5. zumbis, shows e fichas caindo

37 11 11
                                    

AMANDA

Sentar na última poltrona do cinema com um balde de pipoca no colo e um grande copo de refrigerante era tudo o que eu estava precisando para me sentir eu novamente. A ausência de companhia para assistir filmes era reconfortante, sentir a solidão me abraçando era revigorante.

Guerra Mundial Z estava passando na grande tela, as pessoas espalhadas por toda a extensão da sala e a paz que eu precisava para a minha cabeça era encontrada ali, no rosto do Brad Pitt. Esse sim era um homem pelo qual valeria a pena cada raiva passada... até o preço que paguei para assistir esse filme de roteiro mediano, porque a alegria da estudante do ensino médio sempre vai durar pouco.

Pelo menos a vivência de estar em uma sala escura, com pessoas desconhecidas em silêncio, me transmitiu a sensação de estar pronta para o resto do mês e pronta para qualquer coisa - até enfrentar Zumbis.

Eu só não esperava que o Zumbi que eu teria que enfrentar seria eu mesma acordando no dia seguinte para a aula de Geografia.

Meu corpo não tinha forças para se manter em pé, sentia que a temperatura estava elevada e meus olhos pesavam, mal conseguia mantê-los abertos. Era a bendita troca de estação agindo no meu corpo em mais um ano. Mesmo que fosse do inverno para a Primavera.

Minha voz, rouca.

Meu nariz, congestionado.

Minha vontade de trocar de roupa, zero.

O tempo da aula começar: vinte minutos.

Joguei meus pés para fora da cama, quase que literalmente, e me obriguei a ficar ereta - ou reta o suficiente para não me sentir tão acabada.

Meus braços puxaram as primeiras peças de roupas que encontraram, o que me resultou em uma camiseta velha do Legião Urbana, herdada do meu pai, e uma calça moletom preta que eu geralmente usava para dormir durante o inverno.

Eu claramente passaria frio com aquilo, então procurei por um moletom na prateleira mais alta, lugar em que eu guardava as roupas mais grossas, e recuperei um que era meu melhor amigo da estação há pelo menos quatro anos. Ele não tinha estampa nenhuma e estava com os punhos sujos - minha mãe provavelmente surtaria se visse. Esperava mesmo que a rinite não atacasse, pois se eu inventasse de passar o dia inteiro espirrando, ainda teria que passar pela vergonha de, a cada 5 minutos, interromper a explicação do professor.

Mas, Amanda, você consegue! Você é um projeto de mulher guerreira, força!

Mas a força dura pouco, dura até colocar os pés na Escola de Ensino Médio Anita Malfatti e perceber que poderia ter ficado na cama e justificar a falta ligando para a secretaria da escola espirrando e afirmando que na próxima semana eu levaria um atestado médico.

Mas é claro que Amanda Nascimento tinha que ir para a aula até em seus dias mais mortos. E dessa vez eu posso dizer com todas as boas letras do alfabeto que tudo o que eu gostaria de fazer era sentar e chorar.

Atrasada, me dirigi até a sala de aula, dei três toques na porta fechada e não esbocei sorrisos quando o professor apareceu na minha frente, segurando a maçaneta.

— Desculpe o atraso, profess... — não terminei a frase, espirrei antes. Isso fez com que ele entendesse que não precisava de mais explicações, me mandou sentar.

Ocupei meu lugar na classe de sempre, na frente de Felipe, que observava cada passo que eu dava pelo canto do olho. Ao pendurar as alças da mochila na cadeira, não olhei nos círculos castanho-claros que costumavam me trazer paz, olhei para as minhas mãos. E, depois, voltei-me para o quadro branco com meu caderno em mãos.

Estrelas que nos guiamOnde histórias criam vida. Descubra agora