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POV: LucyOs dias passaram rápido demais e as aulas já começam amanhã. Meu pai viajou ontem a noite porque precisavam dele na embaixada em Toronto, o que o deixou chateado já que ele estava preocupado comigo. Meu pai tira uma foto em todos os meus primeiros dia de aula e põe em um álbum. Eu sei que é idiota mas pra ele isso é muito importante, ele diz que vai ser meu presente de despedida para quando estiver indo para faculdade.
Finalmente saio do meu quarto, ainda de pijama. Minha mãe está de folga hoje, e separou o dia pra poder ajudar meu pai com a decoração da casa. Ele deixou instruções bem específicas de como ele queria cada cômodo. Ela está decorando a nossa pequena biblioteca/escritório.
- bom dia.- Digo, pegando ela de surpresa.
- Eu não sei como seu pai acha que eu vou conseguir por isso daqui. Já tentei umas três vezes e continua torto.
- Ele quer uma mini bandeira do Brasil na parede? Você não acha que isso é patriota demais pra quem acabou de fugir do próprio país?
- Nós não fugimos, Luciana. - Ela só me chama assim quando está me repreendendo. Ela me encara e eu desvio o olhar para os meus pés, não disse por mal ou para chateá-la.
- Não diga que fugimos, você sabe muito bem o motivo de termos vindo pra cá. Nós queremos uma vida melhor pra você, queremos que você seja livre pra fazer e dizer o que quiser.
- Eu sei, desculpa. - E assim demos início a mesma discussão desnecessária e desconfortável de sempre.
- Não importa se estamos no Canadá, na China ou na Austrália, nós somos brasileiros. Nós amamos nosso país e a nossa língua, amamos tudo. Agora venha aqui e me ajude a deixar essa bandeira reta.
Eu acho que passamos 20 minutos tentando arrumar a porcaria da bandeira, mas sempre ficava torto. Minha mãe desiste e vai ver televisão. Enquanto isso, resolvo terminar de decorar meu quarto. Penduro alguns posters na parede, tinha dois do Nirvana que ganhei do meu tio, um do Elvis, algumas fotos da Whitney Houston e figurinhas de HQs e desenhos animados que resolvi pôr também.
Depois, organizo meus livros na minha prateleira. Tenho uma coleção de clássicos da literatura brasileira, mas também tenho vários livros em inglês: a coleção de Sherlock Holmes, todos os romances da Jane Austen, alguns livros do Júlio Verne e alguns livros do Shakespeare que ganhei da minha avó, Guadalupe. A família do meu pai é espanhola, por isso eu tenho uma avó extremamente conservadora que acha que eu sou a única esperança dela ter um herdeiro digno da sua herança.
Meu pai e meu tio foram deserdados no minuto em que tio Alex se assumiu gay, e meu pai deu todo apoio que meu tio precisava já que ele sabia como a família dele iria lidar. Inclusive, essa é uma das histórias mais engraçadas que já ouvi, mas acho que a graça estava no jeito em que meu tio a contava.
Ele resolveu se assumir no natal, ele tinha 19 anos e meu pai tinha 22. Tio Alex sabia que ia acabar sendo expulso de casa então ele esperou até meu pai ter um emprego e um apartamento. Bom, resumindo, o peru de natal foi jogado pela janela e meu tio avô acabou com o nariz quebrado, e teve que ir a emergência vestido de papai Noel. Não lembro bem dos detalhes da história mas tenho certeza que meu pai lembra. Afinal, como esquecer uma noite como essa?
Hoje é domingo, ou seja, a essa hora amanhã eu vou estar dentro de um ônibus escolar rodeada de estranhos, a caminho de um lugar onde eu não conheço ninguém. Minha ansiedade ataca e preciso me distrair com alguma coisa.
Estou a quase duas horas sentada no balcão da cozinha esperando meu pai me ligar, ele prometeu que ligaria hoje. Enquanto espero, eu tento terminar de ler meu livro. Estou a quase duas semanas enrolando pra terminar esse capítulo. O Sol é para todos se tornou um dos meus livros favoritos, espero terminar ainda hoje.
Meu pai finalmente me liga.
- Você está atrasado.
- Bom dia pra você também, Lucy. - Ele muda o seu tom alegre para uma voz preocupada. - Filha, eu acho que não vou conseguir voltar amanhã.
- Por que não? Aconteceu alguma coisa?
- Eu tive um probleminha com a última transação que fiz e agora vou precisar ficar por mais tempo, ainda hoje eu tenho mais duas reuniões e entregar um monte de papelada. Avise a sua mãe, tá bem?
- Pode deixar, eu falo com ela assim que ela voltar do supermercado. Mas você tem certeza que está tudo bem, né?
- Está sim, eu vou tentar resolver isso o mais rápido possível, se eu não conseguir o caso vai ser encaminhado para o departamento da sua mãe e nós dois vamos ficar presos em Toronto.
- E eu iria tirar uns dias de folga de vocês dois, talvez eu até desse uma festa se eu tivesse amigos aqui. - Eu brinco, mas ele está sério demais para notar. -Não se preocupe com isso, pai. Eu já fiquei sozinha em casa milhões de vezes.
- Mas não em cidades diferentes, onde não temos parentes ou amigos que possam ficar de olho em você. Mas isso não vai ser necessário, eu vou resolver isso e devo estar de volta em uma semana, é uma transição muito importante e tem muito dinheiro em jogo. - Ele parece estressado.
- tá bom.
- Eu preciso ir agora, ok? Diga a sua mãe que vou ligar pra ela mais tarde. Te amo, lu.
- também te amo, pai.
Uma hora e meia depois minha mãe volta pra casa. Ela está muito animada com as coisas diferentes que tem aqui na América do norte.
- Lucy, acredita que eles têm Oreo de outros sabores? Eu trouxe uns três sabores diferentes, a gente pode alugar um filme e comer juntas hoje a noite, o que você acha?
- Mãe, ele não vai voltar amanhã- Seu sorriso desaparece.
- Como não? O que aconteceu?- Ela diz enquanto eu a ajudo com as compras.
- Ele disse que teve um imprevisto e que ele vai ligar pra você mais tarde, assim ele pode explicar melhor.
- Ok, então não vai rolar o filme hoje. Por que você não leva um pacote de Oreo pro seu quarto e vai terminar seu livro? Pode ser? Eu tenho algumas coisas do trabalho para resolver também. - Toda a animação que restava some completamente de sua expressão.
- Pode ser. - Eu pego um pacote e vou pro quarto, sento no meu poof e foco na minha leitura.
Quando termino o livro passo um bom tempo chorando , não esperava por esse final. Não sou uma pessoa chorona, mas não me importo em chorar com um bom livro. Eu caio no sono em cima de migalhas de biscoito. Minha mãe me acorda e me leva até minha cama.
Enquanto me aninho no cobertor, noto que ela está arrumando alguns discos que foram propositalmente bagunçados sob a mesinha. Antes de sair do quarto ela volta para arrumar o meu cobertor e me encarar por uns instantes enquanto arruma algumas mechas do meu cabelo que estavam sob meu rosto, para depois deixar o quarto. A luz da lua invade o cômodo e eu observo as sombras das árvores dançarem até cair em um sono profundo.
Sinto que amanhã vai ser um dia interessante .
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Mapeando Estrelas (Completa/ Revisando)
Teen FictionLucy é uma garota de 16 anos que nasceu no Brasil em um dos piores momentos possíveis: Ditadura Civil-Militar. Ela precisou lidar com medos, traumas e a perda do seu tio preferido. Por pior que fosse a sua situação, o emprego dos pais dela a permiti...