Cap. 2 - Emily Bennett

9.4K 572 84
                                    

Pov Lauren Jauregui
Long Beach, Califórnia

Lembro-me da primeira vez que coloquei os olhos em Emily Bennet. A família dela tinha acabado de se mudar para o outro lado da rua. O caminhão de mudança branco ocupou quase metade do nosso quarteirão. Eu estava sentada em meu quarto no segundo andar, espiando pela janela.

A maioria das coisas que os via descarregar parecia com as coisas da minha família... tapetes caros, móveis antigos, toda a porcariada da qual me proibiam de chegar perto. Coisas que pareciam muito chatas para uma menina interssexual de nove anos de idade. Aliás, para qualquer criança de nove anos. Eu estava perdendo rapidamente o interesse em minha espionagem quando um objeto amarelo brilhante chamou minha atenção ao sair do caminhão gigante. Sessenta e seis centímetros de cromo brilhante e tinta amarelo-canário reluzente. Inacreditável. Minha boca encheu de água ao ver a Schwinn Twin Back IV Racer na qual eu estava de olho há dois meses. Não tinha certeza se estava mais animada por ter um menino na vizinhança com quem pudesse brincar ou se por ter a chance de dar uma volta na bicicleta do novo vizinho.

Saí correndo escadaria abaixo, dois degraus de cada vez, escancarei a porta de tela tão rápido que quase arranquei as dobradiças e corri até o outro lado da rua, ignorando completamente os gritos da minha mãe para colocar os sapatos. E as minhas calças. Sim, em meio a toda a minha animação, saí correndo de cueca. Tinha nove anos e a minha mãe ainda me comprava cuecas do Batman. A lembrança de dar de cara com o novo vizinho, para descobrir que o novo menino era uma menina, parece ser coisa de uma vida atrás.

Emily e eu somos inseparáveis desde então. Ela me deixou dar uma volta na Schwinn no primeiro dia em que nos conhecemos, logo depois de eu colocar as calças e minha mãe me obrigar a me apresentar educadamente aos pais de Emily. Um casal legal, porém sério, que parecia muito mais velho e não tão feliz quanto minha mãe e meu pai.

Eu me apaixonei pela Emily antes mesmo de entender o que "se apaixonar" significava.

Quando eu tinha dez anos e meu time perdeu o campeonato de futebol júnior, Emily estava bem ali, com seu uniforme de líder de torcida, falando sem parar como eu quase ganhei o jogo para o time inteiro. E, no ano seguinte, quando meu time ganhou, Emily gritou e torceu mais do que qualquer um. Essa era a Emily: minha maior torcedora, orgulhosa de todos os meus passos e loucamente apaixonada por mim. Como eu poderia não adorar isso?

Mas muita coisa mudou nos últimos anos. A Emily mudou. Às vezes, não consigo reconhecer a Emily da bicicleta Schwinn amarela. Observo aquela mesma garotinha, agora toda crescida, vindo em minha direção enquanto busco em seus olhos um sinal da Emily que ela foi um dia. Fico triste quando não a encontro.

— Está pronta, Batgirl? — Emily volta à nossa mesa do almoço depois de fazer suas rondas sociais diárias. Oito anos depois e ela ainda me tortura por aquele dia. Só que, agora, ela sabe muito bem o que eu tenho por baixo da roupa: cuecas modelo brief cinza-escuro da Calvin Klein. Do tipo que ela gosta de se esfregar com seu corpo seminu algumas vezes na semana, mas que, ainda assim, não me deixa tirar.

— Vá sem mim. Vou conversar com Keana Issartel. Ela é minha parceira no projeto de Inglês.

— Sério, Lauren? De novo? Se eu não soubesse das coisas, começaria a achar que está acontecendo algo entre você e aquela garota esquisita. Ela sabe que Keana e eu somos apenas amigos, não é por isso que está brava de verdade. Todas as suas amigas arrogantes se reúnem no pátio, todos os dias, depois que terminam de comer e seria um escândalo não poder me exibir para lá e para cá. Na maioria dos dias, ela nem quer mais falar comigo, mas continua pendurada em mim como se fôssemos grudadas nos quadris.

— Você não vai nem notar que não estou lá. Eu me levanto e recolho meus livros da mesa, marcando silenciosamente o fim da conversa. Pelo menos para mim.

— Claro que vou e todo mundo também vai notar — ela reclama, tentando alcançar minha mão. E aí está a verdadeira razão da implicância por eu querer trabalhar no projeto de Inglês. A capitã das líderes de torcida tem que ser vista com a capitã do time de futebol.

A Terra pode sair do eixo se tudo na vida de Emily não sair perfeito. Mas sou mestre em consertar meus erros com Emily Bennett, então jogo meus livros ruidosamente em cima da mesa, para ter certeza de que todos os olhares estão em nós. Em seguida, coloco os braços ao redor de sua cintura fina e puxo-a mais para perto, de um jeito que a obriga a levantar a cabeça para olhar para mim. Selando minha boca na dela, dou-lhe um beijo intenso e demorado. Ela fará de conta que está brava com minha manifestação pública de afeto, mas não estará. Emily adora cada maldito segundo de atenção. E quanto mais garotas suspirarem enquanto ela passa, melhor o tratamento que receberei quando encontrá-la de novo depois da escola.
*
*

CAMREN: Peças do Destino (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora