Contra a parede

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Alguns dias se passaram e eu ainda me recuperava de algumas cirurgias das quais fui submetida, sendo uma delas a de reconstituição do meu nariz e maxilar que foram quebrados.

Raquel mandou flores, Vanessa conversou comigo por vários dias por telefone tentando tirar de mim alguma informação relevante, assim como Marta, e até mesmo os policiais.

Marta dirigia em silêncio, meu corpo ainda frágil precisava de cuidados, mas eu não aguentava mais ficar sem minha filha, e consegui convencê-la a me levar até a casa dos meus pais logo após ter alta hospitalar.

Com ajuda de uma cadeira de rodas eu entrei em casa, minha mãe me olhou aflita, mas eu não queria preocupa-la, e só estou aqui porque não aguento mais de saudades da minha filha.

— Estou bem, mãe. E a Yasmin? — Perguntei mudando o foco do seu olhar.

— No quarto, acabei de colocá-la para dormir.

Eu deixei-as para trás, e entrei no meu antigo quarto, que agora tinha uma cama de casal, e o berço da minha pequena. Ela estava dormindo tranquilamente, suas bochechas coradas aliviavam o meu coração, ela estava bem, saudável, e perfeita como um anjinho. Nunca eu poderia me arrepender de tê-la escolhido para mim.

— Filha, eu fiz aquela cocada cremosa que você gostou da última vez que esteve aqui. Até separei um pouco que é para você levar. — Disse mamãe.

— Obrigada, dona Rosana. Mas não precisava se preocupar. Não quero dar trabalho para a senhora. — Respondeu Marta.

— Que isso, não é trabalho nenhum. É um prazer!

Me aproximei e encarei a cena a minha frente. Marta deixou um sorriso escapar ao ver minha reação, e me aproximei da mesa.

— Tem alguma coisa para mim nessa casa, ou só para a Marta? — Mamãe me olhou e se aproximou com um prato de canja.

— Eu fiz uma canja forte, você precisa se alimentar. Marta me ligou dizendo que vocês estavam vindo para cá, e me adiantei.

Eu comi com um pouco de dificuldade, mas a fome era tanta, que a dor não me impedia de desfrutar daquele momento maravilhoso. Depois de comer, eu fui para o quarto e vi Marta entrar. Ela olhou para Yasmin e em seguida para mim.

— Quer ajuda para tomar banho?

Eu olhei para ela dividida entre a vontade de tomar um banho descente, e o constrangimento de ter que pedir ajuda. E na dúvida acabei aceitando.

Marta fechou a porta e me ajudou a tirar a roupa, eu ainda não tinha me visto nua, meu corpo estava repleto de hematomas, e eu ainda não tive coragem de encarar um espelho por medo do meu rosto estar mais machucado do que eu posso imaginar.

Em pé, eu tinha um pouco de dificuldade para andar, as dores só não eram maiores do que a minha vontade de me recuperar rapidamente. Marta ligou o chuveiro e me ajudou a entrar, ficamos em silêncio por um longo tempo, ela limpava o meu corpo com cuidado, enquanto eu me apoiava em seu ombro.

Com sua ajuda, eu vesti um moletom confortável e me sentei na minha cama. Ela ajeitou os travesseiros, e se sentou ao meu lado.

— Quer que eu pegue ela? — Perguntou me observando.

— Por favor. — Ela se levantou pegando minha pequena e colocando-a em meus braços, em uma posição confortável para mim.

— Mel... — Ela me olhou, e eu conhecia bem aquele olhar... — Quem fez isso com você?

— Eu não lembro, já disse. — Ela me olhou e negou como se não acreditasse.

— Melissa, isso aconteceu um dia após aquele incidente com a Ingrid. Tudo me leva a crer que ela tem muito a ver com isso, e por coincidência ou não, faz dias que eu não consigo encontrá-la. — Eu olhei para ela em silêncio. — Você foi espancada, teve várias escoriações e fraturas, teve o nariz quebrado e por muito pouco não perdeu a visão do olho esquerdo. Eu entendo que esteja com medo de falar o que sabe, nem imagino o que você deve estar sentindo, mas vai ser impossível você estar totalmente segura se não colaborar para colocar quem quer que seja atrás das grades. O meu advogado está à sua disposição para te ajudar com isso.

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