Capítulo 6 - Câmeras, Ação ...

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Chegamos ao cenário com poucos e desacelerados passos, acompanhados por Miriam. Ela saltou a nossa frente e começou a alocar os figurantes em suas posições. Eu e Poncho também nos posicionamos. Recebemos algumas instruções finais e enfim ouvimos o tão aguardado:

"CÂMERAS, AÇÃO"

Comei a caminhar pelo cenário. Nele havia apenas alguns armários guarda volume, assimilando um corredor escolar - vez que a cena se passaria na escola onde estudava Mia e a qual Miguel tentava obter uma bolsa.

Eu estava um pouco ansiosa, mas sou boa no que faço. Engoli o nervosismo e saquei do bolso um espelho. Comecei a olhar meu visual e acariciar meus cabelos enquanto caminhava com semblante distraído.
No cruzamento do corredor, entre os armários e as salas de aula cenográficas,  bem ali, o olhar de Mia se cruzaria com o de Miguel.

E poxa! Eu acabara de passar alguns minutos com ele trancada em uma sala e mesmo assim ao encará-lo eu perdi completamente a pose.

Olhei boquiaberta, quase me esquecendo que estava em cena. Ele demorou um pouco, mas quando se virou para mim olhou tão intensamente que tive um impulso de virar de costas.
Fui me virando lentamente, cobrindo o rosto com as mãos. Me sentia invadida por aquele olhar.

Meu Deus Anahí. Tenha foco. O que está te ocorrendo? Respira! Pensei.


Não existe nada mais desconcertante do que ter um desejo proibido. Mesmo que você não diga nada, você tem medo que seu corpo te traia, que seus olhos te traiam - de maneira que todos á suas volta consigam saber o que se passa por dentro de você.

Era assim que eu me sentia naquele exato momento. Tinha ganas de sentir o cheiro dele. De tocar seus lábios.
Eu não sabia de onde vinha tudo isso. Como pude desejar alguém tão profundamente e tão rapidamente? Eu devia estar ficando louca.

Sim. Eu estava ficando louca. Minha mente zunia como se tivesse uma enxame de abelhas raivosas dentro dela.
Passeava entre o desejo e a auto reprovação tão rapidamente que não conseguia me dar conta dos meus sentidos.

Fixa na cena Anahí. Por favor, fixa na cena. Repeti para mim.

Me virei de frente a ele novamente e o encarei. Na minha cabeça, censurava meus próprios pensamentos enquanto respirava ainda um pouco ofegante.

Ele parecia calmo. Bem. E porque não estaria. Era apenas uma simples cena.

Com o olhar profundo e olhando fixo nos meus olhos ele começou a caminhar em minha direção. Caminhei também, tentando controlar minha respiração.

Passamos um ao lado do outro, encostando levemente os ombros, e só nesse toque eu pude sentir o calor que vinha dele.

Não queria olhá-lo de novo, mas sabia que seria ótimo para a cena, então me virei e para a minha surpresa, ele se virou também.

Nos olhamos profundamente. Ele abaixou o olhar e nos demos de costas. Corri sem graça e inquieta. O medo de fazer algum movimento que revelasse meus pensamentos ainda me dominava.

_ CORTA. PERFEITO. VOCÊS FORAM PERFEITOS! Disse Miriam caminhando e parando ao lado de Poncho.

_ Nem mesmo vamos precisar fazer outras tomadas. Esta aqui ficou incrível. Continuou Miriam. _ Era essa tensão, essa paixão que queríamos. Vocês captaram muito bem. Concluiu.

_ Ufa ! Disse aliviada, enquanto me aproximava dos dois. Tinha a intenção de abraça-lo. Porém ao me aproximar, vi que Dulce estava sentada perto das câmeras assistindo a cena. Recobrei o juízo e balancei bruscamente a cabeça, como se pudesse espantar assim a vontade de tocá-lo.

_ Você se saiu incrivelmente bem. Vejo que vamos formar uma bela dupla – Disse com certa dificuldade.

_ E o que dizer de você Anahí. Ainda quero chegar nessa excelência de atuação. Em alguns momentos pareceu que você realmente estava nervosa ao me ver. Disse ele.

Eu gelei. Sentia que havia exposto minh'alma nua para que todos ali pudessem ver. Eu devia estar ficando louca. Não parava de pensar em como tudo estava saindo de controle.

_ Imagina. Respondi. Caras e bocas são o meu forte, pirralho. Respondi, tentando sair da situação.

Ele sorriu e caminhou rumo ao camarim. Eu procurei o local mais próximo para me sentar.
Enquanto respirava fundo, ouvi:
_ Você foi ótima.
Era Dulce. Meu coração se partiu em mil pedaços nesse instante. Eu não queria sentir nada daquilo. Eu juro, não queria. Tampouco entendia o que estava se passando comigo.

_ Você é um anjo. Obrigada! Disse olhando para ela enquanto ela sumia no corredor. Por dentro, meu cérebro gritava: Por favor, me desculpe.

Naquele dia não gravei mais com Alfonso. Na verdade, o evitei durante todo o restante do dia.
Já era noite quando as gravações se encerraram, sai rapidamente do set, sem me despedir de ninguém.

Chegando em casa me deitei na cama aninhada em meus travesseiros. Meu quarto era pequeno, mas tinha muito de mim. Muitas cores, muitas fotos, bonecas e pelúcias por todo canto, pois era algo que eu amava.

Me pus a olhar para o teto. Me veio uma louca vontade de chorar. As lagrimas começaram a descer lentamente.

Em parte, um choro de felicidade, pois sentia que esse novo trabalho prometia algo grande pra minha vida. Em parte, um choro de confusão. Meu coração gritava por Alfonso. Meu cérebro, por sua vez, não entendia essa obsessão.

Estaria eu apaixonada por um homem que eu mal conhecia? Seria eu uma vítima de um amor impossível ?

Entre lágrimas e pensamentos, adormeci profundamente.

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