Capitulo 3 - O Rompimento

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Faltavam menos de 3 dias para o início das gravações. Já estava com quase tudo preparado.

Ensaiava incessantemente as primeiras cenas. 

Imaginava mecanismos para desenvolver a personagem. Falas, modos, trejeitos. Tudo já criava forma pra mim. 

Ainda morava com meus país. Na verdade, apenas com minha mãe e, embora eu amasse sua companhia e apoio, já estava com tudo encaminhado para me mudar dali.

Queria que essa novela representasse recomeços pra mim. Resolvi entrar de cara, e dar um uop na minha vida antes de prosseguir nessa nova etapa.

A ansiedade não me largava. Eu tinha enjoos constantes e me faltava até o apetite. Mas eu tinha um problema maior a resolver: Ian.

Eu o conheci através de uma amiga, em uma festa de aniversário. Começamos a conversar bastante. Ele me achava autentica e divertida. Eu o achava gato. E fofo.


Fomos nos acostumando um com o outro e depois de um mês conversando sobre tudo, sem parar, decidimos dar uns beijos. Como foi uma ótima experiência, logo começamos um namoro.
Tinha muita coisa entre nós. Carinho, cumplicidade, desejo. Mas não tinha amor. Nem paixão. E eu sempre soube disso.
No início a falta desses itens não me afetava em nada. Mas agora, estávamos prestes a completar 4 meses juntos. 

Pior. Ian se revelou um cara extremamente ciumento e obsessivo e tudo nele passou a me incomodar. 

Suas boas características já não eram suficientes para suprir seus defeitos e tampouco as minhas necessidades.
Eu já havia empurrado a situação com a barriga por algum tempo. Mas já era hora de encerrar esse ciclo.

Para ser sincera, nunca fui boa com términos. Porém já não podia mais adiar.


_Ian abre. Precisamos conversar. Disse batendo na porta de seu apartamento.
_ Oi amor. Entra. Parece nervosa. O que aconteceu? Disse ele abrindo a porta. Fez um gesto com as mãos para que eu entrasse.


O apartamento de Ian era pequeno. E cinza. Era elegante. Decorado com objetos caros e de bom gosto. Mas tudo tinha uma tonalidade triste. Haviam poucas janelas, e poucas divisões também. 

Entrei e me sentei no sofá. Segurei em suas mãos quando e o sentei frente a mim.

_ Ian. Comecei. Já a algum tempo a gente precisa ter uma conversa né?! Sinto que estamos em sintonias diferentes. Somos pessoas diferentes e sempre soubemos disso.  Isso não seria um problema se olhássemos para mesma direção. Mas a questão é que não olhamos.

_Como assim não olhamos? Eu faço tudo por você. Vou aonde vai. Cuido dos seus passos. Não faço nada que você não aprove.


_Sim Ian. Você sempre fez muito por mim, mas não me ama e tampouco é apaixonado por mim.


_ Como se atreve a dizer isso Anahi. Disse ele, já alterando a voz. Eu sou louco por você. Eu te amo.


_Não, Ian. Você não me ama. Tudo o que você diz gostar em mim são coisas que eu honestamente não sou, e só faço por exigência sua. Para evitar seu descontrole, brigas, irritação. Se você me amasse, não tentaria podar meu jeito natural de ser o tempo todo. Não faria exigências nem estabeleceria os modos de como eu deveria me comportar. Não teria um ciúme tão desenfreado nem passaria todo tempo seguindo meus passos. Se me amasse você confiaria em mim. 


Ele se levantou e rodou pelo apartamento com as duas mãos sobre a cabeça, como se estivesse se rendendo. Com os olhos cheios d'agua, ele me disse:


_Se eu fiz qualquer dessas coisas Any, não foi por mal. Foi sem perceber. Foi por amor.

_Acho que nunca experimentei o amor Ian. E você também não, pois se tivesse, saberia que o amor não foi feito pra machucar. Sinceramente, eu não posso mais seguir com isso. Você sabe. Eu quero terminar.


_Eu posso mudar. Eu te amo. Não precisamos terminar. Você é tudo que eu tenho. Respondeu fazendo gestos excessivos com as mãos.


_ Não sou tudo o que você tem. O fato de pensar assim me assusta. Enfim. Não temos mais como seguir Ian. Você é um cara legal, logo vai achar alguém que sinta amor por você e que você ame do jeito que é. Alguém que você não queira mudar.

Eu me levantei e me dirigi até a porta, já não suportando mais aquela situação.

Enquanto girava a maçaneta senti suas mãos puxando o meu cabelo, bem próxima a raiz e me virando pra ele, de modo que fiquei olhando em seus olhos. Quando o vi de frente seu olhar estava mudado. Transtornado. Vago. Parecia um animal acuado. Engoli a seco o pavor que me deu olha-lo assim.

_Me solta! Me solta agora. Disse assustada.


_O que você acha que é para vir até aqui e me dizer essas coisas? Você não é a dona da verdade. É só uma menina boba de 20 anos. Uma piranha, uma vadia que acha que sabe algo da vida. Mimada, Infeliz.


_Me solta seu estupido. Infeliz é você. Como eu pude me enganar tanto, me solta. Gritava enquanto me debatia. Ele agora me segurava pelos braços.
_ Você pensa que pode me magoar, any. Olha, gente frívola e vazia como você nunca vai ser amada de verdade.


Me debatendo, dei um chute em suas partes baixas. Enquanto ele se afastou, se contorcendo de dor e xingando frases inaudíveis, eu consegui sair pela porta.
Fui correndo e chorando até o elevador. Entrei. 

Assim que a porta se fechou o ouvi gritar. Mas não conseguia assimilar o que ele dizia. Sentia raiva, angustia e medo. Jamais esperava tamanho descontrole.

Senti que terminar foi a decisão mais acertada que tive. Se prolongasse essa história, poderia ser pior.
Sai correndo e peguei o primeiro táxi que vi passar.


Tá tudo bem, já encerramos essa etapa. Suspirei baixo pra mim mesma ao entrar no carro.


No caminho para casa, refletia sobre toda a discussão que tivemos. Me sentia aliviada por não estar mais junto a alguém capaz de agir como ele agiu. Jamais esperei que isso viesse a acontecer.


Mas confesso, a frase que ele disse não me saia da cabeça: Será que nunca serei amada de verdade ?

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