— NEM ACREDITO QUE já estamos fazendo isso há duas semanas e ninguém descobriu ainda que esse namoro é de mentirinha — comenta Martin, enquanto caminhamos pela praia de mãos dadas.
Quando estávamos na casa de praia, eu tinha pedido a ele que me buscasse na beira do mar durante o pôr-do-sol, mas os pais dele nos convidaram para assistir a um filme com eles bem na hora. Então, Martin se comprometeu a ir comigo até a praia quando estivéssemos de volta na cidade, e tinha cumprido sua promessa.
Mais cedo, ele me mandou uma mensagem dizendo que em um grupo com os amigos, todos combinaram de fazer um pequeno luau ao entardecer. Martin e Julia foram intimados a comparecer por suas habilidades no violão, e eu, por tabela, iria também. Eu era uma namorada, afinal.
O céu estava colorido de tons fortes de laranja e púrpura. Preciso fazer isso mais vezes, é o que penso enquanto observo as ondas calmas do fim de tarde. Apesar de morar perto da praia, eu raramente caminhava no calçadão.
— Somos ótimos atores — digo, porque não sei o que dizer. Nossos dedos estão entrelaçados e o calor de nossas palmas em contato me distrai.
— Você tem muito repertório — ele indica o livro que está debaixo do meu braço. Eu é que não iria correr o risco de aparecer em uma função social sem uma opção de leitura para me levar dali, caso eu me sentisse esquisita.
Olho para o meu livro, uma nova edição de Aconteceu naquele verão, da Tessa Bailey. Estava lendo pela segunda vez, porque tinha gostado muito de ver o desenvolvimento da protagonista ao longo das páginas.
Martin e eu avistamos o pequeno grupo de pessoas que reconheço do colégio, todos reunidos em volta de um isopor cheio de cervejas e refrigerante. Hádria, Bento, Julia e Janine já estavam lá, separados em um grupinho e dando risadas. Antes de nos unirmos a eles, Martin vai até uma barraca e compra água de coco para nós, já que não estávamos querendo beber álcool. Eu sou fraca para bebida, e ele não gosta de beber quando vai tocar, mesmo que para um público que é basicamente composto por seus amigos.
Nos juntamos ao grupo, que conversa animadamente. Então, Hádria pega o violão e vai com Bento até o centro da roda, para que ele cantasse. Ouço as primeiras notas da música She will be loved, do Maroon 5. Um clássico que se adequa perfeitamente ao timbre de Bento.
Julia e Janine se aproximam da música, liberando duas cadeiras de praia para que eu me sentasse com Martin. Penso que ele vai querer estar perto da música, mas ele decide ficar. Estamos um pouco afastados, e a música nos garante alguma privacidade.
— Kim e Renata decidiram não vir? — ele me pergunta, puxando assunto.
— Foram ao cinema — conto a ele, e olho à minha volta. Definitivamente, aquela não era a cena das minhas amigas. Nem a minha.
Ficamos calados por um momento, e eu fico admirando as habilidades sociais das outras pessoas naquele luau. Eu jamais seria capaz de ficar tão confortável no meio de todas aquelas pessoas, como meu irmão e Bento estavam. Faço mais o tipo introvertida, e me dou melhor em interações um a um, ou em grupos pequenos de pessoas.
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A lista de clichês
Ficção AdolescenteAurora Moreau se autodiagnosticou como uma romântica incurável logo após o seu primeiro contato com uma história de amor ficcional. Desde então, consome incessantemente livros de romance, fanfics, filmes, séries, todo o tipo de mídia que conte a his...