CHAPTER I

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Chicago, Illinois.
Estados Unidos.
Janeiro de 1960.


Mais uma noite fria em Chicago. Os bares repletos de pessoas, o fluxo constante de pessoas nas calçadas e casais apaixonados em busca de calor em meio ao frio. Respirei fundo quando o sinal abriu, minhas mãos deslizando suavemente pelo volante enquanto eu dava partida no carro.

O caminho até em casa era sempre tranquilo. Dirigir ma terapia que me permitia um momento de solidão e paz antes de voltar para casa e encarar aquele homem que um dia eu amei.

James Harrington era meu marido há quase oito anos anos, mas estávamos juntos há dez. O homem mais rico e respeitado de Chicago, tendo feito boa parte de sua fortuna investindo em bares, bordeis e tráfico de bebidas alcoólicas durante a lei seca. Por mais que a lei seca tenha acabado há alguns anos, James continuava lucrando, dessa vez investindo tráfico de drogas.

Estacionei meu carro na garagem, pegando as bolsas de compras no banco de trás. Fiz meu caminho pela pequena calçada de pedras até a enorme porta de madeira branca. Não havia ninguém em casa. Pelo menos eu teria mais alguns minutos de paz antes de encontrá-lo novamente.

Onde esteve? — A voz de James, rude e controladora, quebrou o silêncio.

Um suspiro escapou dos meus lábios antes de responder,  eu precisava escolher minhas palavras com cautela.

— No mercado. — Coloquei as compras em cima da bancada, sem encara-ló.

Ele se aproximou, o brilho frio em seus olhos evidenciando a posse que ele acreditava ter sobre mim.

— Não quero você dirigindo por aí sem a minha permissão. — Sua voz se aproximou ainda mais. Respirei fundo.

— Só fui ao mercado. — Respondi, com uma pitada de sarcasmo.

Aos poucos fui terminando de colocar as compras em cima da bancada de mármore preto, ignorando totalmente a presença do homem atrás de mim. Limpei minhas mãos no tecido do vestido e sai dali o mais rápido possível, deixando James em pé sozinho na cozinha. 

Entrei na sala de estar, olhando pela janela. A noite caía, e as luzes da cidade começavam a piscar. Meu olhar se perdia na imensidão urbana enquanto eu tentava afastar os pensamentos indesejados. James não estava presente fisicamente, mas sua sombra pairava sobre mim como uma ameaça constante.

Ouvi seus passos atrás de mim.

— O que foi? — Levei minhas minhas mãos até a cintura. James correu seus olhos pelo meu corpo, me fazendo arquear uma sobrancelha. O que ele quer agora?

— Viajarei amanhã. Ficarei cinco dias fora. — Respondeu sério, na sua clássica forma autoritária. 

Ótimo, cinco dias de paz.

Apenas concordei com um leve e falso sorriso. Decidi não dizer nada para evitar brigas. A nossa semana inteira tinha sido resumida em discussões, copos e outros objetos quebrados pela cozinha. 

A indiferença que eu cultivava era uma armadura para esconder o medo que sentia dele. O medo de suas explosões de raiva, do seu controle sufocante. Mas, acima de tudo, o medo do que ele poderia fazer se percebesse a brecha na minha armadura. Ainda assim, eu persistia na indiferença, um equilíbrio frágil entre minha resistência e sobrevivência.

Chicago 1945 Onde histórias criam vida. Descubra agora