V Novembro 2017

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Mas um objetivo concluído da lista de tarefas feitas pela Doutora, "ir regularmente nas consultas marcadas",  Cassandra finalmente havia criado coragem de tentar convencê-la a parar com o seu atendimento, mas como poderia fazer isso agora que estava tendo apagões, faltava coragem para falar sobre o assunto, talvez fosse mandada para o hospital novamente e definitivamente não era isso que ela queria. Se achava uma boa garota, conseguia usar a "máscara" com perfeição, ninguém desconfiava quem havia por trás daquele sorriso amigável e da maquiagem cor de rosa. disfarce feito com o melhor molde que ela conhecia, a própria doutora.

Alguma coisa realmente havia mudado, nem havia notado as roupas pretas, será que era seu subconsciente querendo voltar ao tempo em que era uma adolescente? Não era possível, estava tudo bem, tinha uma casa, um emprego, cumprimentava as pessoas, não precisava de mais nada, apertou o frasco de remédio em seu bolso.

"Eu sou uma boa menina" "Eu sou uma boa menina"

Tomou mais um comprimido, não estava no horário, mas sentia que precisava dele, estava tão compenetrada em seus pensamentos que nem notou que uma BMW a seguia. Voltou para casa pronta para ir ao trabalho, tirou a roupa preta e colocou a outra "máscara" naquele instante seria a atendente sorridente. Com seu checklist Foi para o trabalho sem nenhum novo acontecimento para o desagrado de sua "colega", cumpriu com o seu expediente como se nada tivesse acontecido, nada de apagões ou sorrisos misteriosos.

Porém nem tudo é tão simples como deveria ser em sua vida e tudo estava prestes a se tornar movimentado. O BMW parou e antes que ela conseguisse ter alguma reação foi jogada no porta-malas como um boneco quebrado.

__ Mocinha bonita, vamos passear, fique quietinha e seja uma boa menina.

Cassandra sentia um misto de emoções, como deveria reagir a isso? Abraçou a sua bolsa com força, precisava pensar no que devia fazer, como as pessoas costumam agir a isso?!

Fechou os olhos tentando prestar atenção no barulho e nos movimentos do carro, tentando imaginar para onde a estavam levando, lembrou do celular, certamente podia pedir ajuda, caçou ele na bolsa, mas para sua surpresa estava sem sinal, "Um bloqueador de sinal talvez" "Para onde diabos eu estou indo?", em sua cabeça ficava tentando imaginar o que queriam com ela, de certo não era algo bom, se fosse um sequestro iriam pedir dinheiro para quem? "Vou acabar morta".

Embora estivesse em uma situação difícil, não sentia medo, com toda certeza se o seu sequestrador abrisse a mala do carro talvez ele ficasse com medo ao olhar para ela e se deparar com aquele sorriso que ela fazia de pura excitação.


Agosto de 2010

Assistiu a horas e horas de vídeos das bandas comentadas por Anderson, tinha aprendido a apreciar o estilo musical, também ficou um bom tempo pesquisando que tipo de roupas as meninas costumam usar, tudo muito apertado e curto, de forma alguma ela iria mostrar seu corpo cheio de hematomas. Estava tão imersa em sua pesquisa que não havia escutado o barulho da porta.

__ Cassandra cheguei.

Ela olhou para mãe e deu um sorriso sem graça.

__ Você não foi para escola de novo?

__ Desculpa eu perdi o horário.

__ Francamente você me dá muito trabalho.

Esse era seu relacionamento com sua mãe, nada de abraços e carinhos, era algo muito frio, sua mãe sabia que Cassandra não havia ido para escola para fugir do bullying, mas não era uma opção mudá-la de ambiente, pois ela era a melhor do estado, as pessoas já a criticavam demais sobre sua maneira de criar a menina, fazia o melhor possível, mas era muito difícil ser mãe, ainda mais de uma criança não desejada, maldita hora que conheceu o Doutor Paulo, pai de Cassandra, o médico que abusou de seu poder e arruinou a própria carreira ao deixar uma prova viva de seu crime. Quando sua mãe  fez a denúncia a notícia apareceu em todos os jornais, mas a culpa nunca é do abusador e os olhos de todos se voltaram para a pobre vítima, que se viu com uma criança e sendo acusada onde quer que fosse. Ela já não tinhas mais o apoio de ninguém, sua família se afastou, nem ao menos tinha o endereço deles, suas amigas, que a incentivaram a denunciar o crime, também sumiram, não queriam ser vítimas de acusações e no fim ela terminou seus dias com a criança que a lembrava de seu sofrimento, o Doutor se mudou para outro país com sua família e ela carregava o peso de criar a criança, que lhe dava tantos problemas, como se não bastasse tudo isso com 4 anos Cassandra foi diagnosticada com uma síndrome semelhante a Savant, o que a deixava incapaz de perceber as emoções de maneira normal e dava a ela uma grande memória, era muito fácil aprender qualquer coisa, conseguia reproduzir movimentos que via, bem como lembrar de livros inteiros incluindo as pequenas citações, o que causava inveja de algumas crianças devido ao seu nível intelectual. 

After Midnight - Depois da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora