3. os seis motivos

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OS 6 MOTIVOS

AMANDA

O caminho de casa até a escola não era muito longo, apenas vinte minutos caminhando. Mal dava tempo de ouvir as músicas baixadas no meu celular. E eu estava muito viciada em Justin Timberlake e Lorde. Sentia pena era de Felipe, que morava num bairro mais distante e levava cerca de quarenta e cinco minutos de carro para chegar, mas pelo menos ele tinha quarenta e cinco minutos para escutar música, ou ler. Coisa que ele costumava fazer com frequência, todos aqueles livros técnicos me davam agonia. Sempre preferi as Artes, então minhas técnicas eram outras.

Royals tocava em meus ouvidos, a voz sensacional daquela mulher embalava minhas manhãs desde Junho, logo após as férias de inverno, quando voltei a andar até o meu local favorito no mundo - só que não!

Passava pelos portões e pensava que o fim estava próximo, era só uma questão de espera. De muita paciência, na verdade.

Sentei no banco em frente à porta da sala de aula e abri meu livro da vez para me tirar da órbita. Era estranho ler Percy Jackson sabendo que os personagens eram mais novos que eu, mas a mitologia estava me prendendo bastante a atenção nos últimos dias. Um presente de meu pai, amante da cultura Greco-Romana (principalmente a mitologia). Ele reclamava desses livros, mas era o jeito que ele encontrava de me introduzir ao mundo que ele tanto amava: assistindo filmes como 300, Imortais, Fúria de Titãs e Hércules.

Pois é, eu cresci assistindo tudo isso e minha mãe detestava - ela dizia que eram filmes muito pesados para crianças da minha idade. Acho que toda essa paixão foi um dos motivos para a separação que ocorreu há alguns anos.

Quase entrei atrasada na aula, se não fosse por Felipe aparecer na minha frente e morder minha bochecha. Dei um tapa para afastar sua boca enquanto procurava por Ana, gostaria muito de pegar sua reação.

E ela estava lá, desconfortável. Parecia não saber se nos cumprimentava ou não,

— Tá procurando quem? Os peguetes? — Brincou ele, rindo enquanto limpava a baba que havia deixado no meu rosto.

— To procurando a tua noção, idiota. — Bufei.

— Owwwwn, meu chuchuzinho tá vermelho de irritação, né?

O buraco que eu queria cavar para me enterrar era possivelmente maior que a Terra.

— Felipe pelo amor de Deus cala essa boca. — Levantei, ao mesmo tempo percebi que o cadarço do meu all star estava desamarrado.

— Amanda, tu é muito chata e eu amo te fazer passar vergonha. — Ele fez menção de se levantar, mas coloquei o pé no banco e impedi sua saída.

— Faça algo de útil e amarra aí. — Cruzei os braços, esperando. A resposta que obtive foi um "ah é?" com a sobrancelha erguida. Não entendi, pois ele realmente se mexeu para dar o nó...

E então me jogou por cima de seu ombro e eu me senti uma adolescente de filme norte-americano discutindo com o namorado e assim que ousei socar suas costas e reclamar, fiquei em silêncio, guardando para mim toda a indignação. O dia mal havia começado e eu já tinha passado vergonha para a semana inteira.

O professor de Geografia tentava segurar o riso enquanto Felipe me colocava sentada no lugar de sempre. Meus olhos poderiam queimá-lo vivo pelo mico que estava me fazendo passar, mas não ousei abrir a boca.

Apenas alguns minutos depois, quando o professor começou a falar sobre questões de relevo no vestibular e eu virei para trás e perguntei:

— Ei, tem algo para fazer depois da aula?

Estrelas que nos guiamOnde histórias criam vida. Descubra agora