— Me passa aquela latinha por favor?— Não! Eu já não acabei de falar que vou comer ela?
— Mas você não está comendo ainda.
— Me escutem por favor!
— Claro que Hermes é mais rápido que o Michael Phelps!
— Não perguntei qual era a diferença entre uva verde e uva roxa, você que começou a falar.
Suspirei profundamente diante da sinfonia de vozes e bagunça. Desde que eu aceitei me sentar na mesa do conselho para entender o que aconteceu com o Níma Elpídas tem sido assim. Ah, os sátiros... Criaturas fascinantes, mas com um péssimo senso de organização.
— Será que nós podemos começar? — Pedi mais uma vez.
— Fica quieto! Não tem como você preferir as uvas sem caroço, são geneticamente modificadas.
— Quem beijou a ninfa do lago??
— Michael Phelps é o nadador! É claro que o Hermes é mais rápido que o Usain Bolt, você quis dizer.
Suspirei profundamente com minha paciência já se esvaindo.
— Grover, será que você pode colocar alguma organização aqui? — Chamei. A resposta do sátiro foi simplesmente balir em desespero. Líder uma ova.
Olhei para cada um dos rostos falantes em volta da mesa. Meu pai era de fato abençoado por aguentar essa falação toda.
Bati a mão na mesa ao mesmo tempo que soltava um berro. Me amaldiçoei em silêncio por ter batido na mesa com a mão aberta usando tanta forca. Ardeu. Mas eles me olhavam agora... isso era bom.
— Obrigada por me concederem sua tão preciosa atenção. — Zombei. Eles continuaram quietos. — Será que alguma alma da natureza poderia por favor me explicar o porquê dessa reunião? Eu tenho outras coisas para fazer. O que houve com o Nima Elpidas?
Todos os presentes viraram a cabeça para Grover, que assistia a tudo com aquela cara de pastel dele. Arqueei as sobrancelhas e fiz um gesto de encorajamento. Ele suspirou, mas, graças aos bons deuses, começou a falar.
— Antes de explicar sobre o Níma, eu preciso te ambientar na história. Como nós descobrimos que tinha algo errado. —Ele cocou os cachinhos que envolviam seus chifres e continuou. — Fazia um tempo desde que nós descobrimos que Pã tinha algumas crias espalhadas pelo mundo. Não sabíamos quantas e não sabíamos quem, mas sabíamos. Rachel, a portadora do oráculo de Delfos aqui do acampamento recebeu uma profecia uns bons meses atras. Pelo conteúdo da profecia ser direcionada praticamente para os sátiros, ela achou que seria conveniente nos avisar antes de qualquer coisa. E ela estava certa.
— Grover... — Luan resmungou — Não foi tão pacifico assim, Alice. Ela nos contou primeiro, de fato, mas tivemos que implorar para que ela não fosse correndo para o Quíron no próximo segundo.
— Era assunto nosso, entende? — Completou Grover. — Nosso Pã, nosso deus, nosso herdeiro. De qualquer forma, depois que descobrimos sobre isso começamos a procurar. Pesquisas levaram a pesquisas, o boato acabou caindo na boca de muita gente e toda informação nova que chegava era de pronto dirigida a nós. Nessa de fofoca trocada acabamos descobrimos uma outra coisa. Não era o que procurávamos, não era o que eu queria achar de forma alguma, mas lá estava. E era fundamental. Eu, e todos os sátiros acredito, sempre acreditamos que o Níma Elpídas era uma energia. Uma energia movimentada pela crença e pela forca vital de Pã.
— Depois que Pã morreu nós simplesmente chegamos a conclusão de que era uma energia independente. — Um outro sátiro completou.
— O que era aquilo que descobriram? — Perguntei, tensa.
— Alguns seres da Natureza que se concentravam na floresta amazônica, aquela área entre Colombia e Brasil começaram a sentir uma energia diferente. Algum tipo de distúrbio na natureza. Ninfas saudáveis morriam do nada. Flores com almas dos sátiros murchavam e não tornavam a florescer. E não era simplesmente relacionado a poluição ou ao homem. Era alguma coisa... Maior. Mais antiga e mais poderosa.
Eu ouvia a tudo sem piscar. Onde será que ele chegaria com isso?
— Então nós continuamos a pesquisar. Chegamos a mandar alguns sátiros em missões secretas, sem semi-deuses e sem a permissão do senhor D. por mais arriscado que fosse. Eles não voltavam. Nunca.
— Nenhum contato por arco-íris eram possíveis — Luan acrescentou.
— E então nós encontramos. Marcas gregas nas árvores mais velhas daquela floresta.
— Espera aí. — Eu o parei. — Se nenhuma expedição voltava como vocês encontraram essas arvores? — Questionei.
Grover corou violentamente, enquanto alguns outros sátiros pareciam ainda mais desconfortáveis.
— Isso não vem ao caso — Ele resmungou.
— Ah, mas vem. E eu quero saber. Como? — Ele mais uma vez desviou o olhar, subitamente entretido pela borboleta que pousara no centro da mesa. Raiva passou pelas minhas veias, me fazendo apertar os punhos. — Grover... — Eu ameacei com um grunhido.
Ele baliu, se levantou e correu. Simples assim. Revirei os olhos antes de me lançar atrás dele.
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Suspirei aliviada quando minha cabeça finalmente encontrou o travesseiro depois desse dia. Os roncos que envolviam o chalé de Hermes envolviam o silêncio bem, deixando tudo com um clima mais aconchegante.
Depois que voltei do encontro com os sátiros segui direto para os banheiros e tomei um banho. Se Quíron sentiu minha falta durante os treinamentos do dia que restaram, não demonstrou.
Segundo os murmúrios dos campistas, La Rue tinha vencido a garota do chalé de Nike. O conhecimento disso repuxou meus lábios em um sorriso involuntário. Claro que ao tomar conhecimento do que eu estava fazendo plantei uma carranca na cara e fiquei assim até a hora de ir para cama.
E agora, deitada e com uma visão mais clara de tudo que ocorreu no dia, permiti que meus pensamentos finalmente viajassem.
Se os sátiros já tinham conhecimento do Níma Elpídas... Pelos deuses, quem mais teria? Quem mais se atreveria descobrir mais alguns peças do quebra-cabeça que se manteve encoberto por 13 anos. Conhecimento esse que eu tinha que proteger e guardar.
Conhecimento esse que eu era a única, entre mortais e imortais que tinha.
Conhecimento que era minha salvação... e minha ruína, e eu era covarde demais para arriscar qualquer um dos dois.
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Voltei!! Depois de séculos, eu voltei.
Ultimamente eu tenho trabalhando bastante minha criatividade e isso me deu vontade de voltar a escrever.
Alguém tem alguma teoria?? Eu já dei praticamente todo o necessário, só falta unir os fios soltos muhahahahha.
Um ótimo fim de semana para vocês ;)
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A filha de Pã
AdventureAlice é uma semideusa solitária. Sempre se virou muito bem sozinha e não precisava da ajuda que Gabriel La Rue, brutalmente, a obrigou a aceitar. Foi levada para outro país para ficar "segura" no acampamento meio-sangue. Chegando lá deixou todos es...