3. cigarro de cereja

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P.O.V Suguru Niragi


Tóquio, Japão, antes da Borderland.


O que seria hoje? Pilhas? Pedras? Devo admitir, eles são criativos quando o objetivo é me torturar.

Porra, sou tão fraco, tão impotente. Me irrita, eles são acéfalos que só continuam estudando por obrigação, não vão chegar à faculdade e morrerão antes dos trinta. Mas mesmo assim, eu sou pior. Poderia morrer agora mesmo.

Afinal, o mundo é dos mais fortes.

Conforme eles retiravam suas "munições" das mochilas eu voltava a tremer de ansiedade, não adiantava fugir ou me negar, acabaria apanhando do mesmo jeito e sofrendo coisas ainda piores, ajeitava os óculos e respirava fundo, já sabia o que estava por vir, o taco de baseball prata e Shimura lançando uma pilha AA contra o ar.

1...

2...

3...

- Acertou em cheio! - Eles dizem, fecho os olhos em todo caso, não queria ver onde iria acertar.

Eu caio, bateu no joelho. Porra, você sabe o quanto um taco de baseball é forte? A pilha batendo bem contra o osso, meus óculos caem no chão e eu rapidamente os pego, são resistentes, talvez por isso não tenham quebrado até agora. Se quebrassem eu teria de desembolsar um bom dinheiro ( que não tenho ) para comprar um novo par, isso era um dos motivos pelos quais eles me odiavam tanto? Por que... Eu sou o único alvo de toda sua raiva?

Por que só eu? Por que só os que se atrevem a serem próximos de mim? Shimura não era tão melhor, era?

Talvez eu devesse pesquisar sobre isso, colocar em alguma revista de artigos científicos estrangeiros, se é que já não existe. Sim, deve existir, não sou o único nessa situação pelo mundo. Algo como o gene dos odiados.

Gene dos odiados. Sim, parece coerente, não sou o único com isso, é uma doença que nos assola desde o início dos tempos. Não, não é minha culpa se nasci com hormônios odiosos. Sou feio, fraco, fútil, inútil. Não estou me vitimizando, sendo dramático. Ou talvez sim.

Me levanto, a perna direita vacilando e eu ainda com a cabeça abaixada, não vou conseguir correr, e, mesmo se eu corresse, eles são mais rápidos, mais fortes. O que dói mais Suguru Niragi? Uma pilha no joelho ou um chute no estômago? Estudos científicos estrangeiros dizem que o bullying causa problemas irreparáveis ao corpo e mente humana. Eu estou nesse ponto? Doente desde o nascimento, e agravado apenas pela confirmação de meus genes odiosos?

- Ei! Levanta a cabeça! O prêmio de vinte pontos está bem aí! EI! Tanaka! Você tem cinco pontos por acertar no joelho! Vamos lá... Será que consegue acertar os óculos? - Shimura voltou a se aproximar, os cabelos recém tingidos de loiro e um piercing no septo que costumava esconder durante as aulas, levou uma das mão até minha cabeça, puxando os cabelos para que eu voltasse a olhar para frente. - E não se mova, pedaço de merda, você é apenas um alvo.

- Shimura... Por quê?

- Você me irrita. Você por inteiro. Tem que aprender uma lição. Pra deixar de ser um merda. Não me responde, você sabe que alvos não se mexem e nem falam. Quer que eu pense em algo pior pra você? Porra, você é nojento, está apaixonado por mim ou algo do tipo? Você quer comer arroz? Soube que não come obento no almoço, deve estar faminto.

Ele lança mais uma pilha, acerta os óculos. Vinte pontos. Todos vibram enquanto eu caio novamente no chão, arde, sinto um líquido escorrendo de meu rosto para o chão; o nariz sangrando. Os óculos novamente caídos, agora quebrados, completamente arruinados, a lente direita completamente estraçalhada. Como eu vou ver? Como vou ler? Ardia, o nariz sangrando ardia, eu tentava conter de maneira falha o que até então era uma de minhas maiores preocupações, eles me deixariam em paz depois disso?

Uma vida miserável, agora e pra sempre, a menos que eu mude a mim mesmo.

Chute,

chute,

Meu estômago vai aguentar?

Chute

Chute,

Talvez eu deva reconsiderar morrer.

Me encolhendo contra mim mesmo... É frio... O meu sol da tarde desaparece... Simplesmente não reajo, talvez isso os deixe entediados. Minha dor é tão engraçada? Um alvo que não se mexe... É entediante.

...


Eles foram embora, não demorou muito, me sento apoiando minhas costas contra a parede gelada... Tento relaxar, mesmo dolorido, essa dor significa que estou vivo. E mais uma vez, estou aqui, eu poderia apenas deixar de existir se pulasse do terraço da escola, não há nada mais que me prenda no mundo corpóreo.

Mãe, Pai... Todos me odeiam da mesma forma... Minha mãe, jovem demais para sequer ter um filho, Pai... Talvez eu seja a grande decepção dele. Ambos não parecem ser perdedores, então por que tenho os genes de um perdedor? Feio, fraco... Meu único atributo é a inteligência. Hyori... Devo fazer com que ela me ame, é minha última chance como humano. Ter uma boa namorada. Não... É falta de educação, eu não a mereço, ficaria feliz apenas de ficar ao seu lado como um amigo. Essa esperança... Ela é vazia...

Respiro fundo, o ar gelado novamente penetrando meus pulmões como uma das últimas boas sensações da qual consigo me lembrar, o gosto metálico do sangue contaminando meu paladar.

- Eu sou patético. - Murmurei, pouco esperando que alguém me respondesse, é isso? É assim que meu mundo acaba?

- Patético. - Escuto outra voz, feminina, poderosa. Se aproximava juntamente do cheio forte de cigarro.

- Hyori? - Pergunto, me virando em sua direção. Ela caminhava com sua mochila vermelho vinho nas costas e um cigarro de cereja em mãos, era até agradável quando saía dela. Perfeita. A visão que tenho dela é perfeita. Nem mesmo se dava o trabalho de olhar para mim, encarava a cidade ao longe, se apoiando na grade.

- Se você vai se matar, não faça tanto alarde, morra logo, é a oportunidade perfeita. - Ela diz, está certa, eu deveria apenas... - Mas seria uma pena... Você até que é bonito... Sua raiva não deveria ser direcionada de volta pra você. É perfeito.

- E-Eu sou perfeito? - Gaguejo, encarando-a. Até quando me insulta... Esse é o seu jeito de dizer que se importa?

- Deveria bater neles. A lei foi feita para aqueles que são incapazes, não apele para ela. - Continuou, dando outra tragada e soltando a fumaça bem contra meu rosto. Ela riu, diferente de Shimura, quando ela implicava comigo era profundamente delicioso, a gargalhada gostosa e o sorriso bonito. O céu de Tóquio costumava ser escuro, a mais profunda penumbra onde até mesmo a lua perdia seu brilho para toda a cidade, mas ela, Higashikata Hyori era mais brilhante que tudo aquilo, a luz no fim do túnel.

- Mas eles estão em três e e-eu... Eu não posso.

- Não seja idiota! - Ela quase gritou, jogou o cigarro fora e me puxou para trás, caindo no chão pela milésima vez hoje. Subiu em cima de mim, me encarando ali. Agora ela tinha ainda mais brincos na orelha...

Hyori parecia uma estrela de cinema.

- Pegue algo pra se defender. Senão fuja! As leis foram feitas para suprimir os fortes, manipular a ordem natural... - Ela sussurrou, chegando mais perto de mim. Mais uma vez estremeci. Ficava quente e meu estômago se revirava, isso são borboletas no estômago? Os mangás não mentiam... O amor, ele existe...- Ei... Suguru Niragi... Eu sinto, eu posso ver em você... O jeito que me olha... Você me quer?

Neguei com a cabeça, merda. Eu a quero, eu a quero mais que tudo.

- Siga seus instintos, como uma fera... Você me quer? - Voltou a sussurrar. Ela queria me matar também? Mordeu o lóbulo da minha orelha gentilmente, soltando um gemido fraco, não pude me conter senão arfar também. - Todos os humanos possuem uma floresta interior, é assustadora, cheia de medo e dos instintos mais primordiais. Você quer viver, só não sabe porquê.

Higashikata Hyori... Ontem eu não possuía nada, nem um amigo, expectativas, queria apenas evitar tudo. Hoje, uma nova obsessão. Uma deusa... Seu corpo pressionado contra o meu enquanto forçava sua voz mais aveludada apenas para mim... Eu tinha borboletas no estômago, arrepios, eu tinha uma ereção.

Yandere ヤンデレOnde histórias criam vida. Descubra agora