XXX Janeiro 2018

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⚠ Conteúdo violento ⚠

Era terrível ser obrigado a sair naquela chuva, mas não tinha outra opção seu carro tinha enguiçado justamente no caminho de volta para sua casa, para melhorar seu celular simplesmente tinha pifado do nada. Leonardo deu um soco no volante já impaciente, estava preso naquele mesmo lugar fazia mais de três horas, desembaçou o vidro do carro e olhou para fora, porém não conseguia enxergar o céu estava muito escuro devido à noite tempestuosa. "Merda" parecia ser o destino pregando uma peça ou quem sabe lhe avisando que aquele não tinha sido um bom dia para sair de casa, porém, ele era cético demais para acreditar em tal superficialidade, lembrou-se de certa discussão que teve com uma colega de trabalho em que ele disse: "Somos nós quem fazemos nosso destino" e munido com suas próprias convicções, respirou fundo e resolveu enfrentar a tempestade, sabia que precisava sair dali e reclamar não iria ajudar em nada, precisava achar alguma loja de conveniência, farmácia ou qualquer estabelecimento que estivesse aberto para poder ligar para sua família e avisá-los de seu atraso, bem como chamar um guincho para rebocar seu carro e quem sabe conseguir um táxi, não queria deixar seu precioso carro abandonado naquela rua deserta, mas não havia outra opção.

Sentiu as gotas geladas da chuva caírem em seu corpo quente lhe causando um desconforto junto com um calafrio, olhou para os lados e não conseguia enxergar nada, apenas o córrego ao lado que estava enchendo mais rápido do que ele gostaria e a imensidão de árvores que estavam em volta da rua, "Maldito dia em que resolvi mudar de caminho". Começou a andar mais rápido, mas viu que não o ajudaria em nada já estava todo ensopado, quanto mais andava mais escura a rua ficava, até as luzes dos postes pareciam mais fracas, por um momento riu sozinho aquilo parecia um cenário típico de filme de terror, andou mais alguns metros e viu algo brilhando na calçada, parecia ser um saco de lixo visto de longe, porém ao se aproximar viu que aquilo se mexia; sentiu seu coração acelerar e conforme se aproximava aquilo tomava proporções humanas, quando estava em uma distância mais razoável pode ver que era a silhueta de alguém que estava agachado, parecia estar usando uma capa de chuva, continuou se aproximando lentamente muito embora seu corpo sentisse calafrios a cada passo que dava, era como um aviso inconsciente de que algo estava errado; mas o que poderia estar errado? Essa história não se trata de elementos sobrenaturais que vão além da imaginação, apenas de simples situações do cotidiano que não tem explicação. Leonardo nunca poderia imaginar que seria assim que seu dia acabaria, que o tombo que levou quando se levantou da cama ou da chuva que começou a cair quando estava no final do expediente poderia ter sido um alerta lhe dizendo que ele não deveria sair de casa, tudo bem, ele não acredita nessas coisas, mas como explicar os sintomas físicos, o suor que escorria de suas mãos conforme se aproximava daquela figura agachada, dos calafrios e do coração batendo acelerado. Sua mente gritava para que ele saísse daquele lugar, mas e se fosse alguém precisando de ajuda? Era de seu caráter tentar ajudar o próximo, era uma pena que seria ele quem precisaria de ajuda.

Se aproximou lentamente da figura "Você está bem?" perguntou, porém, não obteve nenhuma resposta, julgou que a pessoa não havia escutado devido o barulho da chuva então se aproximou ainda mais e antes que pudesse tocar-lhe o ombro a figura se levantou rapidamente fazendo um movimento estranho que ele não conseguiu acompanhar, mas pode sentir sua pele queimar, algo estava errado, olhou para baixo e viu suas roupas rasgadas e uma grande incisão em seu corpo que começou a sangrar abundantemente, olhou para seu algoz que sorria estava tão escuro e com aquela capa não podia ver seu rosto apenas seus dentes brancos alinhados perfeitamente moldando um sorriso, virou-se para fugir, mas antes que tivesse a chance de escapar sentiu um golpe em suas costelas, ele havia fincado a faca e girado contra seu corpo, Leonardo deu um urro, sentiu o ar faltar em seu pulmão, sua respiração estava pesada, mas precisava sair dali, empurrou a figura medonha e mais uma vez tentou escapar, porém, devido a falta de ar caiu buscando loucamente oxigênio, a figura parecia brincar com ele, sentia medo, mas não poderia deixar que sua vida acabasse assim, a vida era dele e se recusava entrega-la de mão beijada para um estranho, se aproximou da grade que ficava acima do córrego e se posicionou para se jogar para dentro dele, seu assassino tentou segurá-lo, porém foi em vão, Leonardo caiu rumo a morte, mas não deixaria o mundo de mãos vazias, pois estava levando consigo um pedaço da roupa do criminoso.


Foi precisamente duas horas e quarenta minutos que Anderson ficou esperando Cassandra dentro daquele maldito kitnet, quando escutou o barulho da chave quase deu um pulo da cama, ela entrou tentando não fazer barulho, pois julgava que ele estava dormindo. Ele por sua vez correu em sua direção enfurecido até parecia outra pessoa, olhou-a de cima abaixo e pode ver que apesar de usar uma capa de chuva ela estava encharcada.

__ Onde você estava?

__ Eu saí, o barulho da chuva tava me incomodando.

__ Saiu para onde? Tá louca, olha essa tempestade, você tá toda molhada! E essa roupa rasgada? O que aconteceu?

__ Eu caí, tava subindo a escada do prédio e minha roupa prendeu no corrimão e acabei caindo, tá tudo bem, para de fazer um interrogatório, só sai por uns minutos.

__ Cassandra você não entende o que está acontecendo, você acha mesmo que o chefe não fica vigiando a gente dentro deste lugar, se ele descobrir que você saiu sozinha ele vai matar você e eu.

__ Para Anderson, fiquei presa tempo demais, só andei uns minutos na rua que mal há nisso.

Cassandra parecia entorpecida, não ligava para as palavras de dele, não parecia se importar com os surtos do rapaz, ele a pegou pelo braço e a jogou no banheiro.

__ Você precisa tomar um banho.

Anderson voltou para o quarto e passou as mãos nos cabelos, cada vez que a tocava sentia que estava brincando de roleta russa, sentia-se cada vez mais tragado para perto dela e ao mesmo tempo sabia que aquilo poderia matá-lo, mas não sabia como poderia sair daquela situação, sentia que estava sendo puxado para dentro do inferno.

Marcelo chegou em casa e foi direto para lavanderia, tirou as roupas molhadas as colocou dentro da máquina de lavar juntamente com a capa de chuva, nem se lembrou que assim poderia estraga-la, caminhou nu pela casa, nem se importava que talvez algum vizinho que estivesse acordado pudesse vê-lo, abriu a geladeira de bebeu leite direto da caixa, estava cansado e sentia-se perseguido, tinha tantos planos queria encontrar com aquela mulher novamente, mas acima de tudo queria ter a certeza de que a polícia não o importunaria novamente e para isso precisava de tempo, mas em dias assim a última coisa que tinha era paciência de esperar, odiava o barulho da chuva.


* Imagem feita pela minha querida aluna Talita.


After Midnight - Depois da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora