O Monte e o Cálice: Parte VIII - A encomenda de Olbett Tistein

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     Dentro dos aposentos de Olbett Tistein, a lareira já tinha perdido seu frescor noturno. Uma brasa minguava solitária, enquanto observava por olhos de fulgor ceruleano.

     Era tão cedo, e mesmo assim alguém já batia à porta. Quem seria?

     Atéa e Olbett Tistein estavam ainda adormecidos. Embora um deles estaria acordando naquele exato momento. Na mesa estavam agora um diadema e um saquinho com o dedo da filha. Ellera não pensava nisso. Não pensava também nas vestes que trajava agora. Quem na porta estaria?

     Ao abrir, deu-se deparando com alguém que não esperava ver.

     "Você", pensou enrubescida.

     Visivelmente exausto e irritado, Kings Aderio entrou na casa de Olbett Tistein naquela manhã mais uma vez. A noite tinha sido um abismo no meio do caminho do dracus. Só o que queria era ver o amigo o mais depressa possível. Porém, não esperava ver Ellera, tampouco com roupas da falecida esposa de Olbett Tistein. O corpo estava encimado por um chale comprido e uma camisola tingida em púrpura. O chale fazia uma curva longa, seguindo a silhueta bojuda do peito de Ellera preso nos braços cruzados. Seus pés pareciam um gato roçando o calcanhar das sapatilhas na panturrilha forte.

     — Bom dia, Ellera — disse Ade quase se perdendo entre olhares e uma lembrança bem recente.

     — Sinta-se à vontade em não se envergonhar — disse Ellera erguendo o olhar para Ade. — Parece cansado. O que não é algo bom, segundo agora sei.

    — Vim depressa e com pressa. Não posso me demorar. Olbett já acordou?

     Um bocejo respondeu para Aderio que se adiantou ao homem torto pela noite anterior. Sem contar o fedor do alto dos hormônios.

     "É, a noite foi mesmo boa nesta casa."

     — Os corvos estão acordando cedo mesmo hoje. Eu vou procurar no Infinite strelatom sobre como e quando um gênio como eu conseguirá deduzir os passos de um dracus como você. Ora, parece um tanto apressado? Um chá resolve.

     — Dessa vez tenho pressa, meu amigo. Atéa está?

     Ellera apertou ainda mais forte os braços contra o peito.

    — Nesse caso, será melhor um café — disse Olbett se enfurnando para dentro da casa antes que Aderio pudesse falar seu contundente "Olbett"! Detrás dele, passos duros e elegantemente compassados vieram para tomar a sala de estar. Ellera fitou Ade que fitava por sua vez ao diadema e ao dedo decepado largado sobre o saquinho de couro. Em verdade, Aderio queria estar o mais distante possível de Atéa, mas a mulher era uma demonologista brilhante à julgamento de Tistein, e o que fizera à respeito do Livro tornava a luxsa imprescindível quanto a um certo demônio em rompante solto em algum lugar de Nianda.

    — Buén deur, prodígio de Bellara — disse Atéa arrumando o chapéu nos cabelos vermelhos que foram caindo sobre o ombro desnudo e bronzeado. — Logo de manhã trazendo abismos? Não sabe que é falta de tato entrar assim sem sentar-se para um coóf?

     — O coóf precisa esperar, e eu preciso de você.

     Olbett Tistein deu uma risada saborosa lá de dentro da cozinha.

     — Tis sabe de seus desejos, Kings Aderio?

     Ellera encarou a ambos desconfiada, mas nada disse.

     — Do desejo de perguntar a você sobre esses malditos demônios? Presumo que ele tenha algum tato quanto a algo simples assim.

     — Imperdoável, você. Está desafiando uma das leis mais importantes do mundo.

Kings Aderio e O Sopro que Dobra a MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora