XVI Dezembro 2017

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20 dias, foi o tempo que passou trancafiada naquela masmorra não tinha certeza se realmente era essa a quantidade de tempo, mas estimava que poderia algo mais ou menos assim Finalmente seu corpo estava livre da medicação e da crise de abstinência, foi um dos momentos em que ela deveria reunir em sua caixinha de lembranças traumáticas, mas naquela altura da vida, nada a incomodava o suficiente que fosse capaz de lhe tirar o sono, desde aquele fatídico dia nunca mais tinha visto Anderson nem ouvido sua voz e devido a isso considerava a visita que recebeu como mais uma de suas alucinações, mas naquela manhã ele estava parado diante de seus olhos, desta vez não fumava, antes de trocarem qualquer palavra ela fez questão de fita-lo por um longo momento tentando ver o quanto ele havia mudado naqueles anos todos em que não se viam, seus olhos marcantes ainda eram os mesmos, seu corpo parecia mais forte, tinha uma barba por fazer e o cabelo mais curto do que se lembrava.

__ Então era você mesmo! Cheguei a pensar que estava alucinando, nunca mais veio me ver.

Ela falava com um tom debochado e ele evitava olhá-la.

__ Eu vou soltar você dessas correntes mais preciso que se comprometa a não nos dar trabalho.

__ E por que faria isso? Estou curiosa para saber o que vai acontecer, seu chefe não teria todo esse trabalho para me matar no final.

Ele não lhe respondeu, conhecia o chefe fazia alguns anos tempo o suficiente para que fosse transformado em seu braço direito e nunca o tinha visto ter tanto trabalho por uma mercadoria, seria mais fácil descartá-la, então todo esse tratamento especial era algo novo para ele também. Ela se viu livre da parede mais logo foi presa novamente quando ele acorrentou suas mãos e pés e cobriu seu corpo com um grande lençol.

__ O chefe pediu para levá-la para casa principal, acho que ele quer conhecer você.

__ Que atitude curiosa não acha.

Ele não respondeu, apenas a tirou dali, seu corpo ainda estava fraco e devido a isso cambaleou fazendo com que ela caísse, fazia muito tempo em que ficara em pé, havia perdido uma quantidade de peso razoável e não estava em condições normais, ele a olhou, se fosse em outro tempo de sua vida não pensaria nem duas vezes para pegá-la no colo e ajudar a moça, mas as coisas já não eram mais assim não podia fazer isso nem se quisesse.

__ Não pense que eu vou ajudá-la, então dê um jeito de se levantar.

__ Eu não esperaria isso de você, precisa mostrar que é um bom funcionário não é.

Ela se esforçou para ficar em pé e segui-lo, no caminho pode ver o lugar onde passou tanto tempo, as mulheres já não estavam mais lá, os capangas a olhavam como se fosse um animal exótico com um ar de medo e curiosidade enquanto ambos caminhavam em silêncio. Saiu daquela masmorra, olhou para o céu iluminado pela luz do sol seus olhos arderam, mesmo assim ela continuou admirar o céu, não sabia se essa era a última vez que poderia vê-lo.

__ Vamos, não tenho o dia todo.

Ela entrou em um carro com os vidros escuros de tal forma que era impossível enxergar o que havia em seu interior, ele sentou-se ao seu lado e ficaram um bom tempo em silêncio, tinha tantas perguntas para fazer, mas se continha, aquele não era o momento para socializar, nem sabia se poderia fazê-lo, não queria reviver o passado tudo que tiveram um dia.

__ Faz tempo que você saiu?

Para sua surpresa foi ele quem quebrou o silêncio, mas o que ele queria saber exatamente com essa pergunta?, será que tinha alguma finalidade por trás dela ou era apenas mera curiosidade?

__ Faz 4 anos 3 meses e 15 dias.

Ele deu um sorriso de canto de boca, não iria admitir o motivo daquele sorriso, mas estava admirado em ver que realmente era ela.

__ Achei que estivesse morta, ouvi falar que teve uma grande rebelião onde você estava e várias internas morreram...me disseram que você era uma delas.

Ela olhou para ele um pouco admirada, não entendia o motivo dele se preocupar em ter notícias dela, afinal foi ele quem disse que nunca mais queria vê-la novamente e a expurgou de sua vida como se o que viveram nunca tivesse existido.

__ Deveria saber que vaso ruim não quebra, querido.

Novamente o silêncio arrebatador estava entre eles, ela passou 45 minutos dentro do carro, fez questão de precisar o tempo e o trajeto, já que desta vez não estava vendada, para ela isso só podia significar duas coisas "Vão me matar ou me manter com eles", não era um raciocínio absurdo, desde o momento em que fora trancafiada na "solitária" imaginou que o chefe teria planos maiores para ela, caso contrário não teria gasto dinheiro e funcionário por todo esse tempo, estava curiosa para conhecer o homem. Talvez você se pergunte o porquê desta simpatia por caras malvados, entenda, Cassandra não era uma pessoa comum, não enxergava a normalidade da vida da mesma forma que nós, ela ansiava para conhecer alguém diferente assim como ela e talvez com essa pessoa pudesse fazê-la sentir aquela mesma emoção de estar à beira do precipício, o frio na barriga que congela a espinha, toda a tortura que passou em seu calabouço não lhe deu a sensação que tanto almejava, queria alguém poderoso que pudesse desafiar e sentir o que procurava.

Anderson percebeu que a garota ao seu lado permanecia calma em alguns momentos cantarolava baixinho ele não se surpreendeu, pois sabia de quem se trava, toda alegria de Cassandra era apenas um aviso para ele e os outros ficassem em alerta. Finalmente chegaram em seu destino, atravessaram o portão de uma imensa mansão com diversas seguranças, o local era remoto, perto daquela imensa casa não havia absolutamente nada. Com toda calma do mundo desceu do carro entraram pela porta dos fundos, passando pela cozinha, onde ela observou apenas 2 empregados que se esforçaram para não olhar o que estava acontecendo, passaram por um corredor, Anderson a conduziu para um quarto, lá estava vazio, não era elegante como o restante da casa, mas era mais confortável que sua casa.

__ É uma suíte, tome banho e se arrume, vou deixar alguma peça de roupa para você no banheiro.

Ela não disse nada apenas seguiu suas ordens, uma fina parede separava ambos, enquanto Cassandra tomava banho tranquila, ele suspirava do lado de fora precisava vigiá-la, mas desde o momento em que a viu suas emoções escondidas por tanto tempo insistiam em atormentá-lo; ainda se lembrava da noite em que a teve em seus braços, reviveu aquele momento diversas vezes em sua mente e agora ela estava tão perto, mas ao mesmo tempo extremamente distante, ela havia mudado muito seu ar inocente havia sumido, agora sabia ler seu olhar e definitivamente sabia o quão perigosa ela poderia ser, mas podia deixar de deseja-la.

Cassandra vestiu a calça jeans e a blusa rosa que usava para trabalhar, "então ele não teve o trabalho de me dar algo novo, provavelmente está em receoso de suas ações" ela simplesmente anotava todas as informações que podiam lhe ajudar essa era uma delas, quando saiu do banheiro viu Anderson olhando para baixo perdido em seus pensamentos.

__ Questionando suas decisões?

Ele a olhou agora vestida e arrumada e entendeu como não pôde encontrá-la todos esses anos, ela estava muito diferente, linda como sempre, mas talvez a maturidade tivesse sido muito melhor para ela do que ele esperava, mesmo depois de ter sorrido o inferno estava radiante.

__ Está pronta o chefe quer te conhecer.



After Midnight - Depois da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora