Cap. 6 - Não Me Parece a Coisa Certa

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Pov Lauren Jauregui
Long Beach, Califórnia

Depois que Emily me disse que estava pronta no último final de semana, pensei que, talvez, finalmente transar com ela nos aproximaria. Mas, se esta semana é alguma indicação das coisas que estão por vir, estou começando a questionar se dormir com Emily é mesmo uma boa ideia. Seu jeito "mandão" atingiu um novo patamar extremo esta semana. Eu me pergunto, secretamente, se ela acha que consegue se safar de qualquer coisa agora, por estar segurando a iminente cartada do sexo sobre minha cabeça. Ela tem me tratado como a um cachorro com um osso na frente do nariz, mas fora do alcance. Só que logo esse cachorro pode querer mordê-la e sair para encontrar um dono mais legal. Seria muito irônico se, ao final, eu acabasse recusando-a, depois de passar o último ano inteiro quase implorando.

— Tudo bem, tudo bem. Só pare de gritar comigo. Levo você para casa depois do treino e volto para a biblioteca.

— Faz ideia do que parece quando você fica com eles em público? — O jeito que os lábios crispam para cima transforma sua beleza em feiura.

— Faço. Parece que tenho amigos de verdade, amigos que não são mais plastificados que seus cartões de crédito — rebato, minha voz com um desprezo que eu não tento mais esconder.

Com os olhos arregalados, ela tem a audácia de parecer chocada.

— Minhas amigas não são de plástico!

— Tenho que ir para a aula.

Abro a porta que dá para dentro, saindo do pátio agora vazio. Todos já foram e me atrasarei para a aula de Inglês. Seguro a porta aberta e falo sem me virar para encará-la:

— Você vem ou não?

Emily bufa, mas passa pela porta batendo o pé. Imagine só se ela seria vista sozinha no pátio.

                     *****************

Sento-me na aula de Inglês do Sr. Hartley, mas não ouço uma só palavra do que ele diz. Minha cabeça está tão cheia, imaginando onde Emily e eu saímos do curso para acabarmos em lugares tão diferentes. Durante os últimos oito anos, sempre fomos Lauren e Emily. Não acho que um dia cheguei a pensar de verdade em namorar outra pessoa; todo mundo sempre presumiu que acabaríamos juntas, inclusive eu. Mas não tenho certeza se consigo continuar com isso. Em alguns dias, eu mal consigo reconhecer quem ela é; ela mudou tanto. Eu achava que a atitude dela fazia parte da sua insegurança; colocar as pessoas para baixo a fazia sentir-se melhor. Do lado de fora, todos vêem uma garota linda, cheia de confiança, destemida. Só eu sei a verdade. Ela foi criticada durante anos. Quando éramos mais novas, Emily odiava a fixação de sua mãe pelo status social. Lembro-me de uma vez, quando tínhamos onze ou doze anos e fomos de bicicleta até o parque, no dia seguinte a uma forte tempestade. A terra embaixo dos balanços tinha se transformado em lama mole e grossa. Passamos horas correndo uma atrás da outra, atirando bolas de lama até a única parte visível ser o branco dos nossos olhos. Tivemos um dia maravilhoso; nenhuma de nós conseguia parar de sorrir. Até que a Sra. Bennett nos viu. Ela enlouqueceu, preocupada com o que as pessoas pensariam se vissem a filha dela coberta de lama. Durante anos, Emily reclamou da obsessão de sua mãe pela aparência das coisas. Com a aparência dela. E então, pouco a pouco, começou a se transformar exatamente naquilo que desprezava. A criticada se tornou a crítica. Sei que não é totalmente culpa dela. Assim, durante muito tempo, aguentei Emily colocando as pessoas para baixo, com ninguém sendo bom o bastante, pois isso é o que ela sempre conheceu. Mas estou cansada de inventar desculpas sobre quem ela se tornou... de inventar desculpas para mim mesma.

— Você está bem? — Keana me tira do pensamento profundo. Olho em volta, encontrando a classe quase vazia. Acho que não ouvi o sinal tocar.

— Hã... sim. Só estou cansada hoje. O técnico nos deu um treino extra por causa do jogo que está chegando.

CAMREN: Peças do Destino (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora