Corri

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— O plano é o seguinte — eu disse para todos que me olhavam de suas respectivas árvores no dia seguinte. — Nós temos que coletar informações e descobrir o motivo exato dos servos de Nix estarem aqui. Sabemos que tem a ver com o Níma Elpidas, mas como os espíritos da natureza dessa região estão envolvidos nisso?

— Lamentável — reclamou Luan, tristonho.

— Sim. — Concordei, um aperto no coração por todos que estavam sofrendo por minha causa. Mas tudo fazia parte do plano. Eu sabia que, no fundo, todos os espíritos da natureza estariam felizes em estarem fazendo parte dessa causa maior. E eles estão. Nada disso está sendo em vão. — E sobre isso — continuei, limpando a garganta para afastar o súbito embargo em minha voz — Tentem não engajar com nenhuma criatura por aqui. Nem mesmo com os espíritos da natureza.

— Mas... — começou Oliver.

— Não. Eu sei que eles estão sofrendo e eu sei que vocês querem ajudar, mas as criaturas daqui falam português. Duvido que vocês conseguiriam se comunicar. Além de que, sei que essa é a primeira vez que alguns de vocês estão saindo do acampamento. O seres da natureza, aqui fora e principalmente na Amazônia são um pouco mais... selvagens. Portanto, coletem informações, descubram o que está acontecendo exatamente e nos encontramos aqui ao pôr do Sol. Eu e Gabriel vamos libertar alguns dos espíritos que estão sendo maltratados. Boa sorte a todos.

Embora eu soubesse que os sátiros têm capacidade para lidar com alguns problemas, não ia arriscá-los dessa forma. Tenho certeza que eu e La Rue damos conta. Vi em cada um de seus rostos que eles queriam protestar, mas todos os sátiros tinham uma boa ideia do significado de hierarquia. E eu... Eu sou a Filha de Pã.

Assim que os sátiros se separaram, sapatos falsos esquecidos para trás, desci da árvore com La Rue e também nos pusemos a andar por uma direção ainda não desbravada por nenhum dos sátiros.

Gabriel La Rue

Ver Alice no comando era uma sensação louca. Embora ela tivesse um metro e meio e passasse uma forte sensação de irresponsabilidade, ela tinha nascido para ser uma líder. Falava com os sátiros como se soubesse exatamente o que estava fazendo. E essa era uma coisa que eu queria entender. Quando ela me chamou para fazer parte da missão, confesso que minha curiosidade foi o fator que falou mais alto. Além, é claro, de ser uma oportunidade para sair do acampamento, poder desintegrar monstros e enfiar minha faca em seres nojentos, etc e etc...

A questão é: Eu tinha uma ideia muito básica do que era esse Níma Elpídas a qual ela e os sátiros tanto se referiam. Eu sei que é um conceito abstrato... bem abstrato que protege a natureza de alguma forma. E Nix quer tê-lo, por algum motivo que desconheço. O que é terrível, sinceramente. Primeira regra antes de entrar em uma batalha: Conheça seu inimigo.

- Então... — Comecei — Quando você vai me explicar o que é esse tal de Níma Elpidas?

Ela suspirou profundamente, enquanto mexia com uma ponta loira de seu cabelo.

— O Níma Elpídas é... A essência da vida. O que mantém todo o ciclo ecológico girando harmoniosamente. E o que é a natureza senão equílibrio?

— Então, em palavras brutas... É o que mantém a natureza viva?

— Exato — Concordou, com um leve sorrisinho.

— Mas achei que o que mantivesse a natureza viva fosse Pã. — Pronto. Só com a simples menção de seu pai (que doideira pensar que essa garota é filha de Pã) seu sorriso desapareceu em um passe de mágica, e sua sobrancelhas se afundaram de tristeza e preocupação.

— Não. Pã era o que inspirava a todos a manterem o equilíbrio. Ele nunca poderia, sozinho, equilibrar toda a natureza. Seria impossível. É mais como... Sabe quando você está perto de seu pai, e do nada te dá essa vontade de sair socando a cara de pessoas aleatórias?

A filha de PãOnde histórias criam vida. Descubra agora