Escolhas

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As coisas não são tão simples como parecem, no último fim de semana em que estava previsto para que o Flávio voltasse, ele acabou precisando se estender um pouco mais do que o esperado. Se eu já tinha pensado em terminar mesmo assim? Diversas vezes, mas sempre achei uma falta de respeito enorme aquelas pessoas que namoram por anos e terminam por uma mensagem ou uma ligação, não que eu tenha muita moral para falar em respeito, acho que nesse assunto eu consegui extrapolar todos os limites, porém se eu posso fazer algo certo ainda, eu farei.

— Por que você não usa o meu carro? — Perguntou Marta enquanto preparava o jantar.

— Não, Marta. Não posso, pelo menos por enquanto. — Ela me olhou e assentiu.

Eu peguei o celular e fui atender na varanda, Flávio me ligava todas as noites, e nem sei explicar o quanto isso ainda era desconfortável como um todo.

— Estou no aeroporto, acho que devo chegar no país amanhã no horário do almoço ou um pouco antes. — Disse ele me fazendo ficar tensa.

— Que bom.

Conversamos por mais algum tempo, antes que eu desligasse. Eu definitivamente precisava terminar essa nossa relação de uma vez.

— Ele chega amanhã. — Disse vendo-a concentrada no jantar. — Vou almoçar em casa e esperar por ele. — Ela não respondeu, apenas maneou a cabeça concordando. Ela estava tão apreensiva quanto eu, e não dava para disfarçar.

Naquela noite jantamos em silêncio, não conseguimos mais ter qualquer assunto, e apenas dormimos uma ao lado da outra. Cada uma com suas preocupações e individualidades.

Eu preferi pegar um táxi para ir para o trabalho, não queria correr o risco do Flávio estar pela manhã na frente do escritório, e me ver chegar no carro da Marta.

Eu estive o dia todo sem conseguir me concentrar, ficava pensando e repensando o que eu diria para ele, tentando escolher as melhores palavras, ou até mesmo prever sua reação para saber o que fazer, a ansiedade me consumia. Ele não chegou no horário de almoço, eu almocei com a Vanessa e pude me acalmar um pouco em sua companhia.

— Vai dar tudo certo. — Disse ela mais confiante do que eu. — Pode parecer difícil, mas depois você vai se sentir aliviada. É o certo a se fazer.

— Eu sei...

O Flávio me ligou dizendo que estava me esperando na frente do escritório, e meu corpo inteiro tensionou. Arrumei minhas coisas, e conferi pela vigésima vez se eu tinha apagado as mensagens e ligações com a Marta. Ele estava do lado de fora do carro, e veio em minha direção me levantando pela cintura enquanto beijava os meus lábios com saudade.

— Você está ainda mais linda. — Disse ele abrindo a porta do carro para mim.

Enquanto ele falava com empolgação sobre o trabalho, eu ouvia atentamente tentando acalmar o nervosismo que sentia. Mas era em vão, e eu sabia disso. Assim que descemos do carro uma senhora me chamou, caminhando em minha direção com uma caixa nas mãos.

— Melissa, né? Você estava viajando? — Eu olhei para a velha fofoqueira e quis me enterrar junto com ela depois de matá-la.

— Não, por quê?

— Trouxeram essa caixa, uma transportadora procurou você vários dias, e também durante a noite, mas não conseguiu te encontrar. E eu recebi para você.

— Muito obrigada. — Respondi vendo que Flávio nos observava.

Entrei em casa e coloquei a caixa na bancada, Flávio me olhou e voltou a me beijar, agarrando e minha cintura sem desgrudar os olhos dos meus.

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