ABSURDA

Capítulo 29 - Fingir é minha especialidade

Eu estava anestesiada.

Toda essa história com Poncho me consumiu de tal forma que ... era como se eu fosse incapaz de sentir. Qualquer coisa...

Meus sentimentos estavam misturados de tal forma que não conseguia diferencia-los.

Era como se ...

Era como se eu fosse uma pena solta ao vento; pra onde a vida levasse eu iria. Sem direção certa, sem traçar metas ...  Sem expectativas, sem anseios, sem nada. Eu somente ia ...

Naquela manhã cheguei ao estúdio. Os integrantes do RBD me aguardavam para iniciarmos o ensaio para o nosso primeiro show.

Eles estavam sorridentes, conversando.

Poncho estava sentando em um banco largo de madeira. Dulce tinha a cabeça em seu colo e o resto do corpo sobre o banco.

Ela cutucava os botões da camisa dele. As madeixas negras com pontas vermelhas voavam em seu rosto com a brisa.

Volta e meia eles se entreolhavam sorrindo.

Os observei por alguns segundos e me aproximei.

Any: Bom dia gente! - arfei sem muita empolgação.

O rosto de Poncho se enrigesseu ao me ver. Seu semblante ficou sério e carrancudo.

Coloquei minha mochila sobre a mesa e me sentei ao lado de Maite e Chris.

Christian: sinto muito! - sussurrou ele em meu ouvido.

O olhei com a expressão arregalada.
Mai me olhou com a cara culpada.

Maite: eu contei a ele 😬. - disse baixinho.

Eu sorri amarelo. Tudo bem que Chris soubesse. Ele era um pedaço de mim e mesmo que eu quisesse esconder algo dele, ele saberia.

Pedro chegou com sua pressa habitual e nos pediu para entrar no sala onde ensaiavamos.  A banda já estava montada nos aguardando. Os coreógrafos também estavam a postos. Mas ainda assim Pedro parecia preocupado.

Any: Que te passa Pedrito ? Parece aflito.

Pedro: Aí minha estrelinha. Estava conversando com os outros produtores. O nosso CD é ótimo e tem feito sucesso surpreende. Estamos inserindo salvame na trilha da novela e ela já está sendo um sucesso estrondoso.

Any: Mas isso não é ótimo? Eu me sinto nas nuvens ...

Os outros se cercaram de nós dois, ouvindo a conversa.

Pedro: Sim querida. É excelente. Mas para o show ... estive conversando com outros produtores e temos a sensação de que o nosso repertório é pequeno demais para um show.

Poncho: são 11 músicas, não acho pequeno.

Pedro: As músicas dão apenas 38 minutos de show. Como repetiremos rebelde e Liso y Sensual que já passei a vocês, teremos, entre pausas para interação, no máximo uma hora de show. Não me soa um bom começo.

Pedro baixou os ombros. Nós nos entreolhamos pensativos.

Maite: Mas se fizermos essas uma hora valerem a pena ?

Pedro: sei que irão fazer, confio no talento de vocês. Mas ... temos uma turnê em vista e o que vier desse show pode dizer muito do que podemos ser daqui pra frente.
Gostaria de um show com S maiusculo.

Any: Pedro, me ocorreu aqui. E se a gente acrescentasse alguns clássicos jovens da música mexicana no reportório? Medleys ...

Pedro saltou em minha direção.