Cap. 8

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POV: Lucy

Estou há dois dias sozinha em casa, meus pais ainda não voltaram e eu estou fazendo de tudo para manter a minha mente ocupada. Eu ouvi música, arrumei a casa, li um livro e até resolvi cortar o meu cabelo, que agora está um pouco abaixo dos ombros. A minha avó era cabeleireira e minha mãe cresceu em um salão, ela me ensinou a cortar o meu próprio cabelo mas eu optava por não cortar, até hoje.

Na manhã de sábado eu saí para andar de bicicleta, fui até o parque e fiz um pouco de yoga. A tarde eu resolvi alugar um filme, parte de mim queria encontrar ele na Blockbuster, mas nada aconteceu. Também tentei estudar, mas estou preocupada com meus pais que não me ligaram ainda e não estão atendendo as minhas ligações, minha sorte foi que minha mãe deixou um cartão de crédito aqui, junto com um bilhete com vários números de emergência.

Quando anoitece eu me deito e durmo ( rápido demais para o meu histórico de insônia), acordo no meio da noite, tenho quase certeza de que gritei, mas não havia ninguém para me consolar o que me desespera mas me faz parar. Tive um pesadelo... Meus pesadelos normalmente são memórias distorcidas de coisas que presenciei, uma característica do trauma.

Dessa vez era 1977, eu tinha 6 anos e estava no carro com meu pai, vi um homem ser espancado até a morte por alguns soldados. Seu filho, que era um pouco maior que eu, gritava mas a mãe dele o segurava e tentava evitar que ele visse o seu pai morrendo aos poucos, ele se contorcia de dor e implorava que eles parassem mas nada acontecia. Quando meu pai notou a situação, ele acelerou o carro e foi embora, podíamos ser punidos apenas por observar esse ato de covardia.

Quando eu era criança eu não entendia o que dava a aqueles soldados o direito de bater em um homem por conta da cor de sua pele, não entendia o que tinha de errado, qual crime ele cometeu. Isso porque não havia crime algum, apenas a crueldade de 4 homens batendo em um pai e o matando à sangue frio.

Eu me levanto e sento na janela, tento me acalmar desenhando a constelação de Órion no meu caderninho, mas sinto falta de ar e um aperto desesperador no peito. Eu reluto mas acabo tomando mais um comprimido, agora só me restam 2. A depressão é difícil de explicar. Algumas pessoas acham que é uma tristeza constante, mas na verdade ela é repentina e pode tanto surgir por conta de um gatilho ou sem motivo algum. 

Eu sinto um sentimento de insuficiência, como se algo que todos tem estivesse faltando em mim. O luto não é tudo, mas com certeza ele potencializa qualquer sentimento negativo. Fazendo surgir perguntas como "E se ele ainda estivesse aqui?" ou "Será que eu poderia ter feito algo?". E a sensação de angústia e impotência não melhoram minha situação nem um pouco. 

Na manhã de domingo eu me ocupo pintando as estrelas no teto do meu quarto, mas não consigo terminar. A minha reserva energética está alterada por conta do remédio e minhas mãos tremem, normalmente esse é o momento onde meu pai faz algum doce diferente para me animar, mas dessa vez eu me viro sozinha. Ligo para os meus pais, mas ninguém atende.

Mapeando Estrelas (Completa/ Revisando) Onde histórias criam vida. Descubra agora