A filha de Pã

Os sátiros não sabem atravessar a rua

A noite estava estrelada como sempre no Acampamento Meio-Sangue.

As harpias estavam silenciosas e honravam o acordo com os sátiros. Se não fôssemos denunciados, eles limpariam a cozinha por uma semana depois que voltássemos.

Enquanto todos os campistas dormiam, o lago brilhava à luz do luar e tudo parecia completamente normal... Vinte sátiros corriam para lá e para cá pelo bosque, pegando suprimentos, se despedindo de suas namoradas e tentando fingir bravura. A energia estava densa, todos nervosos com o que ia acontecer.

John, Hardy e Miles, três sátiros que mal atingiram a puberdade - dentro dos padrões de sátiros - sorriam animados com a possibilidade de sair do acampamento pela primeira vez. Eles e Gabriel eram os únicos que não pareciam prestes a colocar os bofes para fora.

La Rue estava com uma camisa vermelha, marca registrada de Ares, uma mochila com acabamento em couro pendurada nas costas e um punhal preso na barra da calça jeans. Ele parecia um guerreiro pronto para ir para as linhas de frente — o que na minha opinião foi um leve exagero. Será que essa gente percebia que nós íamos ficar pelo menos 10 dias viajando?

Eu estava ansiosa para voltar para minha terra. Sair do Acampamento Meio-Sangue seria... rejuvenescedor, talvez. Saber que eu logo estaria com adrenalina sendo bombeada pelo meu corpo, correndo perigo e fugindo de monstros... E não mais presa num lugar que representa apenas todo o treinamento que eu não estava tendo.

Estar dentro do Acampamento me faz sentir simplesmente inútil. Eu vim para cá e larguei todas as minhas, humildes, diga-se de passagem, coisas para vir treinar. E eu não tenho treinado.

As aulas de esgrima e arco e flecha só me ajudam a aprimorar algo que já sou boa. Não. Boa não. Ótima. Eu não preciso de ajuda em coisas que já domino perfeitamente bem.

Preciso de treinar minha mente. Preciso de um treinamento realista com animais grandes. Monstros grandes. Preciso correr. E preciso aprender a canalizar magia o mais rápido possível.

Saber sobreviver a monstros é muito importante, mas para todos os outros campistas que não tem tantas responsabilidades quanto eu.

Quem dera eu pudesse estar voltando para o Brasil para visitar as ruas tumultuadas e a paisagem maravilhosa...

Nix, uma mal amada, está causando problemas na Amazônia. Chegaram notícias para os sátiros que seres sombrios estavam destruindo árvores e desmatando. Nada de novo, claro, mas usar magia para fazê-lo? Outra história.

Nix sabe sobre o Níma-Elpidas. O segredo que os seres da natureza e meu pai tentaram esconder por tanto tempo está solto... e caiu nas mãos da única pessoa que nunca poderia ter descoberto.

O Níma-Elpidas é a natureza. A parte remanescente do espírito de Pã. A única coisa que ainda mantém a natureza viva. Esse poder... foi escondido.

Foi escondido por uma criança assustada com pulmões cheios de fumaça. Por uma criança desesperada que sabia da importância de uma simples caixinha... Pela a herdeira do verde e ar puro. A protegida dos deuses. Euzinha.

E agora, tenho que voltar e consertar essa bagunça. Nix e Momo não poder ter isso em mãos. Isso significaria que elas ficariam mais fortes que os Olimpianos. O que sinceramente, me perdoem deuses, mas foda-se.