29 | o vilão fica com a garota

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A PLATEIA IRROMPE em aplausos e assobios e gritos que eu devia estar escutando, mas não passam de barulho ambiente

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A PLATEIA IRROMPE em aplausos e assobios e gritos que eu devia estar escutando, mas não passam de barulho ambiente. O mundo inteiro está no mudo, e a única coisa que eu consigo ouvir é a voz de Martin Borges cantando os versos que só têm significado para nós. Que ocultam as verdades sobre o nosso relacionamento, que ninguém mais conhece.

Estou catatônica, em estado de completa descrença, encarando o meu par de olhos favoritos de cima daquele palco, sentado sobre um banquinho e cantando, ao violão, a música que ele tinha escrito para mim.

Só para mim.

Essa aqui se chama "Aurora".

Aquilo tinha mesmo acontecido? Ou era apenas produto da minha imaginação fértil? De um cérebro viciado em romances fofos, em fanfics que alimentaram a minha alma pré-adolescente, nas quais essas coisas são praticamente obrigatórias para que a história seja considerada boa?

Penso em pedir a Janine para me beliscar, mas ela está ocupada demais chamando a própria namorada de "gostosa" aos berros, embora seja uma apresentação acústica, imitando uma fã exagerada de boybands.

Martin não sorri para mim. Ele não parece afetado pela explosão de berros que está acontecendo naquela plateia quando ele finaliza a apresentação de "Aurora". Apenas indica, quase imperceptivelmente, o camarim com um gesto das sobrancelhas.

E eu vou.

No palco, Martin passa a alça do violão pela cabeça, enfiando-a nas mãos de Bento de qualquer jeito.

Nunca vi Martin Borges tratar tão mal um objeto tão valioso para ele.

Corro para os bastidores em disparada, passando pelo que me pareceram ser milhares de pessoas me dando tapinhas nos ombros e me dizendo que aquela era a coisa mais romântica que já tinham visto. Eu me torturaria por ser mal-educada depois, porque preciso vê-lo.

Ainda torcendo as mãos, observo enquanto ele corre até mim e segura minha cabeça entre as mãos, enterrando os dedos no meu cabelo. O contato da pele dele com a minha está na minha memória muscular, e eu me acomodo naquela proximidade, sentindo que nenhum dia se passou desde a última vez que o abracei.

— Me perdoa — é o que ele diz. Estou tão emocionada com tudo, que levo um segundo para entender o porquê de ele estar me pedindo desculpas, quando ele prossegue. — Eu não devia ter te deixado ir embora daquela festa. Cara, eu não devia ter permitido que você saísse daquele quarto. Se eu não fosse um imbecil, eu nunca teria aceitado que você passasse um minuto da sua vida sem saber o que eu sinto por você.

— Martin — coloco minhas mãos sobre as dele, que acariciam meus cabelos, enquanto meus olhos se enchem de lágrimas —, você escreveu aquela música?

— Sim — ele bufa, exasperado.

— Para mim?

— Acho que essa parte é óbvia.

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