Capítulo 13

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- O que querem conversar? - eu lanço a primeira pergunta.
- Sua irmã nos contou a verdade. Sentimos muito, meu filho! - minha mãe responde com uma falsa tristeza nos olhos.
- Então foi isso? Vieram aqui apenas para se desculparem? - retruco.
- Filho... - meu pai tenta falar, mas eu o corto (achei que ele ficaria bravo).
- Por que estão me chamando assim? - falo começando a me exaltar.
- ... - ambos ficam em silêncio.
- Não foi o senhor, pai, que disse ter vergonha de me ter como seu filho? E mãe, foi a senhora que disse não aceitar encrenqueiros e mentirosos debaixo do seu teto? Ambos falaram que me odeiam!

| Amaya narrando |

Eu acordo com uma ligação da minha mãe:

- Amaya, onde você está? Eu e seu pai acabamos de chegar e não encontramos você e seu irmão aqui! Estávamos preocupados!
- Oi, mãe. Quando estava na escola, percebi ter esquecido minhas chaves em casa. Sinto muito, não, queria preocupá-la!
- Onde você está agora?
- Na casa do Nataniel, não é muito longe da nossa!
- Você pode vir para casa por favor?
- Claro! Assim que possível estarei aí!

A chamada é encerrada e eu começo a me arrumar para ir embora. Ajeito minhas roupas, meu cabelo e a cama de Nataniel, chupo uma bala de menta e estou pronta para ir. Abro a porta devagar e percebo uma discussão de Nataniel entre duas pessoas desconhecidas, vou em direção à cozinha, porém fico no corredor em silêncio:

- Sim, mas mudamos, viemos aqui nos redimir! E... pedir para que volte para casa! - a mulher fala.
- Por favor, meu filho! - o homem pede.
- Desculpem, mas terei de recusar a "bondade" de vocês. - vejo Nataniel, ele fala em tom rude e sarcástico. Também parecia estar perturbado.
- Por que falou bondade de forma tão sarcástica? - o homem diz alto, assim expressando raiva.
- Sinceramente, porque ela é inexistente! Não existe bondade em seus corações! - ele iguala sua a voz com a do homem em sua frente.
- Como você pode falar uma coisa dessas, Nataniel! - a mulher se intromete.
- O modo como vocês reagiram só comprova mais! - E além disso, eu quero continuar tendo minha liberdade! A casa de vocês é muito rígida! Eu não posso fazer nada, pois quando faço, eu os decepciono! Na verdade, a minha existência é uma decepção para os dois! Eu... - ele me vê no corredor. - Amaya?! Sinto muito se acordamos você, a partir de agora, falaremos mais baixo!

Sinceramente, não sabia o que falar! Aquela mulher chamou o Nataniel de "meu filho", então, tudo indica que... eles são os pais do Natan... O que eu faço? Ou melhor, falo. Nataniel começa a me olhar de cima à baixo e percebe o meu nervosismo:

- Amaya?
- E-eu não queria escutar! S-sinto muito! - ele olha em meus olhos e começa a rir.
- Você não está atrapalhando em nada, não se preocupe! Você já está melhor? - ele diz pleno.
- Estou, m-muito obrigada pela sua hospitalidade! - falo corada.
- Hospitalidade? - ele dá um sorriso de leve. - Eu recebi muito mais mimos enquanto estava na sua casa!
- Mas é diferente, v-você sempre cuida de mim... - começo a ficar ainda mais envergonhada.
- Mimos... casa... cuidar... - a mãe dele começa a sussurrar - Eu já sei! Você está namorando, não é mesmo, filho? Por isso não quer sair da cidade!
- NÃO ESTAMOS NAMORANDO E NÃO É POR ISSO QUE EU ME RECUSO A IR COM VOCÊS! - ele fala parecendo uma pimenta! (Mas eu não posso criticar) - Esta é minha amiga, estamos na mesma turma...
- Eu sou Amaya Mells, muito prazer - dou um belo sorriso.
- Sou Naila Spencer, a mãe de Nataniel. - ela fala em um tom assustador.
- Eu sou o pai dele, Roberto Spencer. - assim como sua esposa, me encaram feio.
- Nataniel, meu pais me ligaram. - falo baixo.
- E aí? - diz ele curioso.
- Eles falaram que já estão em casa, então eu vou indo! Novamente muito obrigada! - eu continuo.
- Eu te levo! - ele diz sorrindo.
- Não será necessário! E afinal de contas, você tem convidados... - tenho uma leve impressão que os pais de Nataniel me odeiam.
- Eu não os convidei... - ele resmungou emburrado.
- O que? - pergunto.
- Eu quis dizer que eles já estavam de saída! - ele diz rapidamente.
- Estávamos? - ambos dizem confusos.
- Sim, estavam! Agora... vamos! - ele me empurra de leve para eu ir na frente e puxa os braços de seus pais. - Em seguida, ele tranca a porta e vamos para um elevador. Depois de estarmos no andar certo, nós vamos para a portaria.
- Todos já estão indo? - diz o porteiro.
- Sim. Eu irei levar Amaya até a casa dela, e eles... eles já estão indo também. - quando o Nataniel mencionou seus pais, ficou cabisbaixo.
- Meu filho... - o pai de Nataniel fala.
- Peço novamente que não me chame assim...
- Nataniel, por favor, pense em nossa proposta. - disse a Sra. Spencer, e depois de uma pequena pausa, continuou. - Vamos querido. Sinto que não somos bem-vindos neste momento.

| Quebra de tempo |

Depois daquele momento constrangedor, Nataniel me acompanhou até a minha casa, eu bato na porta e espero minha mãe ou meu pai aparecer:

- Amaya? - a porta se abre.
- Mãe! Estava com saudades! - dou um abraço apertado nela.
- Sr. Spencer, obrigada por trazer Amaya até aqui. - minha mãe diz sorrindo.
- Não se preocupe... eu apenas queria ter certeza que ela chegaria bem! - ele retribui o sorriso e desvia levemente o olhar.
- Gostaria de entrar e tomar um chá? - ela pergunta.
- Obrigado pelo convite, mas terei de recusar, Sra. Mells.
- Certo... eu vou deixar a Amaya se despedir de você. Tenha uma boa noite!
- Igualmente. - assim que ele fala, a minha mãe sorri novamente e entra.

Depois que minha mãe entrou, ficamos quietos, até que eu decidi quebrar aquele silêncio, porém, eu não imaginei que Nataniel pensou o mesmo também:

- Nataniel...
- Amaya...

Nós falamos juntos e nos olhamos. Uma coisa que eu sempre quis saber é o porquê sempre que isso acontece o silêncio se intensifica ainda mais, porém não podia ficar quieta, pensando sobre os mistérios da vida, eu precisava falar algo importante para ele:

- Nataniel... eu primeiro... - digo timidamente e ele concorda com a cabeça - Eu preciso te agradecer! Você tem feito tanto por mim, principalmente quando aquelas coisas aconte... - eu sou interrompida.
- Não precisa me agradecer! Você vive fazendo o mesmo por mim... - ele fala e olha no fundo de meus olhos.
- Aqui... - eu pego uma agenda e um lápis na minha bolsa.
- O que você está fazendo? - eu o ignoro e começo a escrever.
- Pegue, caso precise de qualquer coisa... me ligue! - depois de escrever, arranco a folha, lhe entrego e falo morrendo de vergonha.
- O-obrigado - ele parecia estar surpreso.
- Está ficando tarde! Acho melhor você ir... - eu aconselho.
- Eu também acho, boa noite!
- Boa noite! - eu me aproximo rapidamente dele e beijo sua bochecha - Por favor, tome cuidado no caminho!
- E-eu vou tomar... - ele leva sua mão até a bochecha que beijei, depois disso ele dá um sorriso bobo, eu retribuo e entro correndo para o meu quarto, tranco a porta e me jogo na cama.

| Nataniel narrando |

Depois de Amaya ter entrado, eu comecei a andar em direção ao meu apartamento. Durante o caminho, eu ainda estava um pouco incrédulo, eu realmente não esperava aquilo, porém aconteceu, Amaya me beijou! Tudo bem, eu sei que foi em minha bochecha, mas eu estou muito feliz com isso.
Quando cheguei, eu entrei direto e nem percebi que o Sr. Paulo estava falando comigo:

- Sr. Spencer? - ele me chama.
- BAMM! - bato a cara no portão.
- Sr. Spencer, você está bem? - ele arregalou os olhos.
- Ai! - eu resmungo.
- O Sr. se machucou?
- Não, não se preocupe, eu estou bem... - falei meio confuso, ainda não caiu a ficha que eu bati a cara no portão e as câmeras de segurança gravaram.
- Esse seu descuido tem a ver com a proposta que sua mãe, a Sra. Spencer, falou? - o Sr. Paulo pergunta curioso.
- Não. Para ser sincero, nem estou levando em consideração aceitar.
- Mas o que poderia ser tão ruim para você nem pensar nela? - indagou ainda curioso.
- Eu só não quero voltar para a casa deles, pelo menos não depois do que aconteceu... - olho para baixo e me despeço - Boa noite, Sr. Paulo...
- Boa noi... - eu saio antes que ele pudesse terminar de falar.

Depois de falar com o meu porteiro, eu adentro no prédio e pego o elevador até o meu apartamento, chegando nele, eu entro, jogo minhas chaves e casaco no sofá, eu vou para o banheiro, tomo uma ducha, escovo meus dentes, mando algumas mensagens e vou dormir pensando na garota mais incrível que conheço, a Amaya.

Amaya Mells, a guerreira do tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora