2. vida universitária

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Minha visão estava turva a partir do momento em que desci do ônibus e entrei no campus da Universidade, como se fosse um sonho, como se meu cérebro acreditasse que eu estava sonhando. Meus pés caminhavam em direção ao prédio das aulas, mas meus olhos analisavam todo o lugar com muita atenção - e apreensão - notando os cartazes grudados na parede, as lixeiras de cor laranja espalhadas com uma distância de dois metros uma da outra e, também, os rostos de cada um que passava por ali.

Grupos se juntavam em pé e sentados, não importava para onde eu olhasse tudo se resumia em grupos. Por um minuto me senti em filmes estadunidenses em que os jovens se dividem entre os nerds, os populares, os que estão no clube de música e assim sucessivamente... então, se a faculdade fosse assim, em qual lugar eu me encaixaria?

Não tão longe de onde estava, avistei uma garota loira de vestido estampado parada no meio do saguão. Ela parecia tão assustada quanto eu, mexendo em seu celular com atenção e com a folha da grade de horários em mãos.

Será que eu deveria ir até ela?

Não. Não fui até a garota. Ainda não cheguei neste nível de socialização, mas prometi à dra. Helena que eu seria a primeira pessoa a iniciar uma conversa com alguém nesta primeira semana de aula. Era meu dever de casa, mas eu faria uma análise antes.

Uma coisa que me acalmava nisso era que, no mesmo dia em que meu nome apareceu no listão, uma notificação chegou até mim na rede social em que começava, aos poucos, a postar fotos.

"ESTOU VOLTANDO PARA PORTO ALEGRE"

E, hoje, seria meu dia de reencontrá-la. Paola, a garota que sumiu há três anos, me deixou sozinha para enfrentar o Ensino Médio ao lado de pessoas que começaram a me repugnar. Paola estava de volta, entrando na nova fase da minha vida. Paola, a minha melhor amiga do Ensino Fundamental. A melhor amiga que eu já tive na vida.

Respirei fundo com a lembrança e sorri. Fiz como dra. Helena me ensinou: ergui os ombros, para melhorar a postura e me encorajar, e subi os lances de escada em direção à sala 304: História da Comunicação.

Digitei uma mensagem para minha mãe e Felipe, avisando que já estava aguardando o professor, e então larguei o celular e foquei em olhar para o rosto das pessoas. Dessa vez, queria fazer certo.

— Meu nome é Beatriz, tenho dezenove anos e meu sonho dentro do Jornalismo é me infiltrar na área de moda — sua voz era melodiosa e sociável, divertida. Ao final da sua fala, deu um risinho.

Beatriz era a menina do vestido vermelho florido, minha suposição de ser caloura estava correta.

A sala estava lotada - sério, pelo menos umas trinta pessoas - e o professor pediu que falássemos um pouco sobre nós, logo após ele se apresentar, e começou justamente pela minha fileira. Eu tinha me preparado para isso, treinei com Helena algumas vezes, mas meu coração ainda estava disparando sangue para todo o meu corpo em uma frequência estranha, dando comichão nos dedos da minha mão.

Mais algumas pessoas falaram seus nomes e idades e sonhos enquanto eu me perguntava qual era o meu sonho de verdade. Essa pergunta me foi feita tantas vezes na terapia e eu ainda não sabia qual a resposta certa.

Não vi que era minha vez de falar até o professor, que estranhamente me lembrava de um personagem de desenho animado, chegou na minha frente. Ou melhor, na frente do rapaz que estava sentado ao meu lado, com uma classe vazia entre nós.

Assenti antes de responder, e então tentei elevar um pouco meu tom de voz, para ser ouvida.

— Meu nome é Amanda, tenho dezessete anos e acredito que estou começando a viver um sonho e, para onde quer que ele me leve depois, estou disposta a aceitar de braços abertos. — sorri apertando os lábios como se dissesse "É isso, professor. Sou desinteressante demais, então por favor foque no marombado ao lado para que eu possa fingir que isso não aconteceu e que nada saiu da minha boca."

Estrelas que nos guiamOnde histórias criam vida. Descubra agora