Cap. 20 - Eu Pago o Jantar

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Pov Lauren Jauregui

A poeira cobre as pernas do que um dia foram minhas calças brancas de treino. Já me derrubaram mais na última hora do que nas duas últimas temporadas juntas. Que merda é essa?

Keller estende uma mão enorme para me ajudar a levantar, provavelmente, pela décima vez.

— Lauren, vê se tira essa cabeça da lua ou o treinador vai te deixar no banco.

— Vai se foder! — eu refuto.

Ele sorri, sempre o espertalhão.

— Você é bonita, tem uns peitos legais, mas não é o meu tipo. Gosto de peitões e odeio paus — Ele segura as mãos em forma de cuia no peito, fazendo o sinal universal dos homens para peitos enormes.

— Você é um idiota.

Ele é, mas eu digo brincando, a raiva de ter sido empurrada no chão repetidamente desaparecendo mais fácil do que deveria. Estou fisicamente presente, mas alguma coisa está faltando.

— Não sou eu quem não consegue descobrir como jogar a bola ou sair do caminho de um cara de cem quilos correndo atrás de mim. Seus pés amoleceram ou coisa do tipo? Talvez você precise fazer algumas aulas de balé para eles ficarem fortes de novo... sabe, com as outras garotas.

— Vai se foder! — eu grunho com um sorriso que ele não consegue ver sob o meu capacete, mas que tenho certeza de que sabe que está lá.

— Falando em foder... — Keller se afasta enquanto nos enfileiramos para a formação em T, a cabeça dele indicando algumas garotas na pista correndo o revezamento. Eu olho sem interesse. Até vê-la.

Keller, o líder do bloqueio ofensivo, que me substituiu como quarterback durante a minha ausência, joga a bola na minha mão. Estou completamente despreparada, meus olhos ainda nas pernas de Camila, enquanto os jogadores adversários me batem mais uma vez.

— Ei, quarterback, vai se juntar a nós em algum momento? — o treinador Callihan grita impacientemente na minha direção.

Levantando do chão de novo, cuspo poeira misturada com um pouco de sague do meu lábio que está inchando rapidamente, antes de responder.

— Se eu tivesse um pouco de ajuda da linha de defesa, talvez conseguisse ficar em pé por tempo suficiente para esticar meu braço para atirar a bola. — Sei que colocar a culpa em outra pessoa não vai cair bem com o treinador, mas não estou nem aí.

— Isso acabou de te dar oito voltas com o equipamento completo. O restante de vocês, direto para o chuveiro. Começaremos ainda mais cedo amanhã. Seis horas da manhã. Vocês todos podem agradecer à Srta. Jauregui pelo treino de sábado de manhã antes do amanhecer.

O time reclama, alguns até resmungam entredentes algo sobre eu ser uma idiota, mas ninguém reclama com o treinador. Ninguém é burro a esse ponto. Arrancando o capacete da cabeça, jogo-o no chão, me preparando para as oito voltas como punição por falar demais.

— Espere um pouco, Jauregui. — O treinador Callihan caminha rapidamente em minha direção. — Filha. — Ele coloca uma mão sobre meu ombro coberto pela ombreira. — Sei que você teve um ano difícil, mas este não é um esporte que possa praticar sem estar com a cabeça no jogo. Você pode se machucar. — Ele me olha no olho, esperando alguma coisa, talvez esteja aguardando minha resposta, mas fico com o olhar perdido. Depois de um minuto, o rosto dele muda. Fica claro que alguma coisa o assustou. Ele baixa o tom de voz, de rígido para quase paternal. — Você não está nem aí de se machucar, não é?

                       ****************

Na sétima volta, minhas pernas começam a queimar. Entre ser abatida durante o treino e correr com dez quilos extras de equipamento, sinto dor a cada passada. O time de corrida terminou o treino quinze minutos atrás, não restando nada que tire da minha mente as dores do corpo.

Ao atravessar a linha de chegada para começar minha última volta, ouço o som dos passos atrás de mim antes mesmo de vê-la. Entrando em sincronia com o meu passo lento, Camila diz:

— Quer apostar uma volta, sua molenga?

Meu trote ganha vida.

— Corridas têm vencedores. Vencedores ganham prêmios. O que vamos apostar? — Dou um sorriso diabólico para ela, tentando encobrir o quanto estou exausta.

Camila aperta os lábios enquanto pondera, sem certeza de como responder.

— Que tal se a perdedora comprar o almoço da escola para a ganhadora, na segunda-feira?

— Almoço? Não. Esse prêmio não é grande o bastante. — Meu coração bate um pouco mais rápido. — Jantar.

— Tudo bem, mas vou pedir a coisa mais cara do cardápio.

Camila sai como um morcego do inferno. A garota corre como o vento; ela está meia dúzia de passos à minha frente antes de eu descobrir que já tínhamos começado.

Forçando uma perna na frente da outra, eu me mato para tentar alcançá-la, mas simplesmente não tenho mais forças depois de sete longas voltas. Na metade do percurso, minha ficha cai... por que estou tentando? Se perder, tenho que lhe pagar um jantar. Corro tranquilamente durante a última metade do percurso, apreciando a vista de trás.

Cansada depois de seu tiro com velocidade da luz, Camila se debruça sobre a cintura, as mãos nos quadris.

— Você pelo menos tentou ganhar?

— Não — respondo objetivamente, pegando minha garrafa de água. Espirro metade dentro da boca e o restante em cima da minha cabeça suada. O enchimento e o uniforme, juntamente com a temperatura incomumente alta, me fazem sentir como se tivesse corrido quatro quilômetros dentro de um cobertor elétrico.

— Ganhei a aposta honestamente, mesmo você não tentando ganhar.

— Não sou caloteira. Eu pago o jantar.

A tia de Camila está esperando do outro lado, no estacionamento, então nos despedimos e eu vou em direção aos vestiários. A maioria do time já foi embora quando chego ao chuveiro, exceto Keller, que me esperou sabendo que eu o levaria para casa.

— Você e Camila? — ele questiona enquanto eu me seco.

Sei o que ele está sugerindo, mas faço-o desembuchar mesmo assim. — Eu e Camila o quê?

— Juntas?

— Não. — Minha resposta é curta.

— Ela é muito gostosa. Você viu o traseiro dela naquele short de corrida apertado? — Keller pergunta com um sorrisinho sem-vergonha no rosto. Um sorriso que me faz sentir uma vontade incontrolável de lhe tirar da cara imediatamente.

— Você é um babaca. Sabe disso, não é?

— Sei e você também sabe. Grande coisa. — Ele dá de ombros, sem dar a mínima por ter sido chamado de babaca. Sinceramente, acho que ele usa o título como uma medalha de honra. — Quer dizer então que não se importa se eu convidá-la para o baile?

Meu sangue ferve instantaneamente. Um sentimento de posse, o qual não tenho direito de sentir, toma conta de mim.

— Tanto faz. — Bato a porta do armário.

— Legal. — Keller sai assobiando, desfrutando do fato de ter me irritado.

Não digo mais do que duas palavras no caminho de volta para casa. Me odeio por querer ser eu a convidá-la para o baile.

***

CAMREN: Peças do Destino (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora