Lucy é uma garota de 16 anos que nasceu no Brasil em um dos piores momentos possíveis: Ditadura Civil-Militar. Ela precisou lidar com medos, traumas e a perda do seu tio preferido. Por pior que fosse a sua situação, o emprego dos pais dela a permiti...
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POV: Lucy
Ainda estou esperando uma ligação do meu pai, ele anda muito ocupado e não está podendo conversar. Ele ligou para minha mãe ontem a noite e prometeu que iria conversar comigo antes das 7 horas da manhã.
Ele finalmente liga - Filha eu não aguento mais ficar aqui nesse escritório, mas acho que em uns dois dias eu já estou voltando pra casa.
- Você disse a mesma coisa dois dias atrás. Você precisa voltar antes do dia 2/09.
- Eu sei, Lu. Mas me fale sobre a escola, você está gostando? Já fez algum amigo? Me conte tudo!- Ele tenta mudar de assunto, e eu o acompanho.
- Sim, a escola é incrível. E não, eu ainda não fiz nenhum amigo. - Eu escuto ele rindo baixo do outro lado do telefone, ele disse que sabia que eu iria demorar muito para fazer amigos porque sou uma pessoa desconfiada. E é verdade, mas não é esse o motivo, eu só não encontrei ninguém legal ainda.
- Mais alguma coisa?- Ele diz ainda risonho.
- Sim, eu me inscrevi para o clube de teatro. Hoje a tarde vai ser a primeira reunião, vão fazer algumas audições para a primeira peça do ano, já ensaiei e acho que sei todas as minhas falas. - Eu tenho certeza de que meu pai ficou surpreso, ele não esperava que eu fosse me envolver em alguma atividade escolar tão rápido.
- Eu não acredito que minha filha vai ser uma atriz de cinema!- Ele brinca, mas está muito animado. Ouço a voz de mais algumas pessoas com ele.
- Precisam de mim no escritório, eu preciso ir. Eu te ligo amanhã no mesmo horário, ok?
- Tá bom, tchau.
- Tchau, Lu.
Eu desligo e saio de casa, estou meio atrasada então eu corro até o ponto de ônibus e chego tarde demais, o que significa que preciso andar até a escola nesse clima congelante, sorte que o ônibus sempre sai cedo demais e tenho tempo suficiente para chegar lá faltando 10 minutos para a primeira aula. Quando chego na escola eu sento no pátio e espero até o sinal tocar, fico perto de uma árvore e aproveito o tempo para ler meu livro. Dessa vez eu estou lendo O pequeno príncipe, é um livro pequeno mas ele sempre me emociona.
A primeira pessoa a ler pra mim foi o minha mãe, ela lia pra mim desde que eu tinha 2 anos e até hoje esse é um dos meus livros favoritos. Uma das minhas melhores e mais vívidas lembranças do meu tio era de quando eu passava as férias na sua casa quando os meus pais viajavam, ele morava em frente a uma praia no Rio de Janeiro, e adorávamos brincar juntos. Quando eu tinha 6 anos eu estava na casa dele e notei que tinha esquecido de trazer o meu livro do Pequeno príncipe, então tio Augusto improvisou umas fantasias e fizemos uma peça contando a história.
