A filha de Pã

Ele me salvou

A natureza sempre foi a fonte vital de Pã, assim como Pã também era a fonte vital da natureza. Muitos anos atrás quando surgiram os primeiros atos de incredulidade em Pã e consequentemente na natureza, uma vez que, se não acreditam no guardião dela, por que a  protegeriam? A partir daí as primeiras atrocidades contra o mundo selvagem começaram a ser cometidas.

Isso causou uma perda de força extrema no espírito do deus, que quanto mais fraco ficava, menos credibilidade possuía e menos natureza podia proteger.

Os espíritos da natureza, entretanto, preocupados com o rumo e proporção que toda a matança tinha tomado ajudaram Pã a transferir um pouco de seu poder para um termo poderoso... O Níma Elpídas.

Assim como a fada sininho, a natureza sobrevive da crença das pessoas a sua volta. Caso ninguém acreditasse em fadas a sininho já teria deixado de existir faz tempo no universo fictício de "Peter Pã". Por isso,  termo Níma Epídas, que representa a crença, a esperança de que um dia a natureza vai se recuperar, seria tão importante. 

E assim como as palavras tem poder, esse termo foi um dos aliados de Pã quando o deus estava mais fraco a cada dia.

As coisas começaram a dar errado quando houve a notícia de que um sátiro tinha encontrado Pã, e que ele estava de fato morto, agora de uma vez por todas. O propósito de vida de grande parte dos seres da natureza acabaram naquele dia e com eles a esperança também se extinguiu, de um a um. E quanto menos esperança, mas fraca a natureza fica a cada dia... Assim como os protetores do Níma Elpídas. Enquanto essa forma de energia estiver segura, a natureza ainda tem uma chance.

As lágrimas que cintilavam em meus olhos começaram a cair, uma a uma. A grama para onde eu olhava, apesar da reconfortante cor verde, não fazia nada para ajudar com a dor no meu coração. O que eu poderia fazer? O que eu poderia, possivelmente, fazer? Uma sensação de pânico começou a se alojar em meu peito enquanto uma força invisível pressionava minha cabeça mais e mais. Levantando o olhar, dei de cara com todos os sátiros me encarando com uma expressão de sofrimento tão profunda. Eles tem o poder de sentir exatamente o que você sente. Todo o vazio, dor, solidão e fogo que existia dentro de mim.

Lutando para respirar dei meia volta e corri ainda mais profundamente para dentro do bosque, fugindo de todos os problemas que voltaram para explodir na minha cara.

— Alice! — Uma voz gritou

— Deixe-a sozinha por um tempo — Uma outra respondeu, o que me fez agradecer silenciosamente.

O que eu fiz em toda a minha vida além de ficar sozinha? Todas as pessoas que se aproximam acabam machucadas ou mortas. Eu sou uma bomba relógio que não pode fazer nada se não correr. Correr, correr e correr.

Correr de todas as famílias que eu arruinei quando passava de casa em casa na adoção.

Correr do título que eu não sou forte o suficiente para sustentar.

Correr da responsabilidade que eu tenho com todo o mundo selvagem.

Da responsabilidade que eu tenho com todo o Olimpo.

E principalmente... correr de Nix.

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10 anos atrás

A mulher sorriu quando uma brisa refrescou seu rosto, um cheiro de árvores e terra molhada se fazendo presente. O fio de saudade que estava sempre preso em seu peito era um lembrete de que iriam se encontrar novamente logo. Ainda olhando para o sabiá que cantava em frente a sua janela, sentiu uma cabeça sendo pressionada contra suas costas ao mesmo tempo que dois pequenos braços a envolviam.