meu redor e as folhas vibraram como se também estivessem a comemorar a minha chegada.
Um tremor se sentiu ao nosso redor e o céu escureceu de repente. A árvore iluminou-se com uma aura branca e uma voz se fez ouvir forte e tempestuosa.
- Bem-vinda Sacerdotisa. Eu estive tanto tempo esperando que retornasses a esta terra. - disse a voz do ser que habitava na árvore. Ele falava como se já me tivesse conhecido antes.
Dei um passo atrás ao ver uma figura a sair de dentro do mesmo e ficar à minha frente. O seu corpo pareceria ser de um humano se não fosse pelo terceiro olho, que estava fechado, na sua testa virado na vertical. Dois chifres se sobressaiam um de cada lado da sua cabeça e tatuagens estranhas decoravam o seu rosto e partes visíveis do seu corpo.
- És o espírito devorador de almas que habita dentro da árvore. - disse assustada
- Eu sou Abraão, um demônio preso a esta árvore por um feitiço lançado por uma fada há muito tempo atrás. Não tenhas medo, aproxima-te. - Ele falou e aproximou-se de mim mas, eu instintivamente recuei-me assustada. Uma dor trespassou o seu olhar. Como se ele se sentisse magoado por eu o temer. - Por favor, aproxima-te.
O meu instinto me dizia para correr mas algo dentro de mim me dizia para aproximar-me. Um sentimento estranho me apertava o coração e me incentivava a ir ao seu encontro. Eu dei um passo em frente e ele estendeu o seu braço na minha direção. Eu levantei a minha mão para ir ao encontro dele, que estava estendida para mim, me convidando a tocá-lo.
No momento que as nossas mãos tocaram uma sensação de conforto me preencheu e o medo desapareceu e foi substituído por um novo sentimento. A minha mente foi levada para longe de mim, num sonho ou recordação distante.
Eu não estava no quintal do palacete mas noutro lugar desconhecido. Alguém me carregava nos seus braços, me mantendo segura e aninhada no seu colo quente. A pessoa cantarolava uma canção de adormecer para bebés. Eu me sentia pequena e frágil como se eu própria fosse um bebê.
Eu queria desesperadamente continuar naquele sonho. Eu queria saber mais. Quem era aquela pessoa. Seria a minha mãe, ou o meu pai? Eu não conseguia ver. Estava tudo tão desfocado…
Subitamente voltei ao palacete, Cyrus estava ao meu lado com os olhos dourados a brilhar intensamente. Ele agarrou-me e puxou-me para longe do espírito da árvore. Rapidamente, depois de estarmos longe, ele fez um feitiço rápido e colocou a sua mão no chão e uma barreira apareceu ao redor da árvore mantendo o espírito longe de nós. Ele continuava no mesmo local com os seus olhos tristes presos em mim.
Porque ele me olhava assim?
Não tive tempo de pensar mais no assunto pois Cyrus agarrou-me pelos ombros e me sacudiu enfurecido.
- Humana estúpida! - gritou ele, o seu rosto estava vigorosamente contorcido numa careta furiosa e preocupado - O que te passou pela cabeça?
- Desculpa - murmurei, mas ele não ouviu, estava demasiado enfurecido.
- Queres morrer? - vociferou
As suas mãos estavam dolorosamente apertadas sobre os meus ombros. Eu me contorcia para me libertar, sem entender o porquê dele estar a ter aquela reação tão exagerada.
- Estás a magoar-me. - ele apertava o meu corpo com tamanha força que eu contraí-me de dor. Fechei os meus olhos naquele momento, eu queria que ele parasse. Gritei enfurecida e pela primeira vez senti uma energia estranha a ser emanado do meu corpo. - Tira as tuas mãos de cima de mim.
Abri os meus olhos no momento que o corpo dele foi arremessado para longe de mim. Uma explosão de energia mágica saiu das minhas mãos na sua direção. Cyrus conseguiu desviar-se no último segundo e olhou-me com espanto. Mas a bola de energia continuou o seu caminho na direção da árvore da vida, e desfez a barreira recém feita pelo Cyrus.
O espírito levantou a sua mão e criou um portal escuro à sua frente que absorveu a bola de energia mágica que eu tinha lançado instintivamente.
- Uau! - Saeran que esteve o tempo todo calado a observar, finalmente se manifestou. - Quem diria que a humana teria todo esse poder escondido dentro dela.
Cyrus lançou-me um olhar inquisidor.
- Parece que eu te subestimei, humana.
Olhei para as minhas mãos, eu estava paralisada no mesmo local em choque. Levantei a minha cabeça ao ouvir uma gargalhada na minha frente. Era Abraão, os seus olhos estavam arregalados e o sorriso nos seus lábios era gélido. Como se ele estivesse com algum plano maquiavélico na sua cabeça. Quando os nossos olhares se cruzaram um calafrio percorreu o meu corpo, e os pelos da minha nuca arrepiaram-se.
~
Olá a todos. Aqui esta mais um capítulo. Apartir de Agora darei um tempo maior entre as postagens dos capítulos. Tenho menos tempo nessas alturas e a história está a entrar numa fase desenvolvimento onde muitos acontecimentos importantes irão acontecer e isso exige muito de mim, então não conseguirei postar todas as semanas como fazia antes.
Desejo a todos felicidades nesses dias de festas. E bom final de ano.
Não se esqueçam de deixar os seus votos e comentários no final de cada capítulo.
Beijinhos 😘
VOCÊ ESTÁ LENDO
AS CRÔNICAS DE ANTALYA [Em Pausa ⏸]
MaceraO que farias se fosses sugada para dentro de um livro de fantasia? Sobre o olhar atento de Risya, uma adolescente de dezoito anos, o pôr do sol se desenrola como uma história a ser contada apenas a ela. A garota mal sabia que aquele seria o último...