12. explosões no cosmos

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AMANDA

Às 4h da manhã, Ana enviou uma mensagem para o seu pai, pedindo para que ele a buscasse. Esperamos com ela, com a promessa de que iríamos todos juntos e eles nos deixariam em minha casa.

Minha mãe jamais acreditaria que eu estaria chegando poucas horas antes dela, que após o expediente foi para a casa de uma amiga que não via há alguns meses. Ela precisava desse tempo, assim como eu precisava desse momento de descontração.

O álcool não estava mais circulando pelo meu corpo há algum tempo, não havia ingerido o suficiente para que ele fizesse efeito por tanto tempo. Mas, assim que voltei ao meu estado normal, Ana se descontrolou quase que 100%. Infelizmente, José foi o alvo. Eles não se desgrudaram desde o momento do beijo, ficaram juntos, dançaram e riram como se fossem o casal perfeito e estivessem passando pelo melhor momento do início de um relacionamento - assim como nos livros, sabe? Quando os personagens começam a se apaixonar e ver tudo de perfeito que existe um no outro. Pouco tempo antes de todo o conto de fadas desabar.

O mais incrível é que Ana realmente parecia feliz com ele, ela ficava menos tensa e parecia segura, como se o seu mundo girasse ao redor de José. Como se ele fosse tudo o que existia para ela. Como se todas as coisas ruins não tivessem importância no momento em que estavam juntos, se divertindo.

Por mais que meu foco naquela noite fosse me divertir, saí de lá com a consciência de que havia muitas coisas na vida dos meus colegas, que eu via todos os dias, que eu não tinha conhecimento. E que cada um deles poderia passar por coisas inimagináveis. E que talvez, só talvez, eu estivesse julgando todos como se ainda tivessem treze anos.

Mesmo não concordando com as coisas que aconteciam naquela turma, eu estava deixando de ver fatos importantes e talvez eu tivesse criado uma história em cima dos acontecimentos do passado e visto muito além, moldando as pessoas com base naquilo, como se elas não pudessem ter mudado, como se elas não pudessem ter motivos injustificáveis para terem feito o que fizeram. Mas esqueci que eu também não fiz nada, não impedi nada. E fui cúmplice de todos eles, mesmo estando do lado oposto.

Criei uma história de suspense quando ela nem era minha para contar. Fui uma péssima futura jornalista, não enxerguei os fatos, não obti conhecimento dos lados da história. Eu não merecia minha vaga, se passasse. Mas merecia aprender, como cada um deles também merece.

Vim em silêncio durante o caminho todo, observando as luzes dos postes, as casas fechadas e o parque vazio. Passamos pelas grandes antenas de comunicação, que serviam para os pré-adolescentes posarem para fotos enquanto bebiam vinho sem o conhecimento dos pais.

Deitei minha cabeça no ombro de Felipe, sentindo o sono pesar. Enxerguei a estrada pelo vidro da frente.

O pai de Ana parecia uma pessoa bacana, descontraído e mente aberta. Sempre soube da sua mãe, mas acabei esquecendo quando esqueci de que cada um dentro daquela sala de aula tinha uma vida fora das quatro paredes e do portão laranja.

Acho que dormi nos minutos antes de chegar em casa, pois Felipe balançou seu ombro, tocando meu rosto, para me acordar.

Antes de sair, agradeci pela carona e agradeci a Ana pela parceria nas danças. Não sei como, mas imaginei que a partir daquele dia, seria uma pessoa melhor com ela, pelo menos com ela.

Já era um começo.

Dentro do meu ambiente colorido, me sentei no sofá sem vontade de levantar e continuar andando para o quarto.

— Vai me deixar dormir sozinho na tua cama hoje? — Felipe perguntou, parando pouco antes do sofá.

Joguei minhas costas para um lado e as pernas para o outro, me deitando.

Estrelas que nos guiamOnde histórias criam vida. Descubra agora