A Vela Queimando ao Mar: Parte VI - Ilusões

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     — Kings Aderio, o que está fazendo?! - Indagou a capitã.

    — Perguntarei uma única vez, e, lhe juro, dependendo do começo do que disser farei com que se arrependa por ainda respirar — disse ele friamente. — Quem realmente é você?

Eberlen estava apontada para Selise. Ela sorria rasgando a confiança e disse:

     — Markarhz.

     Suas palavras um sussurro desafiando a espada em seu pescoço que não se ergueu contra a raiva de Eberlen e seu mestre.

     É de Larrviant que ela fala, pensou desconcertado o dracus.

     — Feiticeira — disse entre os dentes Kings Aderio. — Sua laia... o que fez com a tripulação? — neste momento a espada de Lahana também rasgou o ar cercando Selise.

     — Uma ilusão — respondeu despreocupada a suposta feiticeira.

     — Desembuche ou arranco a sua cabeça — ameaçou Lahana. — O que fez com a minha tripulação?

     Selise sentou-se lentamente junto ao pé da estátua. Seus passos despretensiosos faziam o coração da capitã pulsar ao sabor dos solavancos das ondas lá embaixo que, agora, pareciam ainda mais enraivecidas.

     — Não há motivo para se preocupar. Todos estão bem a bordo do navio.

     — Todos eles?

     Ela respondeu apontando para o lado de fora do farol

     — Neste momento deve haver três barcos ao lado do navio. Todos irão para ele e esperarão pela capitã e seu quase-deus. Verifique, se tanto desconfia. O navio pode ser visto daqui, basta ir até aquela saída.

     Lahana verificou onde estavam. A tarde estava alta, mas ainda teriam horas para a noite chegar. O Raspadora de Corais descansava tranquilo na maré alta abraçado pelo horizonte e pela luz convidativa a um banho de mar. Havia mesmo três barcos pequenos ao lado do casco e nenhum perto da praia.

     — Diz a verdade — disse Lahana, os gestos ainda envoltos de suspeita.

     — Pode ser outra ilusão — insinuou Kings Aderio, mas certificou-se antes do que poderia sentir naquela direção. Um dos barcos estava por aguardar a capitã e o dracus voltarem, os outros dois eram mesmo tripulados pelos companheiros que, aparentemente, não se preocupavam com a capitã ou o dracus. — Mas não é. Meus sentidos mostram que estão mesmo lá. Agora, penso nas outras ilusões mais que você utilizou até aqui.

     Selise pousou o queixo detrás das mãos, como numa prece.

     — A primeira foi muito antes de você subir no navio. Sobre o tesouro e a tripulação do Raspadora de Corais saber desta história e trazerem-na à tona no momento preciso.

     — Era tudo mentira? — indagou Lahana.

     — De certa forma sim — disse tranquilamente como se nenhuma espada estivesse apontando-lhe a garganta mesmo à distância — A outra ilusão foi para você, Kings Aderio, e àquele seu companheiro berrante. Não deixei saberem meu nome senão pelos meus lábios. Assim deixando meu encantamento correr tranquilamente.

     — E por que isso? — indagou ele.

     — Digamos que sejam os artifícios da magia, assim como os ofícios possuem ossos — disse sempre sussurrante.

     — Ainda assim não é nenhuma explicação — disse contundente o dracus, a espada ainda apontada.

     — Em um momento será, eu lhe asseguro disso. Agora me pergunto, o que me denunciou antes que eu pudesse enfeitiçar a capitã.

     — E ia me encantar — perguntou Lahana ainda mais desconfiada. — E por quê? Eu falei para desembuchar, ainda não me dei por satisfeita com suas respostas completamente sem sentido!

     — Ia. Para que não atrapalhasse nos meus planos, minha querida capitã. E porque não queria arriscar seu esbelto pescoço na campanha que ele deve realizar. Mas, acalmem-se, direi com brevidade e aos poucos. E então, o que me denunciou, dracus?

Kings Aderio e O Sopro que Dobra a MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora