Cap. 13

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POV: Thammy

Sexta feira, dia 11 de Setembro

Nem mesmo essa tarde fria é capaz de abalar o meu bom humor. A cada dia que passa a estreia de Hamlet se aproxima, e com ela a minha chance de reconhecimento. Ser atriz sempre foi meu sonho, quero ser uma mulher negra protagonizando um musical da Broadway, mostrando ao mundo nossos talentos, cores e vozes. Embora pareça muito distante da minha realidade, se fosse uma tarefa fácil não seria um sonho.

Os preparativos da peça tomam 80% do meu tempo, e o que sobra uso para estudar para as provas semestrais. Com a peça se aproximando e a Cloe sempre me deixando na mão, quase não tive tempo de acompanhar os estudos. Costumo estudar com Lucy antes das provas, assim tenho mais chances de tirar uma nota decente e recuperar mais tarde. Por ser presidente de um clube, a escola exige que minha média não diminua, por isso essas primeiras provas são tão importantes.

-Thammy, a mamãe tá te chamando!- Sophia diz após entrar no meu quarto sem bater, não demora muito para que suas mãozinhas estejam mexendo em alguma coisa.

-Estou indo. Solta isso, Sophia!- Ela sai às pressas pelo corredor com um batom que deixei ao lado da cama. Desço as escadas atrás dela, mas a alcanço tarde demais. Quando finalmente tiro o batom de suas mãos, Sophia está toda suja de rosa coral.

-Thomas,você pode ajudar a Sophia a se limpar, por favor? - Meu irmão pega Sophia e a coloca nos ombros.

-Eu limpo ela... E você arruma a bagunça que ela fez na varanda.- Ele desaparece antes que eu possa responder. Thomas é meu irmão mais velho, ele já está na faculdade, mas mesmo assim aparece de vez em quando para me irritar.

Vou até o quintal procurar a minha mãe. Meus pais fizeram uma pequena horta que está aqui desde sempre. Eu e meu irmão cuidávamos dela quando éramos menores, agora é a vez de Sophia. Minha mãe está abaixada mexendo na terra com sua luva de jardinagem. Mesmo que eu e Sophia sejamos meninas, Thomas é sem dúvida o mais parecido com ela. Minha mãe usa o cabelo liso, ela diz que melhora a imagem dela para tratar com clientes importantes e influentes. E com "importantes" ela quer dizer "brancos e ricos". Ela trabalha como corretora de imóveis a mais de 10 anos, e ainda assim não recebe o reconhecimento que merece. Muito menos o salário que merece.

- Oi, mãe. Me chamou?

-Chamei sim. Já respondeu a carta que entrevistador da Universidade da Colúmbia Britânica te enviou?- Minha mãe conheceu um funcionário da admissão de uma das melhores faculdades do Canadá, uma que não tenho o menor interesse em entrar. E ela sabe disso.

-Ainda não, estou meio ocupada com as provas. Prometo responder essa semana.- Espero que seja tarde demais e que esse moço tenha esquecido de mim. Minha mãe sabe o quanto quero estudar teatro no exterior, mas ela diz que isso não é profissão, e que nunca vai me levar a lugar algum. Eu a entendo, quando ela tinha minha idade, um convite para uma entrevista na melhor universidade do país seria mais rara do que um milagre. Mas não estamos na década de 60, se nós não buscarmos ocupar lugares onde não somos aceitos, as coisas nunca irão mudar.

-Não deixe essa oportunidade passar, Thammy.- Ela põe sua mão sob meu ombro e encara o fundos dos meus olhos. Sua preocupação me faz mudar de ideia quase que instantaneamente.

Ligo para escritório do Mr. Campbell e marco um horário para uma entrevista de admissão. Sinto um sentimento familiar de incapacidade tomando conta de todos os meus pensamentos. Pondero sob o meu futuro enquanto leio alguns panfletos da UBC que estavam junto com a carta.

- O que aconteceu? Essa sua carinha triste é de verdade ou você está ensaiando?- Não estou com cabeça para provocar Thomas, então apenas o ignoro.

Mapeando Estrelas (Completa/ Revisando) Onde histórias criam vida. Descubra agora