O Monte e o Cálice: Parte IX - As peças que estavam à mesa

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     O rei e dracus não esperava que a reunião fosse amigável. Deixou nos estábulos Ozifo, o frísio que levou Kings Aderio pelas ruas de Nianda ao Monte. Relembrar a língua dos antigos, e Alazzon, o Senhor de todos os Cavalos, fez com que Ozifo tornasse um bom e presto companheiro. Já fazia muito que Kings Aderio havia montado num cavalo tão poderoso. A última fora uma égua lobuna beje de nome Meaner. Destemida, rompedora de crânios, desde afogadores aos dentes-de-sabre. Kings Aderio pensava se Meaner ainda trotava em algum lugar das Estepes Tenerà depois de fugir e enfrentar os Colorados comedores de carne. Uma história da qual Ladenio brasDieler alcunhou em suas contações de história de "Kings Aderio e A guerra dos cavalos". História esta que concorria entre as prediletas das crianças.

     Agora, em outro degrau nas escadas do tempo, o lobo logo entraria no ninho das águias. Seria encarado por olhares famintos. Bastaria uma pata no galho errado para fazer da carne do lobo um banquete para os bicos famintos.

     E o poderoso condor.

     Suas asas erguidas, estaria no alto de seu Monte aguardando para eviscerar do lobo a parte mais nobre das carnes.

     Numa das entradas do salão recluso e enevoado do trono, Kings Aderio entrou como o seu símbolo o comandou desde o momento que recebera a insígnia que o acompanhou junto à princesa Bellara de Luniestra. O lobo estava calado, observando à volta como se seus olhos pudessem ver em oito direções. Era melhor que o pudesse, de fato. Os sentidos aguçados pelos lábios salpicados de pato assado com alecrim deram-lhe certo novo vigor. Certo, pois não podia dizer-se revivido de seu mergulho ao rio e seus nojos. Antes de partir para a reunião, Kings Aderio banhou-se, ao menos, já que mais este argumento para Oromergius o dracus não estava disposto a dar.

     Depois de recusar os insistentes pedidos das aias para dar-lhe banho, o dracus pôde relaxar. Mesmo por breves momentos, já que uma longa reunião o aguardava. Jogando a água entre os pequenos montes de espuma, Kings Aderio desejou um dia ainda comer algo mais naquela casa em que fora tratado tão bem. E com um ar mais limpo em suas axilas.

     Se este dia realmente aconteceria, era algo difícil de se dizer, pois os caminhos de Kings Aderio estavam escrevendo histórias na qual a volta aos capítulos anteriores, ou aos poucos lugares queridos de sua memória estaria jogada a algum viés da sorte. E a sorte tem dessas de esconder-se de quem nela não acredita.

     A sala estava agraciada com grande luminosidade sobre a mesa retangular com detalhes limados nas cores de Nianda. Ao redor, desciam junto às cortinas tapeçarias em dourado e branco. Do tecido o Monte esvoaçava com a Agulha em sua retaguarda enforcada pelo Vento do Oeste que adentrava a janela. Paredes de tijolos vermelhos e carmim guardavam a sala de reuniões enfeitadas com arandelas. Tremeluziam um brilho solene, vermelho, no pouco de penumbra da sala. Sobre a mesa havia um grande mapa; não em papel, estava talhado diretamente no tampo da madeira. Sobre ele se encaravam pinos de várias formas e diferentes materiais, com cores variadas, avizinhados de uma pilha de papéis com o selo de um monte em prata. O único pino branco era o que simbolizava o Monte encimado em letras nas quais estava inscrito "Nianda". Na região central do tampo, ao leste de Nianda e com cor amarelecida e empoeirada ficava um pino em forma de triângulo, entalhado num cubo de madeira ao redor de um cinturão de montanhas sobre o nome que dizia Seta. Kings Aderio escolheu exatamente a cadeira à frente deste para se sentar. Ainda ali havia mais dois pinos: um com o formato de um escudo quadrado; e outro no formato de uma maçã. Estavam ladeados o Escudo de Beon e Luniestra. A Grande Maçã, o berço dos dracus, e a maior ambição de Oromergius.

Kings Aderio e O Sopro que Dobra a MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora