Mal entendidos

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A casa dos meus pais começava a ganhar forma com as mudanças que pedi. O jardim da mamãe estava lindo, as roseiras estavam no seu melhor momento, e minha mãe estava feliz. A horta de papai também entraria no meu projeto, eu queria uma coisa mais organizada e com um sistema inteligente de irrigação, e meu pai que é um pouco apegado com suas coisas, também gostou da ideia me dando sinal verde para prosseguir.

Lembro que meu sonho na infância era ter uma piscina, mas não tínhamos condições na época, e minha mãe enchia uma bacia grande de água que era o meu divertimento no verão, todas as minhas amigas do colégio brincavam nesse quintal, são tantas lembranças boas que tenho deste lugar.

— Melissa, o quindim já está pronto. Vai querer? — Mamãe me chamou, e eu deixei o projeto um pouco de lado, correndo para a cozinha.

— Meu Deus, mãe! Esse cheiro...

— Cuidado, está quente. Só te chamei porque você disse que queria ainda quente.

— Sim, obrigada mãe. — Me sentei e comi em silêncio, enquanto via mamãe preparar o nosso almoço.

Ela me contava com empolgação sobre fofocas dos vizinhos, e também as últimas notícias da família. Nós nem tínhamos uma relação próxima com os familiares, mas as notícias corriam a todo vapor.

Foi mais um fim de semana que passei na companhia dos meus pais, ao chegar em casa, coloquei as roupas na máquina enquanto esquentava o jantar. Minha mãe definitivamente acreditava que eu passava fome e só me deixava sair de lá carregada de bolsas e mais bolsas com comida.

Nos dias seguintes, estive brevemente com a Marta, ela está muito ocupada com os trâmites da audiência que já foi marcada, mas um pouco mais tranquila em relação ao processo judicial.

— Vocês vão sair para jantar? — Questionou Vanessa.

— Sim, no final de semana. — Confirmei. — Na verdade com tudo o que aconteceu, estamos ainda nos reaproximando, sei que a cabeça dela está em outro universo.

— E a sua também. — Concluiu me observando. — Por que não conta para ela?

— Não posso... não consigo. Eu tenho muito medo da reação dela, eu não posso me arriscar.

Eu e a Vanessa estávamos em uma pracinha tomando sorvete no fim do expediente. Vanessa me contava com empolgação sobre a relação com a Michele, que inclusive já deveria estar chegando do trabalho para nos encontrar.

— Oi. — Disse Michele nos cumprimentando e beijando Vanessa antes de se sentar. — Quero sorvete também!

— Eu vou com você. — Me ofereci.

Entramos na sorveteria que ficava bem de frente para a praça, enquanto decidíamos os sabores. Michele me falava sobre os planos para o aniversário da Vanessa que se aproximava, e eu ouvia com atenção opinando também, minha amiga não gosta muito de surpresas, mas sei que ficaria muito feliz com o que a gente planejava.

Saí da sorveteria em direção a Vanessa e por um momento travei, Michele também teve a mesma reação. Vanessa estava aos beijos com a Gabi.

— Michele... espera. — Eu tentei falar, mas quando vi, ela já estava longe. Vanessa saiu rapidamente em direção a Michele, e Gabi me encarou sem entender nada.

Caminhei lentamente até a Gabi e a abracei me sentando e respirando fundo. Ela arqueou a sobrancelha e roubou um pouco do meu sorvete.

— Sabe por acaso o que deu na sua amiga que saiu correndo daqui? — Eu sorri e maneei a cabeça negando a mim mesma o que eu acabei de ver.

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