21 | sentimentos inesperados

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NA MANHÃ SEGUINTE, havia uma mensagem de bom dia no meu celular quando eu acordei

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NA MANHÃ SEGUINTE, havia uma mensagem de bom dia no meu celular quando eu acordei. Eu a li tocando meus lábios com a ponta dos dedos, porque agora eu me sentia como uma garota que havia sido beijada.

Martin e eu caminhamos de mãos dadas para a escola. Eu entreguei a ele um pedaço de bolo de chocolate que eu tinha feito. Meu primeiro bolo. Ele elogiou a cobertura e disse que eu levava jeito na cozinha. Quando chegamos ao colégio, se despediu de mim com um beijo rápido nos meus lábios antes de caminharmos para nossas respectivas classes, na frente de todos, bem no meio do pátio da escola.

Fui tomada por um sentimento de euforia, como se eu não tivesse capacidade de extravasar a energia que corria pelo meu corpo. Em termos práticos, aquele beijo era bem parecido com o primeiro que demos. Um espetáculo. Mas eu me sentia diferente. Teria que correr em círculos por horas para me cansar, porque eu estava viva. Elétrica.

— Aqui estão algumas amostras — disse Kim, no intervalo. Ele me estendeu, com as mãos cobertas por luvas de lã que deixava seus dedos de fora, tricotadas por ele mesmo nas cores da bandeira não-binária, uma pasta cheia de desenhos. "A Banda" estava escrita com várias tipografias e cores diferentes pelos papéis grossos, cuidadosamente coloridos à mão. Reconheço as fontes icônicas das bandas Metallica, Black Sabbath e Led Zeppelin.

Deixo meu queixo cair, segurando os desenhos como se fossem um objeto frágil.

— Você fez tudo isso sozinha? — pergunto, e ela dá um sorriso tímido.

— Fez — confirma Renata, com orgulho.

Hoje, a personagem homenageada é a sereia Nicasia, do universo Povo do Ar. Desde que eu tinha concluído a leitura, lotei nossas conversas com fanarts da personagem e estava ansiosa para ver como minha amiga a traria para o nosso mundo. Ela usava uma maquiagem de glitter azul e lilás, usava tranças azul piscina e confeccionara adornos prateados para o cabelo, colares e pulseiras.

Sou suspeita para falar, mas aquele era meu look preferido que minha amiga já tinha elaborado.

— Será que eles vão gostar? — Kim torce as mãos.

— É impossível que não gostem. Sério, você é um artista. Isso — gesticulo, indicando os desenhos — é um presente.

— Você devia começar a vender seus desenhos — comenta Renata, e Kim direciona totalmente sua atenção a ela, com as sobrancelhas franzidas. — O quê? É sério. Muita gente na internet pagaria por isso.

— Você acha?

— Se quiser, te ajudo a montar um perfil — os dois trocam sorrisos e começam a tagarelar sobre formas de pagamento, montagem de portfólio e vários outros assuntos relacionados à arte.

Kim parece empolgado, porque até aquele momento jamais tinha cogitado que seu talento tinha algum valor. Nunca discutíamos muito sobre carreiras. Não pensávamos em nossos futuros tão a sério, porque ainda teríamos um ano inteiro antes de ter que tomar uma decisão envolvendo vestibulares e outros caminhos profissionais.

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