Capitulo 21 - A espera de nada

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" Me fere o ruído dos automóveis, perdi meu oxigênio e minha vontade "

De volta em casa.

O dia tinha sido exótico, pra não dizer cruel.

Sai de casa pela manhã com o coração vibrante - sonhando em declarar meu intenso sentimento pro meu príncipe azul ...

Voltei pra casa com o coração destroçado em incontáveis pedaços por saber que não poderia desfrutar desse sentimento sem magoar profundamente alguém que eu amava muito.

" Enquanto a dor avança um quilômetro a mais
Eu fico e você se vai "

Me sentei em minha cama, já com a roupa de dormir após um banho quente.

Peguei meu caderno de personagem.

A cada trabalho, a cada personagem que eu fazia, eu montava um novo caderno.

Aquele era o de Mia Colucci.

Nele eu havia escrito falas que eu imaginava se encaixar na personagem.

Escrevia trejeitos, planejava figurinos, dava meu toque em todo o roteiro que me era passado.

Engraçado.

Nenhuma personagem teve tanto de mim quanto Mia.

Sim. Éramos bem diferentes, mas Mia era tão sonhadora quanto eu.

Isso me fazia sentir tão próxima dela...

Desde que sai do hospital estava trabalhando em uma cena em especial:

A cena em que Mia e Miguel se acertavam pela primeira vez.

Onde declarariam seu amor um pelo outro.

A cena na qual se beijariam com paixão - no trailer de Alma Rey - mãe de Roberta - personagem de Dulce.

As cenas não iam ao ar imediatamente. Sempre gravavamos algo muito antes de ir ao ar.

Mas essa cena, especificamente, iria ao ar ainda essa semana, assim que gravada, pois, devido à meus problemas pessoais estávamos com atraso no roteiro.

Eu havia recortado algumas fotos minhas e de Poncho como Mia e Miguel - tiradas para promocional a novela - e colocado no caderno, onde estava minhas ideias pra essa cena.

Agora, eu estava ali. Sentada em minha cama com lágrimas nos olhos, olhando para aquela página.

Com a caneta nas mãos comecei a escrever versos descompassados naquela página.

" Vou caminhando em tempestades elétricas
À procura de algum território neutro"

Não eram falas para Mia.

Não era um texto ou poema.

Não era nada.

Eram apenas palavras que vinham desnorteadas ao meu coração.

" Onde eu não escute falar de você
Onde eu aprenda a te esquecer
A não morrer e a não viver
Tão fora do lugar "

Preenchi a página com aquelas frases.

Me sentia injustiçada pela vida.

Sabotada pelo meu próprio coração.

Fechava meus olhos e imaginava cenários felizes com Poncho se dissipando em minha frente sem que eu pudesse fazer nada.

Eu não entendia como em tão pouco tempo um sentimento pôde me tomar de forma tão arrebatadora.

Era lindo sentir aquilo mas também era profundamente doloroso.

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