(não quando é irritante)
O PRIMEIRO ENSAIO da banda que Martin tinha formado para o show de talentos aconteceria na semana seguinte. Para esse, eu não estava convidada, a despeito dos meus protestos.
Após uma discussão intensa a respeito, na qual eu joguei na cara dele que todo o propósito daquele namoro falso era eu me aproximar do Bento e que sem frequentar os ensaios isso seria um pouco difícil, ele permaneceu irredutível.
Por ser o ensaio inaugural da banda, Martin não queria ninguém de fora para atrapalhar o entrosamento dos integrantes. Nem a namorada de Julia, a garota que tinha inspirado a regra de "apenas namoradas são permitidas", poderia comparecer a esse.
Tive que me conformar. Se ele fosse meu namorado de verdade, eu faria uma greve de beijos ou algo igualmente impactante para puni-lo.
Estou na sala de estar, lendo meu já surrado exemplar do livro O Acordo, da Elle Kennedy, quando ouvi a maçaneta da porta se abrindo. Chuto o livro para o lado e vou até a porta, porque Martin já havia me avisado por mensagem que tinha sido convidado por Hádria a jantar conosco. Comentei com Zizi, que ficou me atormentando por horas com conselhos para me tranquilizar, já que seria o meu primeiro jantar com namorado na frente dos nossos pais.
— Estou tranquila — eu disse mais cedo, quando minha irmã estava no meu quarto fazendo babyliss no meu espelho. Segundo ela, era o cômodo da casa com a melhor iluminação.
— É por isso que já é a quarta vez que confere a maquiagem na câmera frontal do celular?
Eu estava apreensiva com a chance de que Bento também fosse convidado para o jantar, mas não podia dizer isso a ela.
Não respondo, contendo o impulso infantil de mostrar a língua para Zizi.
— Bem maduro da sua parte não estar preocupada.
— Martin já conhece nossos pais — justifico.
— C'est vrai — seus olhos me encaram pelo espelho. É verdade. — Ainda assim. Papai vai dar uma dura nele, só para manter o moral. Foi assim com Felipe.
— Eu vou gostar de ver isso — dou um sorriso malicioso, e Zizi ri, revirando os olhos com humor.
— Ah, então é assim que vai ser — ela diz. — Eu estava na dúvida.
— É assim que vai ser o quê?
— O relacionamento de vocês. Estava me perguntando se iam ser mais fofinhos, ou se essa dinâmica de implicar um com o outro continuaria.
— Nós somos muito fofos um com o outro, tá? — defendo, preocupada com a farsa. Zizi apenas agita negativamente a cabeça, como se eu fosse só uma garotinha que não sabe nada sobre o amor.
Por segurança, mando uma mensagem para Martin, lembrando-o de ser ainda mais afetuoso que o normal na frente dos meus pais, e, principalmente, de Zizi. Essa família tem um QI elevado demais para o próprio bem e não seria enganada com facilidade.
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A lista de clichês
Fiksi RemajaAurora Moreau se autodiagnosticou como uma romântica incurável logo após o seu primeiro contato com uma história de amor ficcional. Desde então, consome incessantemente livros de romance, fanfics, filmes, séries, todo o tipo de mídia que conte a his...