Era um pouco confuso como as coisas estavam entre nós, eu sentia falta da Marta, e sabia o quanto ela estava sofrendo pelo processo judicial que enfrentava, e nossa relação também estava estremecida, ela não estava bem, e eu conseguia entender.
Marta usava um terninho elegante enquanto analisava o cardápio em suas mãos, olhei suas unhas bem feitas e suas jóias de bom gosto, que pouco combinavam com seu olhar entristecido e seu semblante abatido. Disfarcei enquanto decidia o que eu ia pedir para comer.
— Como estão as coisas? — Perguntei de uma vez, e ela tomou um pouco de sua bebida sem tirar os olhos dos meus.
— Caminhando. — Respondeu pensativa. — Eu precisei vender minha residência em Londres para arcar com algumas coisas exigidas por ele. Em contrapartida, investi em uma rede de hotéis que vai suprir os prejuízos que tive com esse processo.
— Vocês não se falaram mais? — Perguntei com curiosidade.
— Apenas diante do juiz. O Flávio me conhece muito pouco, por achar que me extorquir iria me afetar de alguma forma. Me machuca muito mais ter perdido ele, do que perder dinheiro. — Ela tomou sua bebida e fez uma pausa me analisando. — Ele te procurou?
Eu olhei para ela e senti um frio na barriga, a verdade é que eu o procurei quando descobri a gravidez, e ele foi ao meu encontro para exigir que eu fizesse o aborto, assim como o dia em que ele só não me agrediu ainda mais graças ao segurança do escritório que interviu.
— Não. — Respondi sem encara-lá.
— Você está mentindo. — Concluiu se encostando na cadeira sem tirar os olhos dos meus. — Não está?
— Marta...
— A Raquel me disse, antes que tente mentir para mim. Por que ele foi te procurar?
— Para me irritar, me humilhar. Desculpa, mas não quero falar sobre isso!
Marta estava pensativa, mas eu tenho certeza que por mais que ela soubesse da visita dele, ela não sabe os motivos principais que o levou até lá, nem mesmo que ele tentou me agredir, e isso era o suficiente para me acalmar.
Ela já estava um pouco alta depois de boas doses de vinho, confesso que nunca a vi bebendo assim. Terminamos o nosso jantar, e saímos em direção ao estacionamento. Ela me olhou nos olhos e sorriu, encostando seu corpo no meu.
— Você é o meu céu, e a minha ruína. — Ela cheirou o meu pescoço e eu afastei-a de mim.
— Me entrega as chaves, deixa que eu dirijo. — Disse tocando em sua mão.
— Estou bem. — Eu ignorei, peguei as chaves, e entrei no carro.
Dirigi até o seu apartamento, e percebi que ela não estava bem nem mesmo para andar, estacionei, e por isso decidi subir ao lado dela. Marta me beijou dentro do elevador, e suas mãos foram direto para os meus seios, quando a porta se abriu, eu a puxei e peguei as chaves abrindo a porta em seguida.
Quando entrei em seu apartamento, me deparei com uma visão caótica, garrafas de bebida espalhadas por todos os cômodos, cinzeiros cheios, e eu percebia o quanto ela passava uma falsa visão de estar bem, ou de ser forte. Ela se sentou no sofá e tirou os saltos que usava e eu comecei a organizar as coisas. Ela me chamou algumas vezes, mas eu não respondi. Meu coração estava doendo ao vê-la daquela forma deplorável.
Eu passei um pouco mais de uma hora limpando aquele lugar, ela já tinha dormido no sofá, e eu não consegui segurar o sentimento de tristeza que me sufocava, e acabei chorando muito vendo como ela de fato estava. Três garrafas cheias de vodca foram para o lixo, uma de whisky pela metade também, eu não ia deixar ela se destruir diante dos meu olhos.
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Por acaso
RomanceQuantos acasos podem surgir em nossa jornada, e mudar completamente o rumo dos nossos planos? Melissa estava prestes a firmar o seu noivado com Flávio, quando por ironia do destino, encontrou alguém que balançou completamente as suas estruturas des...