7. mulheres adultas também choram

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AMANDA

O que é viver, de fato?

Não sei, mas tenho a completa certeza de que não o faço. Independente de ser isso ou aquilo, não vivo. Já aceitei meu fardo.

Uma vida simplesmente insignificante e sem um propósito maior do que me formar no Ensino Médio e passar na faculdade... quem poderia escrever um livro sobre isso? Deixaria todos os leitores caindo de tédio logo nas primeiras páginas, ao perceberem o quão sem importância é a existência de Amanda Nascimento. Que só nasceu mesmo.

Preciso aprender a viver de verdade, dar algum entretenimento caso um dia alguém caia do céu e queira escrever sobre mim. Difícil, mas vai que um dia viro uma profissional muito boa ao ponto de alguém querer publicar minha biografia?

A xícara branca com pétalas rosas aquecia minhas mãos ao aproveitar o sabor do chá de maçã com canela, logo após o almoço.

Minha mãe estava empolgada pelo nosso momento mãe e filha, já havia separado vários filmes me dizendo em que contexto eu poderia usar cada um deles em uma possível redação.

— Podemos assistir O Diabo Veste Prada, para ti dissertar sobre a relação de chefe e funcionário, ou sobre vidas luxuosas do mundo da moda... quem sabe Escritores da Liberdade para utilizar caso o assunto seja sobre a valorização dos profissionais da educação...ou quem sabe...

E assim ela falou uns dez títulos diferentes. Descartei todos, perguntando o que ela realmente queria assistir. Até porque, todos os que ela havia citado eram filmes que ela já tinha visto. Ou seja: qual a graça?

— Mas aí tu pode usar um deles na redação, não tem problema. — Foi o que ela disse, sentada no sofá e tampada com um edredom de cor bordô.

— Não tem problema, o que tu realmente quer assistir? Estudar eu tenho estudado o tempo inteiro. Fala.

Ela sorriu, e me puxou para um abraço. Poderia dizer que estava prestes a chorar, mas acho que nunca vi minha mãe chorando.

— Mãe? — Chamei, esperando que ela me soltasse.

— Vamos assistir uma comédia romântica! — Seu sorriso era brilhante, ia de orelha a orelha. Será que alguém no mundo conseguia sorrir daquela forma?

A observei atentamente enquanto me afastava e cobria meu corpo com a mesma coberta, aproximando-me dela.

Não lembro quanto tempo fazia desde que tinha a abraçado pela última vez. Respirei fundo, me aconchegando na coberta e cobrindo meus pés gelados.

Escolhemos, ou melhor, ela escolheu, Ele não está assim tão afim de você.

Em alguns momentos do filme, minha mãe bufava, revirava os olhos, xingava o personagem do Bradley Cooper e dizia que queria quebrar a cara dele em pedaços.

Seu comportamento estava um tanto quanto fora do comum. Minha mãe adorava filmes, sim, mas ao ponto de falar tanto comentando cada detalhe? Alguma coisa estava muito mal contada nessa história. Nós só xingamos tanto um personagem, com a fúria dela, quando nos colocamos no lugar do outro. Nesse caso, a personagem que ela poderia se colocar no lugar era super rasa, não tinha nem lugar para se colocar.

Quando os créditos apareceram, olhei para ela.

— Mãe, o que foi? — Apoiei a mão em sua perna ao vê-la respirar fundo para reprimir as lágrimas que queriam sair.

Ela sorriu, em vez de chorar.

— Teu pai não está trabalhando fora.

Silêncio.

Estrelas que nos guiamOnde histórias criam vida. Descubra agora