Tempestades

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Eu não tenho dúvidas do quanto eu estou errada em estar aqui, e em corresponder carinhosamente tudo o que ele faz por mim. Transamos várias vezes naquele fim de semana, até que eu me sentisse de fato exausta.

— Quando chegar me liga? — Disse ele me abraçando e me beijando.

— Ligo sim.

Nos despedimos e entrei no táxi de volta. Até pensei em ligar para Marta, porém na estrada era um pouco difícil conseguir encontrar algum sinal, e preferi voltar para casa e de lá tentar. O celular da Marta esteve desligado todos os momentos em que tentei ligar para ela, e descobri por Flávio na metade da semana, que ela havia saído do país.

O que eu mais temia aconteceu, com a ausência dela, a minha relação com o Flávio estava tão leve, que eu não tive coragem de terminar. Talvez se ela não voltasse mais, eu poderia esquecer essa loucura que vivemos e seguir em frente.

Flávio abriu uma cerveja e se sentou de frente para o computador jogando algum jogo aparentemente interessante. Eu assistia a minha série enquanto devorava uma barra de chocolate com os pés para cima. A porta se abriu e vi Marta entrar, trocamos olhares em silêncio, e meu corpo todo respondeu a sua presença.

Jantamos juntos e ela não me olhava nos olhos, mas conversava com Flávio explicando, ou melhor, justificando sua viagem. Marta deixou claro ali, mais para mim do que para o seu filho, que estava indo de vez para Londres em poucos dias, e que pretendia voltar apenas para o nosso casamento.

Uma angústia me sufocava, e me fazia ter uma louca vontade de chorar, a verdade é que eu não queria que ela fosse embora, e sei que era até meio egoísta levando em conta que ainda não defini os rumos do meu noivado, apesar de não ter dúvidas do que preciso fazer.

Quando eu acordei, ouvi Flávio conversando com a mãe na sala, eu estava angustiada por não saber se conseguiria falar com ela a sós em algum momento. Eu queria ter a oportunidade de saber o que ela queria no dia em que me ligou, e depois do Flávio ter atendido, nunca mais nos falamos.

Eu acho que nunca estive tão inquieta em toda a minha vida. Eu tentava encontrar ideias para afastar o Flávio daquela casa sem parecer proposital, mas era até mesmo cansativo não conseguir nem ao menos pensar com clareza.

Eu vi que ela estava arrumada e pegou uma bolsa, Flávio estava concentrado jogando, e eu sabia que precisava aproveitar a oportunidade que podia ser a última.

— Filho, vou usar o seu carro. — Disse ela mostrando as chaves.

— Vou aproveitar a carona. — Disse olhando para ela que pareceu não gostar. — Você pode me deixar no shopping?

— Claro. — Respondeu de contragosto.

Me arrumei rapidamente e desci ao lado dela. Quando entramos no carro, ela suspirou e me encarou visivelmente irritada. Eu ignorei o seu surto de raiva, e esperei tranquilamente que ela saísse do alcance das câmeras de monitoramento do condomínio.

— Eu tentei falar com você por dias. Você me mandou mensagens, ligou para mim... o que você e Flávio conversaram naquele dia? O que houve que depois daquela ligação você não me atendeu mais?

— Qual shopping devo deixar você?

— Marta, o que aconteceu? Fala comigo, me explica, eu preciso entender. — Ela fez uma pausa e me olhou voltando atenção para o trânsito.

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