Lucy é uma garota de 16 anos que nasceu no Brasil em um dos piores momentos possíveis: Ditadura Civil-Militar. Ela precisou lidar com medos, traumas e a perda do seu tio preferido. Por pior que fosse a sua situação, o emprego dos pais dela a permiti...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
POV: THEO
Todas as casas da rua estavam iluminadas e cheias de enfeites de natal, menos a minha, quase como uma metáfora estranha. Eu deveria estar chegando em Nova York hoje a tarde, mas como as coisas tendem a dar errado para mim... estou sentado na varanda vendo as crianças da rua fazerem bonecos de neve.
Todo fim de ano eu passo com minha mãe, esse é o único luxo que recebo dela, mas não reclamo. Ontem ela ligou para o meu pai avisando que eu não poderia ir esse ano porque ela já está nos últimos estágios da gravidez e pode entrar em trabalho de parto a qualquer momento. Meu pai não me disse muito, na verdade nem acredito que ele tenha prestado atenção em qualquer explicação que ela possa ter dado, mas acredito que ela não queria que eu fosse só para ficar em casa com ela... Mas eu queria, ia amar poder ficar e ajudar a cuidar dela. Agora é tarde demais.
Assim como todo ano, a empresa do meu pai faz uma festa de natal para todos os solteiros e bêbados que não tem lugar melhor para passar o fim do ano, ou seja, o lugar perfeito para um idiota como o meu pai. Ele viaja dia 22 e volta dia 3 de janeiro, e ele faz isso todo ano, até quando ele ainda era casado com minha mãe. E para melhorar minha situação, Ms. Haylee vai passar as festas de fim de ano com sua família em Vernon, que fica em North Okanagan, a quase 5 horas de distância de Vancouver.
- Já disse que não vou deixar você passar o natal sozinho nessa casa, vou ficar e fim de conversa. - Ela tentou ficar, mas Ms. Haylee já faz demais por mim, não vou tirar seu natal em família só porque a minha não faz questão de estar comigo.
-Não vai não, a última vez que a senhora visitou sua família foi em Março, eles devem estar sentindo sua falta também. Vá e se divirta muito, e descanse também. - Ms. Haylee beija minha testa e tenta arrumar meu cabelo que está muito grande.
- Está bem, mas quando eu voltar eu vou te levar no barbeiro, ontem a moça do supermercado perguntou se você era minha filha.
-Nem comece, já disse que não vou cortar. Lucy disse que gosta do meu cabelo grande assim. E se a Ms. Dawson achou que eu sou sua filha eu me sinto lisonjeado porque a senhora é linda. - Ms. Haylee ri quando eu tento beijar sua mão.
-Ora, Theo! Pare já com essa palhaçada. Vou terminar de organizar umas coisas antes do jantar.
Vou para meu quarto separar todos os filmes de natal que tenho para assistir, não é porque vou estar sozinho que preciso estar triste e miserável, não é mesmo? Mas provavelmente vou estar.
Ponho os filmes na mesa e guardo todos os meus materiais escolares na estante, só pretendo pegar em um livro em 1987.
