Flertando com o perigo

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Estava no trabalho quando vi a movimentação da minha chefe por ali, mas não me importei porque ela era espalhafatosa e o silêncio definitivamente não combinava com ela. Fui até a impressora que ficava na sala ao lado, e vi Marta de costas para a porta. Ela conversava com a Raquel e ambas estavam tão concentradas que nem perceberam a minha presença.

— A gata foi no seu local de trabalho, e não falou com você? — Perguntou Vanessa enquanto respondia alguém no celular.

— Normal, ela foi ver a amiga dela, e não me ver.

— Quando você vai...

— Quando ele voltar. — Respondi cortando-a. — Independente dela ou não, a minha relação com o Flávio não tem a menor condição de seguir adiante.

— Amém! Temia que você se decidisse tarde demais. — Ela fez uma pausa e me olhou. — O que vai fazer hoje? Podíamos jantar em um restaurante chique, tomando bons vinhos, fazendo cara de rica com boletos pagos, o que acha?

— Acho legal. — Respondi. — Qualquer coisa que me tire de casa para não pensar nos problemas me parece uma ótima ideia.

Flávio me ligou como todos os dias desde que ele viajou, e nos falamos por alguns minutos. Eu sentia como eu estava fria, e ele não merecia isso, a cada dia que se passava, era mais claro para mim que eu devia terminar de uma vez com nossa relação

Eu ficava tentando entender o que de fato aconteceu naquele dia, será que me envolvi com a Marta por alguma fragilidade no meu relacionamento com ele? Ou foi apenas por eu ser uma grande filha da puta sem caráter? As vezes as justificativas que buscamos, não existem, as vezes os culpados do que acontece com a gente, somos nós mesmos.

Estava me arrumando quando vi Vanessa avisar que estava saindo de casa, terminei rapidamente o que fazia, e saí. Entramos no restaurante e nos sentamos, Vanessa parecia pensativa olhando para alguém, mas eu não a questionei.

— Ela está aqui. — Disse enfim, me fazendo procura-la com o olhar. — Disfarça, pelo amor de Deus!

Marta estava no piso térreo jantando com a Ingrid, e do local que estávamos, ela só conseguiria nos ver se olhasse para cima.

— Quem é essa?

— O cão de guarda. — Disse.

Fiz com que a Vanessa trocasse de lugar comigo, e olhei para elas. Marta sorria para ela, enquanto Ingrid acariciava seu rosto. Nem sei por quanto tempo eu fiquei ali analisando elas, enquanto via a sabugo tocar nela o tempo inteiro.

— Quer ir embora? — Perguntou Vanessa.

— Não. Quero entender algumas coisas...

Em certo momento, Marta se levantou indo em direção aos banheiros, e eu me levantei ao ver que Ingrid continuava na mesa.

— Melissa... — Vanessa tentou me parar, mas já era tarde.

Abri a bolsa retocando o batom vermelho enquanto esperava tranquilamente que ela saísse de uma das cabines, o que não demorou muito. Trocamos olhares e ela se aproximou de mim, seu olhar percorreu o pequeno espaço esperando que uma mulher que também estava ali, saísse.

— Boa noite, Marta. — Disse de uma vez. Ela percorreu o meu corpo com o seu olhar curioso, e eu sorri brevemente vendo que estávamos agora a sós. — Eu agora entendi os seus motivos para pedir um tempo, e já adianto que não precisa de tempo nenhum, já está tudo mais do que claro para mim.

— Mel...

— Sabe de uma coisa? Vocês se merecem.

Ela tocou no meu braço tentando me impedir de sair, e eu puxei-o com força saindo rapidamente. Vanessa me olhou e maneou a cabeça negando, eu me sentei e fechei os olhos soltando o ar devagar.

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