(o primeiro amor de toda romântica incurável)
CERTO, MARTIN NÃO fuma cigarros. Não que eu saiba.
Mas ele faz bem esse tipo meio metido a revoltado, rebelde sem causa. Apesar do calor atípico para o mês de maio na cidade litorânea em que vivemos, ele veste calças pretas com rasgos nos joelhos, tênis quadriculado, cinto de rebites e a camiseta do uniforme está mais ajustada em seu corpo do que nos outros garotos.
Tenho certeza de que se seus pais permitissem, ele pintaria o cabelo preto de um tom ainda mais preto e usaria lápis de olho.
Martín tem um metro e oitenta, pele naturalmente bronzeada e olhos também castanhos e redondos. Ele tem um nariz super afilado, em um formato que chama atenção por ser tão perfeito que poderia ter sido desenhado. Seu maxilar é marcado nas bochechas. Hádria me disse que ele tem pequenas tatuagens por todo o corpo, mas só em lugares que podia esconder dos pais. Eu mesma nunca vi uma.
É óbvio que eu pirei nele no instante o vi pela primeira vez. E ele nem tinha aquela pose toda, o cabelo de rockstar e ainda nem era bom na guitarra.
Eu e Hádria tínhamos oito anos. Martin bateu na porta de casa, convidando "os gêmeos" para brincar em seu quintal. Éramos novos da cidade e as aulas ainda não tinham começado. Ou seja, a vida era um tédio sem fim, porque não tínhamos amigos e precisávamos nos contentar com a companhia um do outro.
Amo meu irmão, não me entenda mal.
Mas ter um amigo que seja na cidade não seria a pior coisa do mundo. Um amigo que era bonitinho, então...
Só que, para o meu terror, depois daquele primeiro dia de pique-pega no quintal de Martin, o garoto bonito tinha virado o melhor amigo do meu irmão e eu tinha sido meio excluída da dupla dinâmica. À medida em que a adolescência foi chegando e os garotos foram crescendo e se tornando, bem, garotos, nossa guerra se tornou declarada.
A diferença é que, alguns anos depois, meu irmão já tinha passado da fase de implicar comigo. Martin, por outro lado, tinha tornado isso um grande traço na sua personalidade.
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A lista de clichês
Teen FictionAurora Moreau se autodiagnosticou como uma romântica incurável logo após o seu primeiro contato com uma história de amor ficcional. Desde então, consome incessantemente livros de romance, fanfics, filmes, séries, todo o tipo de mídia que conte a his...