FELIPE
Amanda estava há duas semana sem responder minhas mensagens. Quando nos víamos na escola ela me cumprimentava e, quando a questionava sobre as respostas, sempre respondia que não tinha tempo. Estava ocupada demais.
Eu sei, o vestibular é neste final de semana já, mas a garota simplesmente surtou nos últimos dias. Nem pra me dizer que ela estava viva!
Eu sei, também, que as coisas não têm sido fáceis em casa. Os encontros da mãe com o advogado, os papéis da separação, a agressão do pai. Tanta coisa para digerir em pouco tempo e no meio de algo que ela sempre se dedicou muito: os estudos, seu futuro. Não era fácil, mas ela podia compartilhar comigo.
Me mostrei prestativo várias vezes, mas Amanda era assim. Ela se afastava para resolver sozinha os próprios problemas. Mas isso não fazia bem para ela, e eu nem conseguia imaginar qual seria o resultado desta vez.
Conversei com Ana sobre o assunto, e ela me disse para dar um tempo para minha amiga. Deixar ela respirar com os próprios pulmões, mas sempre me mantendo por perto caso ela precisasse de algo. Em troca, aconselhei Ana a deixar José de lado. Ainda não digeri o fato de ela ter cuidado dos hematomas dele após a aula no dia em que eu e Amanda nos reconciliamos. Ainda não digeri o fato de que ela realmente é apaixonada por ele. Assim como eu era por ela... ou melhor, achava que era.
Ana estava me fazendo enxergar o que eu sempre evitei.
Eu sempre estive apaixonado por Amanda, mas construí uma muralha em torno deste sentimento, para não me magoar.
Descobri isso após uma de nossas inúmeras conversas no tapete de seu quarto.
— Como você e Amanda se tornaram amigos? São tão diferentes um do outro.
Franzi a testa, tentando me lembrar do primeiro momento. Nada me veio à cabeça.
— Foi no primeiro ano, não foi? Lembro de ti sendo novato. — Incentivou. Ela e Amanda eram colegas desde sempre, pois sempre estudaram na mesma escola. E, como ambas me contaram, todos os anos entram alunos novos no ensino médio. Eu fui um deles, e na nossa turma entraram mais cinco comigo. Todos perdidos em meio à pessoas que já se conheciam de anos, mas que estavam dispostos a encarar o ensino médio como uma nova etapa.
Não vi o tempo junto deles como um empecilho, sempre fui muito bom em fazer amigos e, na primeira semana, já tinha o número de todos da turma. Conversava com todo mundo, inclusive com Amanda - mas ela foi um pouco mais difícil de me deixar ser seu amigo.
Começamos fazendo um trabalho de Biologia juntos, já que eu sentava atrás dela na aula - sim desde aquela época. Passamos a tarde na biblioteca da escola, fazendo pesquisas no único computador disponível. A conversa fluía naturalmente, se pararmos para pensar que ela não falava tanto assim dela mesma, estava focada em terminar o trabalho.
Quando eu fazia piadinhas ela não ria, mas ao perceber o quanto eu estava me esforçando para fugir do trabalho ela me olhou e disse:
— Se terminarmos o trabalho vamos ter tempo para rir de piadas, pode ser? Eu realmente preciso ir para casa antes das cinco hoje, é aniversário do meu pai e marcamos de comer salgadinho e cantar parabéns.
— Ah, tudo bem. Eu só queria aliviar um pouco a tensão e seriedade, esse trabalho é muito chato.
— É, botânica não é tão legal assim. — ela fez uma careta enquanto virava as páginas de um livro. Me senti meu pai, que sempre fala da facilidade que temos hoje em dia de pegar as respostas na internet. Mas, segundo Amanda, todas as respostas da aula estavam naquele livro, era só saber procurar.
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Estrelas que nos guiam
Teen FictionSempre ouvimos falar que amizade vem antes de namoro, certo? Isso para Amanda sempre foi muito bem definido: nunca deixar os amigos por conta de um possível namoro, mas para Felipe - seu melhor amigo - as coisas não eram bem assim, sua crença nas pe...