Parte II

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   Ouvi o solado do sapato da minha mãe, fazer barulho no chão encerado da sala, já sabia que a casa estava cheia novamente, pois todos tinham ido a oração da manhã de domingo.
   Saí da cadeira do computador em um pulo e deitei na cama fingindo não fazer nada, mexia nas unhas pintadas de vermelho, quando Rute adentrou.

- E aí, queridinha? -adorava chamar ela assim, porque ela odiava.

- Nem pra arrumar esse quarto tu presta, em. -implicou.

- Minha cama está linda. -retruquei.

- Daqui a pouco Dona Maria vem aqui soltar os cachorros contigo,por não ter nem adiantado algo do almoço pra ela. -ela riu e foi separar uma roupa para o banho.

   Eu tinha que disfarçar minha ansiedade, pois não havia nenhum ser nesta Terra mais observador do que Rute.

- Vai roer mesmo as unhas? -ela perguntou sabendo que eu sempre dava um chilique quando as mesmas se quebravam. - Ansiosa para quê? -indagou.

- Nada, ué. -fingi.

- Sei. -desconfiou e saiu.

  Não disse!  Essa garota percebe tudo, que droga!

- Ester, será que você não podia fazer um arroz para o almoço? -minha mãe chegou reclamando, provavelmente soltaria os cachorros pra cima de mim,com minha irmã havia previsto.

- Mãe, sabe que todo mundo reclama da minha comida! -falei nada mais que a verdade.

- E o banheiro?  Não podia ter lavado? -continuou recolhendo as roupas de Rute que se espalharam no chão.

- Tá legal, vou lá lavar. -concordei para dar fim à bronca.

  Saí do quarto, passei por Seu Onofre e dei um beijo em seu rosto,fazendo pinicar minha boca por causa de sua barba mal feita.

- E aí, minha filha? -ele sorriu me devolvendo o beijo.

- Vou limpar o banheiro, Pai. Antes que minha mãe venha atrás de mim pra reclamar mais. -ri.

  Encontrei João parado bem na porta do banheiro, baguncei seu cabelo só de implicância.

- Vai a merda, idiota! -soltou sua 'rebeldia quinze anos '.

- Olha a  boca suja, deixa tua protetora ouvir você falando isso. -dei uma gargalhada e entrei.

  Tá, eu sei que sou bem implicante, mas só estava cumprindo meu papel de irmã mais velha.

   Coloquei um balde em baixo do chuveiro ligado e comecei a ler os rótulos dos produtos de limpeza, não ligo de ser a única pessoa no mundo que ler rótulos, só pra deixar claro. Depois de cheio, o balde, despejei um produto apropriado, sabor menta.

- Já falei que essas coisas não tem sabor, é aroma, Ester, AROMA! Ou você tomaria um desinfetante sabor hortelã ? -minha mãe sempre me repreendia quando eu dizia que produtos de limpeza tinham sabores, ainda assim eu não tinha acostumado.

   Ouvi a voz de mamãe gritar na minha mente,mas não dei idéia, continuei limpando, depois de ter o chão brilhando e cheirando bem, eu precisava dar um jeito no vaso sanitário, apenas joguei um líquido que fez pouca espuma e dei descarga, aquela onda de água, limpando me fez fantasiar:

   Um surfista gostosão, loirinho com cabelos beirando os ombros e corpo dourado pelo Sol do Rio de janeiro.

- E aí, gata, ta sozinha? -ele me pergunta fincando sua prancha na areia.

- Tô. -eu respondo com voz de mocinha.

- Vamos cair no mar? -joga seu charme.

- Não sei nadar. -digo.

Amor Fora Da Lei [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora