1. Câncer da sociedade

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P.O.V SUGURU NIRAGI

Entrada da Praia, Borderland

Uma ponto cinquenta. Arma pesada, o tiro vai longe, a mira quase não acompanha meu raciocínio. Me pergunto onde diabos Aguni arranja esse tipo de coisa, é algo que apenas os militares usariam, bom, não é como se os quartéis estivessem lotados em Tóquio agora. Um brinquedo muito sofisticado para a praia, o Chapeleiro não iria querer que eu usasse isso em alguém, não seria apenas um tiro, um furo comum.

Eu atiro, bum! em cheio.

— Há! Isso faz um estrago! — Comento ao acertar o tiro em um dos alvos a distância. Aguni me olha, um sorriso ladino se formando em seus lábios; orgulho. Ele sabia disfarçar bem, mas era óbvio. Ele recrutou o melhor dos melhores, claro. Na bancada alguns dos jogadores vibraram, todos sanguessugas, garotas bonitas e garotos que nem mesmo eu conseguiria deduzir como ficaram vivos até hoje. Mas sim, garotas bonitas.

As mulheres da praia nunca me atraíram, sempre andando por aí com todo seu corpo à mostra. Não, não é isso que eu procuro, são fáceis. Midori sempre se aproxima de mim, Yui tenta me conquistar com o jeito meigo. Não, elas não sabem no que estão se metendo, mas eu seria burro se não aproveitasse. Elas me querem, e o mínimo que posso fazer é dar uma falsa esperança, apenas um gostinho, ainda sou humano.

Meu novo eu, o meu eu criado por ela, Hyori, Higashikata Hyori. Talvez não meu corpo, minha casca falha e cheia de dor não é digno dela, minha alma, meu ser deseja ser entrelaçada com a dela. Seus olhos castanhos me olhando são uma memória distante, rio mais uma vez, atirando nos outros alvos de novo e de novo.

De novo... Ela era tão bonita.

De novo... Sua liberdade selvagem.

De novo... Hyori mora em meus pensamentos.

De novo, a sensação de esperança.

De novo, de novo, de novo, de novo. Por ela. Me elevando ao nível dela. Para que possamos ser venerados no inferno.

Sem mais munição.

Sinto uma mão em meu ombro, Aguni me olhava, o orgulho agora se transformando em reprovação conforme eu percebia; não haviam tantos alvos assim, eu estava atirando em nada. Ele tira a arma de minhas mãos bruscamente, ele quase nunca sorria, tinha que manter a pose de chefe da milícia, forte, militar, sábio. Ele era o chefe.

— Não se empolgue assim. — Disse seco com sua voz poderosa. — Você precisa praticar. Não gaste balas a toa se não vai atirar em nada. Onde sua cabeça estava, Niragi?

Dou de ombros, com o sorriso cínico que não conseguia evitar de ter. — Me empolguei. Não é divertido? Estava torcendo pra alguém estar escondido em alguma das moitas. Algum problema, chefe? Queria colorir a grama de vermelho, todo mundo sabe que alvos de verdade não ficam parados.

Soava quase como um insulto, e ele pacientemente negou com a cabeça, murmurando um "Já basta" quase inaudível. Autoridade do caralho, me tremi inteiro agora. Esse país, esse lugar, não há regras aqui. Aguni é o mais forte, as marcas de tiro em todo seu corpo; se eu atirasse agora ele sobreviveria. O mais forte, o mais inteligente, é calúnia que não seja o número um.

Talvez eu devesse ser o número um. Ela dizia que eu tinha potencial para fazer o que quisesse. O mundo material, ele serve para os prazeres, o câncer são aqueles que se retraem.

O câncer do mundo são aqueles que nos julgam por exercer o que somos projetados. Reprimem a natureza humana.

Se eu apenas pudesse voltar... Como da primeira vez que a vi...

Yandere ヤンデレOnde histórias criam vida. Descubra agora