Kings Aderio levantou-se coberto de murmúrios do ar marinho e uma salva de palmas morosa vindo da direção do leme.
— Sempre exibido, dracus — gritou Lahana de lá de cima. Ade se aproximou envolto por olhares de espanto. — Vai longe sua arrogância, sabia?
— Quis sentir o vento do mar — disse desinteressado.
— Sentirá o sal dele — ameaçou a capitã com uma sobrancelha bem arqueada. — Quero ver se você nada tão bem quanto gosta de mergulhar do impossível.
— O mar é belo, bravio e não me convém desafiar tanto quanto ao fogo.
— Vá falar essas coisas de druidas das praias em sua cidade, Kings Aderio. Não são bons dizeres durante o melhor da maré.
— Não é coisa de druida — Aderio notou Ladenio encostado ao molhe. Apoiava-se ali escrevendo algo num pequeno caderno de couro. Diferente dos outros, este já estava acostumado com o dracus e seus feitos. — Bateu nele de novo? — questionou meneando na direção de Ladenio.
— E você tem um dedo de razão nisso para indagar? — disse Lahana.
— Bom ele está aqui por minha causa, também — comentou Ade.
— Ah, é? — disse ela surpresa encostando lânguida o peito ao leme. Ade poderia jurar que o Raspadora teve ainda mais vontade de seguir em frente. — Não foi bem o que ele me disse.
— Ele ou lhe disse a verdade ou nada, Lahana.
— A segunda opção.
— Pois bem, então contente-se com a minha palavra. Lad veio aqui por minha causa — Aderio repetiu e isso despertou uma veia irada no rosto da capitã.
— Insinua o quê?
— Tempo não é de certezas, Lahana. Não gosto de falar dentro das incertezas. Não sou uma certa pessoa em Nianda — disse Kings Aderio batendo um dedo na acima das têmporas como quem quer dizer inteligência.
Lahana largou bruscamente o leme e o deixou com o imediato. Os punhos estavam cerrados e um deles tocava a espiga da cimitarra. Entretanto, a indiferença de Aderio desta vez surtiu efeito. Viu Lahana aproximar-se do tombadilho, se encostando despretensiosa, a capitã esfregava-se como um gato nas pernas de seu dono.
— Você ainda gosta destas frescuras com a Universidade? — indagou afinal mencionando a Universidade de Nianda, na qual um grande amigo de Aderio vivia desafiando a mentalidade dos homens.
— Mais de algumas do que de outras.
— Compreendo — desdenhou Lahana. — E qual a certeza que tem agora, já que é necessário alguma para vir a este barco? Foi Tistein quem deu-lhe esta? Bedaya e seu olhar que se comporta como se pudesse ver o que o céu enxerga?
— Em verdade os dois conseguem olhar muito mesmo, mas...
O horizonte se alargava sobre os olhos do dracus. Kings Aderio sentia o vento que o levara ao mar viajando ainda mais distante. A superfície do da água palpitava a luz ondulante trazendo calma à sua alma. Então, ao observar o olhar do dracus, aquele que ela se acostumou a ver tão profundamente, Lahana baixou levemente a guarda, sabia o que Ade guardava naquele momento e muito mais coisas dele em tempos antigos. Tempos estes de ameias e corredores opulentos; de cortejos e galanterias; da queda de reis.
Companheiros se conhecem, pelos mais breves gestos, por mais escondidos sejam, se conhece.
— O que se passa? — ela perguntou. Aderio mexia em seu anel de prata com dois adornos, uma pequena folha de um lado e uma adaga de outro.
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Kings Aderio e O Sopro que Dobra a Morte
Fantasy🥇🥇 🥉 "Algo vem" De todas as expressões desta terra fantástica, estas são as palavras que mais atormentam Kings Aderio, rei de Seta Ambel e dracus. Diferente dos outros dracus da história, Ade foi forjado por três chamas ancestrais do formidável A...