18. Calor de mil graus

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P.O.V Suguru Niragi

Tóquio, japão, antes da borderland

A sensação de despertar era cada vez mais insuportável. Porra, há quanto tempo eu não volto pra casa? Lembre-se Niragi... Sábado dormi com Hyori, domingo na festa do Yamato naquele sofá duro e enquanto a música frenética tocava. Segunda fui pra escola, Hyori logicamente faltou, assim como metade de todos os alunos, então eu peguei a chave do meu Loft, dormi lá... Mas eu ainda preciso voltar para pegar algumas coisas...

Será que as pessoas sentiram minha falta? Eu costumava torcer para não encontrar nenhum parente em casa quando eu voltasse, apenas para que eu pudesse trabalhar em paz sem tomar esporros sobre o quão divergente eu sou. Será que eles ao menos notaram que eu sumi? Que não volto pra casa faz dias? Na primeira terça feira de novembro, acho que nenhum deles sente minha falta, provavelmente se sentem leves agora que sabem que eu nunca mais vou voltar.

Eu trabalhei por isso, dias e mais dias sem dormir para que eu finalmente arrumasse o dinheiro necessário para sair daquele inferno. Um passo, apenas mais um passo para meu paraíso. Eu só deveria voltar mais uma vez, não estava preparado, afinal de contas eu carregava comigo apenas duas calças e três camisas, o que obviamente não era o mínimo para viver, então eu deveria enfrentar o inferno mais uma única vez, carregando duas malas e uma caixa por toda a cidade. Acho que essa seria a maior loucura que já fiz por mim mesmo.

O pôr do sol batia contra minha face, ainda estava no colégio, o astro juntava suas últimas forças conforme desaparecia no horizonte da cidade de tóquio, e céu laranja era quase reconfortante agora, o ambiente escolar sempre muito rígido e frio era quase reconfortante quando não havia ninguém pra encher o meu saco. A carteira de madeira por outro lado, era sempre minha melhor amiga, o melhor lugar para se ter as crises matinais, e da tarde ou da noite também, sempre me acolhia nos melhores momentos, uma das poucas coisas que realmente nunca me abandonou.

Porra, até meu pai me abandonou. Acho que quando eu fui concebido ele sabia que ia dar merda. Mas nem minha mãe sabe quem ele é. Tenho certeza.

Se a carteira da escola fosse uma pessoa, seria um anjo... Por que caralhos eu estou aqui ainda? Sou tão inútil assim sem ela? Não sinto viver, mas não quero morrer também.

Hyori não respondeu às mensagens, ela também faltou às aulas nos últimos dois dias.

Yamato parece simplesmente ser bom demais para eu sequer dirigir uma palavra a ele. Acho que não me deixariam fazer isso nem se eu tentasse. Ele era secado por uma gangue de garotas apaixonadas o dia inteiro. Iludidas de merda.

Shimura... Eu soube que ele foi suspenso depois de quebrar uma das janelas da escola. Aparentemente eu sou o único alvo que ele acerta bem.

Eu estava completamente sozinho mais uma vez. As pessoas ignoravam minha existência ou apenas focavam todo seu ódio em frustração em mim? Deveria ser ao contrário. Inferno.

Hoje aconteceu uma coisa nova. Na carteira que eu tanto amava, apareceu escrito em caneta permanente.

"Por que você não se jogou quando foi ao terraço?"

"Morra, seu inútil."

"Você faz meu dia mais difícil, seu merda"

"Coloquei uma navalha no seu armário, por que você não se corta?"

Eu sabia que era só o começo. Ler isso normalmente me deixaria abalado. Mas hoje... É quase divertido ver como eles tentam ser assustadores.

Eles não sabem o que é assustador de verdade.

Yandere ヤンデレOnde histórias criam vida. Descubra agora