13. estrelas que nos confundem

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FELIPE

Em meus sonhos, Amanda me dizia para deixá-la em paz e saía correndo para longe de meus braços. Em meus sonhos, Amanda dizia que não poderíamos mais ser amigos depois do acontecido.

Em meus sonhos eu não sonhava, tinha pesadelos com um mundo em que Amanda me deixava para trás, perdido em meu próprio caminho pela falta da sua luz me guiando.

Mas acordei com ela ao meu lado na cama, deitada de costas para mim e mais afastada. Ela sempre se mexeu demais enquanto dormia, e por mais que não fosse muito legal vê-la longe de mim após essas imagens que passaram por minha cabeça, eu sabia que nada tinha a ver com o pós festa.

Ou pelo menos é o que eu esperava.

Sentei na cama esperando que seus olhos se abrissem logo, para que eu pudesse levantar. Por mais que estivesse acostumado com seus pais, nunca levantava antes dela. Achava estranho demais interagir com a família antes da própria filha, e nem sabia se a sua mãe já estava em pé, não gostava de ficar sozinho perambulando por aí.

Ao mesmo tempo, o medo do que aconteceria quando ela me visse e se lembrasse da noite anterior fazia meu coração bombear sangue freneticamente pelo corpo. Respirei fundo, tentando acalmar um organismo que queria me manter em alerta para um perigo ainda desconhecido.

Mas Amanda parecia estar descansando de verdade, em um sono profundo. Seus ombros se erguiam e desciam conforme sua respiração, e eu só conseguia observá-la atentamente, analisar seus traços, a curva de seu nariz, as linhas de seus lábios, os fios de seus cílios... e, então, murmurei:

— Eu te amo. Amo você. Amo nossa amizade, tudo o que construímos. Amo tua alma, teu coração. Eu te amo por inteiro, Amanda Nascimento. E todo meu coração se tornou seu.

Apertei meus lábios, impedindo-me de continuar falando qualquer coisa.

Deitei para trás, encostando o travesseiro na parede, e puxei o celular que estava no bidê ao lado.

"Bom dia" escrevi para Ana, torcendo para que ela também estivesse acordada. Caso contrário, teria que esperar sozinho e remoer tudo em minha cabeça. Cada segundo daquele pós festa.

"Bom dia, dia. Tô com dor de cabeça" ela me enviou em uma mesma mensagem, direta e reta como minha mãe costumava falar.

"Vai beber água hahahah"

Em silêncio, agradeci por ela estar acordada. Éramos parecidos até nisto, dormir tarde pela festa e acordar cedo por continuar sentindo a energia fluindo pelo corpo. Ana era quase minha irmã gêmea, extremamente semelhantes.

Hoje me pergunto se foi por esse motivo que comecei a gostar dela.

"Já fui, tô com uma garrafa aqui do meu lado. E tu, que ta fazendo?"

Olhei para o lado, para a garota que dormia e puxava as cobertas de cima de mim, deixando-me descoberto e com um leve frio nas canelas.

"Estou na cama, a Amanda ainda não acordou."

Ana não sabia que estávamos dormindo juntos. Foi, inclusive, ideia dela que eu me oferecesse para dormir no sofá desta vez. Afinal, como eu poderia lidar com meus sentimentos estando grudado ao corpo dela?

Logo com Amanda, com quem eu já sinto uma conexão vindo da alma.

"E falando nela, preciso te falar uma coisa."

Sim, Ana precisava saber. Ela foi a peça chave para que eu conseguisse compreender o que estava acontecendo dentro de mim. O que me ajudou a descobrir que droga era essa que eu estava sentindo. E ela poderia me ajudar caso as coisas dessem errado depois de Amanda acordar.

Estrelas que nos guiamOnde histórias criam vida. Descubra agora